O ministro e o jatinho de US$ 7 milhões – Correio Braziliense faz denuncia contra Wagner Rossi

Wagner Rossi fez viagens particulares em aeronave emprestada por empresa de agronegócio que cresceu 81% depois de ser beneficiada pela pasta

Publicação: 16/08/2011 02:00

O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e um de seus cinco filhos, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), utilizam um jatinho pertencente à Ourofino Agronegócios para viagens particulares. A empresa de Ribeirão Preto (SP) — cidade onde mora o ministro e a família — tem recebido autorizações do governo no ramo de patentes e registrou crescimento de 81% devido à inserção da firma na campanha de vacinação da pasta contra a febre aftosa, iniciada em novembro passado. Em outubro, Rossi liberou a Ourofino para comercializar a vacina, tornando a companhia pioneira no setor, um mercado que movimenta R$ 1 bilhão ao ano e, até então, dominado por firmas estrangeiras.


O trânsito de Rossi e de seu filho no jato da empresa é conhecido no Aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto. Funcionários relatam que o ministro e o deputado estadual sempre são vistos desembarcando do Embraer modelo Phenom, avaliado em US$ 7 milhões.


Um dos sócios do Grupo Ourofino é Ricardo Saud, assessor especial do ministro. Amigo pessoal de Rossi, o mineiro de Uberaba é diretor da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura. O nome de Saud consta na certidão de fundação da Ethika Suplementos e Bem Estar, subsidiária do Grupo Ourofino, como sócio responsável por “agir de forma a legalizar a sociedade junto aos órgãos municipais, estaduais, federais e autarquias” e para atuar “junto à Universidade de Uberaba, para representação dos interesses e do objeto social da Ethika”. Registro na Junta Comercial de Minas Gerais datado de 10 de fevereiro de 2009 atribui a Saud 15% da subsidiária da Ourofino Agronegócios.


Em setembro de 2007, à época em que era secretário de Desenvolvimento Econômico em Uberaba, Saud autorizou doação de terreno de 226 mil metros quadrados para a Ourofino instalar unidade industrial. De acordo com despacho municipal assinado por Saud, a Ourofino também foi beneficiada com isenção de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) por 10 anos.


Amigo pessoal do ministro, Saud é conhecido em Minas Gerais por sua polivalência. Ele atua na área da educação, como diretor de Marketing da Universidade de Uberaba (Uniube), é presidente do PP no município e cônsul honorário do Paraguai por Minas Gerais. As ligações do assessor especial do Ministério da Agricultura com o país vizinho passam pela Goya Agropecuária, empresa da qual também é sócio. A secretaria em que Saud atua no ministério é responsável por elaborar políticas e liberar recursos para cooperativas agrícolas. Durante sua gestão no ministério, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, da qual a Goya participa por meio de concursos de gado da raça Nelore Mocho, foi beneficiada com R$ 900 mil em convênios com a pasta da Agricultura.


A proximidade entre a família de Rossi e a empresa do agronegócio se repete em outros campos. Vídeos institucionais da Ourofino são realizados pela empresa A Ilha Produções, que atualmente está em nome de Paulo Luciano Tenuto Rossi, filho do ministro, e Vanessa da Cunha Rossi, mulher de Baleia Rossi. O deputado estadual, por sua vez, foi contemplado com doação de campanha no valor de R$ 100 mil, transferidos pela Ourofino.


Em resposta ao Correio, a assessoria do Ministério da Agricultura informou que “o ministro já viajou em avião de propriedade da Ourofino”. O deputado Baleia Rossi também “confirma que já viajou no avião da Ourofino” e que a empresa “fez doações à sua campanha, devidamente registradas junto ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo”. Já Ricardo Saud afirma que não é mais sócio da subsidiária do grupo, pois o negócio não se viabilizou. A Ourofino diz que o assessor especial do ministro não continuou na ficha societária da firma, pois sua participação “não foi finalizada por falta de recursos por parte do senhor Ricardo”.


Por meio de sua assessoria, a Ourofino acrescenta que a prefeitura de Uberaba ofereceu o terreno como forma de incentivo, mas a doação foi rejeitada: “A necessidade de uma escritura imediata para conseguir financiamento fez com que a Ourofino declinasse da oferta e comprasse o terreno por meios próprios”. A empresa confirma os empréstimos do jatinho e diz que a aeronave é cedida “para amigos pessoais e colaboradores”.


Novo secretário executivo
O assessor especial do Ministério da Agricultura José Gerardo Fontelles ocupará o cargo de secretário executivo da pasta no lugar de Milton Ortolan. A nomeação de Fontelles, que é engenheiro agrônomo, deve ser publicada na edição de hoje do Diário Oficial. O engenheiro já ocupou o posto interinamente por duas vezes. Desde o último dia 6, o ministério estava sem secretário executivo, pois Ortolan deixou o cargo após denúncias de envolvimento com o lobista Júlio Fróes.


 


Veja abaixo a resposta do Ministro Wagner Rossi


Nota à imprensa 


 
Brasília (16/08/2011) – Sobre a reportagem “O ministro e o jatinho de US$ 7 milhões”, publicado nesta terça-feira, 16 de julho, pelo Correio Braziliense, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi, esclarece:


“O processo de autorização para a empresa Ourofino Agronegócios pudesse produzir o medicamento Ourovac Aftosa iniciou-se no Ministério da Agricultura em setembro de 2006.


Antes, portanto, da minha gestão à frente da pasta e de minha participação no governo.


Ao longo de quatro anos, os procedimentos técnicos que culminaram na autorização para fabricação da produto veterinário foram cumpridos rigorosamente.


A aprovação, liberação e licença para abertura da fábrica, por exemplo, ocorreram em março de 2009. Nessa ocasião, eu não era ministro da Agricultura.
  
E, diferentemente do que insinua a reportagem, a Ourofino não foi a única a receber tal autorização.


Também a Inova Biotecnologia (MG) recebeu licença do governo, em outubro de 2010, para fabricar a Aftomune, como é chamada a vacina contra a febre aftosa daquela empresa. No mesmo período em que a Ourofino foi licenciada.


Até 2009, apenas seis empresas, sendo cinco multinacionais, tinham autorização do governo para produzir e comercializar a vacina contra a febre aftosa no Brasil.


Empresas nacionais, como a Ourofino e a Inova, conseguiram o status oficial para a produção do medicamento veterinário. A decisão, técnica, teve como objetivo abrir o mercado.


Além dessas duas, também a empresa argentina Biogenesis obteve, em 2009, autorização para a produção da vacina.


As três empresas têm reputação no mercado e cumpriram todos os pré-requisitos, sem privilégios ou tratamento especial.


Por último, informo que, em raras ocasiões, utilizei como carona o avião citado na reportagem.


Brasília, 16 de abril de 2011


Wagner Rossi
Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”

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