02/09/2013, FAEMG
Quem aprecia o cafezinho quente servido na xícara de cerâmica não imagina o tamanho da cadeia mundial do grão. O Brasil produz um terço do café do planeta ou cerca de 50 milhões de sacas de 60 quilos. Minas Gerais, por sua vez, é o maior estado cafeicultor, com 25,5 milhões de sacas. E é por causa desses números grandiosos que Belo Horizonte vai receber pela primeira vez a Semana Internacional do Café, a partir do dia 9. O evento também vai comemorar o aniversário de meio século da OIC (Organização Internacional do Café). Mas não serão apenas festejos. Entre discursos, concursos, negócios, palestras e degustações, haverá muitos debates relacionados aos rumos da política cafeeira mundial. Vale lembrar que os preços da saca estão em queda, o que configura crise para o setor. A ideia é esquentar as discussões, para melhorar o cenário e o cafeicultor vislumbrar um futuro melhor.
Das cozinhas para o planeta
O famoso cafezinho saiu das cozinhas das famílias brasileiras para fazer parte do cardápio do consumidor que almoça e janta fora do lar. O avanço da bebida é surpreendente no país, que caminha a passos largos para ser o primeiro consumidor mundial do grão. Entre 2004 e 2012, a demanda pelo produto em suas diversas versões cresceu mais de 350% no Brasil. A força motriz tem sido o aumento vigoroso do consumo nos países exportadores e mercados emergentes, onde a própria proliferação das cafeterias é uma mostra do dinamismo do mercado.
“O crescimento do setor pode ser atribuído á demanda cada vez maior nos mercados emergentes, ao consumo interno crescente nos países exportadores e á resiliência do consumo de café á atual crise econômica. No Brasil, o avanço econômico, combinado com melhor distribuição de renda e taxas de desemprego relativamente baixas, tem estimulado o crescimento”, diz Robério Silva, diretor-executivo da OIC.
A bebida de alta qualidade estimula também novos negócios como profissões modernas ligadas ao ramo. Um exemplo são os baristas, experts em servir para o consumidor o melhor do café, obtido por meio de técnicas diferenciadas. No país, 50% da produção de cafés especiais nacionais é de Minas Gerais. O cultivo brasileiro desse tipo de grão representa 15% do total produzido no mundo.
DISPUTA NA DEGUSTAÇÃO
Helga Andrade, diretora de expansão e relacionamento interno com os associados da ACBB (Associação Brasileira de Cafés e Baristas), aponta que a Semana Internacional do Café traz pela primeira vez o Campeonato Brasileiro de Baristas fora de São Paulo. “O barista valoriza todos os elos da cadeia e ajuda a divulgar e valorizar as diversas regiões produtoras”, explica.
O evento vai sediar também o terceiro Campeonato Brasileiro de Preparo de Café que destaca a arte de preparar a bebida pelo método filtrado e manual, além do 6º Campeonato Brasileiro de Prova de Café, competição que consiste em testes triangulares com café. Três xícaras da bebida são preparadas. Duas delas são idênticas e a outra é de um café diferente. O objetivo é que o competidor identifique a bebida diferenciada. A competição testa a habilidade em separar corretamente os cafés.
Debates e comemorações
“As reuniões da OIC (Organização Internacional do Café) vão acontecer no Expominas e farão parte da Semana Internacional do Café, que inclui uma feira internacional do café, a 8ª edição do Espaço Café Brasil. Nas reuniões da OIC também ocorre o 3º Fórum Consultivo sobre Financiamento do Setor Cafeeiro, que produzirá importantes recomendações sobre financiamento e gestão de risco para o setor cafeeiro mundial. Vamos comemorar em Belo Horizonte meio século de existência da OIC. Essa comemoração é fundamental não apenas para celebrar essa data histórica, como também para reunir os membros da organização e oferecer a possibilidade para refletir sobre as conquistas da OIC até agora e sobre o futuro da cooperação internacional em termos de café. O número esperado de participantes é muito significativo, sendo eles cafeicultores e representantes de governos e do setor privado dos 76 países membros da OIC e de agências internacionais.”
Negociações entre produtores e gringos
Entre as grandes atrações da Semana Internacional do Café está rodada de negócios que levará compradores internacionais até os produtores. A expectativa do Sebrae Minas é que a rodada envolvendo 120 cafeicultores do país e 20 compradores, sendo 12 deles internacionais, especialmente dos Estados Unidos, Holanda, Suécia e Austrália, movimente R$ 5 milhões em negócios.
Priscilla Lins, gerente da Unidade de Agronegócio do Sebrae, explica que a escolha dos compradores se dará pelo tradicional cupping (degustação do café). “Produtores de todo o Brasil nos enviaram amostras de seu produto. Foram mais de 200 amostras recebidas. Desse total, 120 serão selecionadas para a rodada de negócios”, explica. Segundo a especialista, entre os estandes que o Sebrae terá na feira, um deles terá exposição de cafés de produtores de Minas e do país. No estado são quatro regiões focadas no grão: Sul de Minas (47%), matas de Minas (30,7%), cerrado mineiro (19%) e Chapada de Minas (3,3%).
