O novo ciclo do café por Luiz Rafers

18 de abril de 2013 | Sem comentários Mais Café Opinião
Por: Globo Rural

18/04/2013 
  
LUIZ HAFERS é fazendeiro

A atividade de produção de café no Brasil se encontra numa situação preocupante. A alta de preços na década de 1940 precipitou o ciclo paranaense apoiado pela enorme fertilidade de solos. A geada de 18 de junho de 1975 encerrou esse ciclo, iniciando a fase das grandes plantações no sul de Minas e no Cerrado, que contou com financiamentos do Gerca.


A atual queda nos preços aponta para o fim do ciclo do Cerrado e o início do crescimento do conilon/robusta, especialmente no Espírito Santo. No atual nível de preços do café arábica, balizados pelo ICE em Nova York, que caiu de US$ 3 para US$ 1,35 por libra-peso, a sobrevivência de uma parte importante dos produtores está ameaçada.


A cafeicultura nacional é composta por três tipos de produtores: os grandes e mecanizados, especialmente no Cerrado (Minas e Bahia); os médios (Paraná, São Paulo e Minas); e os pequenos sitiantes familiares, espalhados por vários Estados. A parte mais eficiente, o Cerrado mecanizado, demanda menos mão de obra, consegue melhores preços por qualidade e certificação. Portanto, vai resistir. Os médios produtores, porém, estão diante de um impasse. Com o rápido avanço do custo de mão de obra, o trato cultural parcialmente mecanizado tornou-se uma alternativa. Mas a colheita não mecanizada por causa da topografia inviabiliza a atividade.


Os pequenos agricultores, familiares, têm custos de mão de obra menores e impostos mais baixos e contam com um bom horizonte para o aumento de produtividade, por meio do apoio tecnológico dos serviços de extensão e assistência técnica. Os créditos são baratos e disponíveis para o investimento no aumento da produtividade. Já os produtores médios (até 100 hectares) enfrentam uma situação difícil. O nível de tecnologia atual aponta para médias de produção entre 25 e 30 sacos beneficiados por hectare, que nos preços atuais são inviáveis. E a pressão do custo de mão de obra não dá sinais de arrefecer.


Na produção de arábica, a tecnologia atual está esgotada, porém, novas variedades e manejos estão sendo desenvolvidos. A renovação passa pelo envelhecimento dos produtores e o pouco entusiasmo dos sucessores. Podemos prever aumento de produção, via produtividade, nas duas pontas de cafeicultores: grandes e pequenos. Quanto aos médios, sou pessimista.


Com boa tecnologia e perspectivas promissoras de mercado, a produção de conilon/robusta avança especialmente no Espírito Santo, com produtividade ao redor de 30 sacos por hectare. Mas podemos vislumbrar médias de 60 sacos por hectare no prazo de cinco a dez anos. O mercado do conilon/robusta tem a vantagem no preço e na melhoria da qualidade, dois argumentos fortes. O valor do arábica despencou de R$ 500 para R$ 300 o saco. O conilon/robusta segue a R$ 270, aumentando sua participação nos “blends”. A qualidade do conilon melhorou muito e tende a melhorar mais.


A baixa nos preços do arábica nos surpreendeu, a mim principalmente, que sou adepto dos fundamentos de produção, estoque e demanda. Ledo engano. Os fatos foram superados pelas versões e ações de especulações financeiras. A ameaça de aumento de produção no Vietnã e na Indonésia foi subestimada pelos produtores de arábica, que apostaram numa suposta rejeição do consumidor ao sabor diferente do conilon. É imperativo discutir a situação sem conceito, preconceito ou certezas passadas. É o que devemos fazer. 

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