O novo líder do café – Ex-governador Quércia assume a associação da Alta Mogiana com plano de qualificar o produto

Por: Istoé Dinheiro Por marco damiani


Os ventos estão a favor dos produtores de café – e a tendência é melhorar.
Não apenas por obra da natureza ou em razão da oscilação, para cima, dos preços
internacionais. O fato novo é a união dos produtores de uma das mais
tradicionais regiões cafeicultoras do País. Reunidos à volta da Alta Mogiana
Speciality Coffes (AMSC), um dos objetivos deles é atuar na Bolsa de Mercadorias
de Nova York, na qual são determinados os preços internacionais do produto, para
melhorar a classificação do café brasileiro. Hoje considerado uma commoditie
comum, com valor de mercado inferior ao café produzido na Colômbia ou na
Guatemala, o grão brasileiro tem qualidade suficiente para entrar para a
categoria especial. O jogo político dentro da bolsa, no entanto, rebaixa a
classificação do produto nacional, que passa a valer menos que os concorrentes.

“É uma distorção de muitos anos, que obviamente não pode continuar”, afirma o
presidente da nova associação, ex-governador Orestes Quércia. À frente da
primeira diretoria, ele tomou posse em Pedregulho, sede da agremiação, na
quinta-feira 1. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, participou do
evento afirmando que vai mobilizar os técnicos do governo brasileiro para
abordagens junto à bolsa de Nova York. “Esse apoio é fundamental para reverter
nossa desvantagem no exterior”, aposta Quércia. Hoje, a saca de 60 quilos do
café brasileiro é comercializada no exterior por cerca de US$ 160. Se ganhar o
status de café especial, os produtores brasileiros poderão cobrar acima de US$
200 por saca.

A Alta Mogiana, no interior de São Paulo, produziu este ano 1 milhão de
sacas. Ali, a quase totalidade do café é de qualidade superior. O clima ameno de
altiplano, com baixas temperaturas à noite, faz da região uma das mais propícias
do País para o plantio do café. A maioria dos produtores têm investimentos
consolidados em automação e manejo de safras. A associação surge com a adesão de
16 grandes produtores de 12 municípios, mas deve ganhar novos integrantes em
breve. O Brasil vai fechar 2005 com cerca de 50 milhões de sacas, quase a metade
da produção mundial.

A AMSC já criou um selo de garantia de qualidade para o café especial. Ele só
será concedido mediante a avaliação rigorosa de experimentadores profissionais e
a freqüente verificação das condições de plantio, desenvolvimento e colheita do
grão. Foi estabelecido um código de conduta que deverá ser seguido à risca pelos
interessados na obtenção do selo. Muitos compradores internacionais costumam
visitar a região em busca da compra direta do café. Assim, mesmo que a Bolsa de
Nova York insista em descosiderar a elevação da qualidade do produto brasileira,
vendas com preços melhores poderão ser feitas diretamente no Brasil. O selo de
qualidade, na prática, vai funcionar como um diferencial entre um negócio
razoável e outro excelente. “Ninguém melhor que os bons produtores para
incentivarem os colegas a aprimorarem a qualidade da produção. Quanto melhor
estiver o café da região será melhor para todos aqui”.

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