Priscilla Lins reforça que hoje conhecer a origem do café, o modo como é produzido e sua história faz parte de um novo modelo de consumo. Com estandes onde montaram cafeterias modelo, o Sebrae também tentará inspirar empreendedores, auxiliando no plano de negócio para quem deseja investir na atividade. “Existe um movimento muito forte chamado de terceira onda. São as ‘tribos’ que compram e consomem o café de origem”, diz.
O campeão
Líder na produção de café no Brasil, responsável por 51,4% da safra nacional, Minas Gerais deve colher em 2013 cerca de 25,5 milhões de sacas, em área plantada de 1,1 milhão de hectares, distribuída por mais de 600 municípios. No estado, 80% dos produtores são de pequeno e De olho na agenda.
Semana Internacional do Café
Local: Expominas (Av. Amazonas, 6.030, Gameleira)
Data: de 9 a 12 de setembro (pavilhão de exposições) e dia 13 (visitas técnicas e regiões produtoras)
8º Espaço Café Brasil: de 9 a 12 de setembro, das 12h ás 20h (feira de negócios e eventos técnicos)
Entrada fraca para produtores rurais com número do cartão do produtor e profissionais do setor com CNPJ, mediante credenciamento antecipado pelo site.
Demais visitantes pagam R$ 20.
Mais informações: www.semanainternacionaldocafe.com.br
Pausa para o café
Do plantio até a venda em cafeterias de cidades como Paris, Londres e Milão, a cadeia do café estará no alvo das discussões de produtores e compradores mundiais do grão que vão se reunir durante a Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte, de 9 a 12 de setembro, no Expominas. Este ano a reunião vai ter caráter histórico, já que comemora o aniversário de 50 anos da OIC (Organização Internacional do Café), entidade que representa 76 países de todo o globo e define políticas para o setor. Belo Horizonte vai sediar debates importantes como as recomendações sobre financiamento e gestão de risco para o segmento cafeeiro mundial e também “cutucar” vespeiros, como a taxação dos países ricos ao café brasileiro.
A escalada tarifária e a manutenção de barreiras ao café industrializado nacional estão entre os fatores que preocupam produtores e terão espaço entre os temas do evento. “As exportações brasileiras de café solúvel têm sido prejudicadas pela escalada tarifária praticada por vários países, principalmente da União Europeia”, alerta Robério Silva, diretor-executivo da OIC.
Segundo o executivo, hoje o café brasileiro é tarifado em 9% na União Europeia, enquanto países beneficiários do SGP (Sistema Geral de Preferência) do bloco europeu pagam tarifas de 5,5%, e países do chamado SGP plus são isentos. “Essa discriminação contra o café brasileiro impede o desenvolvimento do setor, inibe o comércio e distorce os preços no mercado. Isso é uma demonstração clara de que os países desenvolvidos estão tratando de resolver os seus problemas”, aponta Silva.
Minas é o maior produtor mundial do grão, com expertise iniciada no século 19. Assim como o cultivo do grão é histórico, são velhos conhecidos os altos e baixos do mercado, que desde o ciclo do café ameaçam a persistência do produtor mais que a falta de chuva, o excesso de frio ou as pragas modernas. Para especialistas, a carta de alforria para as pressões do mercado, além da revisão da política tarifária, passa pelo marketing. Medidas de divulgação que podem tornar a bebida nacional ainda mais popular e apreciada entre os grandes consumidores mundiais, como os Estados Unidos e o bloco europeu, podem estimular a demanda e dar maior autonomia ao produto nacional.
“O café brasileiro tem altíssima qualidade e depende agora de uma divulgação mais agressiva. A Semana Internacional será um passo para isso”, diz Elmiro Nascimento, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais. Segundo Nascimento, o grande encontro será uma vitrine e um passo em direção á divulgação do grão nacional.
A Semana Internacional do Café é uma realização do governo de Minas – por meio da Seapa (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) em parceria com Faemg, Sebrae, OIC, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério das Relações Exteriores e Café Editora.
Para todos os gostos O Brasil produz diferentes tipos de café, com blends variados – achocolatados, bebidas mais suaves, ácidas –, capazes de agradar consumidores de todo o mundo. Breno Mesquita, produtor de café em Minas Gerais e presidente das Comissões do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e FAEMG, diz que o produto nacional precisa de maior divulgação na cadeia, fazendo com que o consumidor conheça e possa assim escolher o café brasileiro. Ele lembra que, enquanto o café colombiano, por exemplo, investia cerca de US$ 50 milhões ao ano em divulgação, o orçamento brasileiro era 10 vezes menor, US$ 5 milhões ao ano. Ele aponta também os novos mercados que estão se abrindo para o café brasileiro, como o Leste europeu, outro caminho para somar contra a derrubada dos preços.
Para ter ideia, o grão que há dois anos chegou a ser comercializado por R$ 520 (saca de 60 quilos), na média do país, agora é vendido por R$ 280 (na mesma medida). “Esse valor atual não cobre o custo da produção, próximo a R$ 340 por saca de 60 quilos”, destaca Mesquita.
In loco
Viagens para os destinos produtores vão fazer parte da vasta programação da Semana Internacional do Café. Segundo o secretário da Agricultura, Elmiro Nascimento, os compradores serão levados ás fazendas produtoras onde poderão conhecer o meio de produção. A primeira a receber a visita será a Fazenda Samambaia, em Santo Antônio do Amparo, no Centro-Oeste do estado.