O mercado de cafés especiais deve colher 1 milhão de sacas este ano

10 de fevereiro de 2006 | Sem comentários Cafés Especiais Produção
Por: Estado de Minas








“Quanto mais se
vira o café no terreiro, no mínimo 15 vezes por dia, melhor a
qualidade”
Graziela Reis
O
mercado de cafés especiais
deve colher 1 milhão de sacas este ano, contra 800 mil em 2005. O crescimento é
de 25%. Os números ainda são considerados tímidos pelo novo presidente da
Associação Brasileira de Cafés Especiais (Brazil Specialty Coffee Association –
BSCA), Alexandre Frossard Nogueira. O administrador de empresas, que nasceu em
Belo Horizonte e tem 37 anos, acredita que o mercado ainda promete muito.
Afinal, não é por pouco que esse café é chamado de especial. A prova está em
seu valor. A cotação chega a superar de 30% a 100% o preço de uma saca do grão
comercial.

Quais foram as principais conquistas da BSCA em 15 anos de
atuação e o que o senhor prevê para os próximos dois anos?

Antes de falar
em conquistas, é muito importante enxergar como estava há sete ou 10 anos.
Saímos de um mercado que ignorava o fato de o Brasil poder oferecer um
café fino, de qualidade.
Saímos de um ponto zero. Até um ponto negativo, de menos dois. E hoje, 15 anos
depois, o Brasil tem o reconhecimento internacional como fornecedor de
qualidade.

Hoje são apenas 52 os associados da BSCA? Pretende promover a
expansão da associação?

Temos a expectativa de crescer de forma
controlada e progressiva. Não temos o objetivo de abrir a associação para todos,
de forma indiscriminada. O produtor que preencher os quesitos determinados pelo
nosso código de conduta, que é uma norma com 165 itens, auditada anualmente por
uma empresa independente suíça, a SGS, estará apto a integrar o quadro de
associados.

O que é preciso para se tornar um produtor de café especial?

Cumprindo esses 165
itens, o produtor estará de acordo com as normas ambientais e sociais nos
mercados mais exigentes. Inclusive no que se refere a segurança alimentar. A
partir daí, ele tem que ter seu processo de produção e secagem de café e seguir os cuidados necessários para
que o produto tenha a qualidade que vai ser determinada, depois de todo o
processo, na prova feita por provadores especializados. Isso consiste em iniciar
um processo de lavagem e secagem do café logo após a colheita, não deixando o
grão esperando na lavoura, o que pode dar uma fermentação. Manter os
equipamentos higienizados. Ter controle de processos de qualidade. A seleção de
grãos deve ser feita desde a colheita, selecionando o verde, o cereja e o seco.
Na hora da colheita, o estágio de maturação dos grãos também é determinante para
a qualidade. Algumas máquinas vão separar esses grãos. A secagem tem que ser
lenta e gradual. Vários estudos já mostraram que, quanto mais se vira o
café no terreiro, no mínimo
15 vezes por dia, melhor a qualidade. Isso tudo são detalhes que são seguidos
por vários produtores, mas isso tem que ser feito em uma forma de procedimento.
É um código que esse produtor vai estar seguindo que garantirá o aumento de
qualidade de seus lotes. No fim de tudo isso, ele vai provar lote por lote e
determinar aqueles que são especiais ou não. E, para isso, tem que ter uma nota
mínima de 80 na avaliação sensorial, na prova de xícara.

Qual a variedade
mais indicada ao café
especial?

Hoje, o bourbon é a variedade que mais tem sido notada de alta
qualidade. Isso não diminui a qualidade de outras variedades. Temos também o
icatu, o mundo novo, o catuaí. São todas variedades arábicas, que devem ser
plantadas em uma região adequada, no microclima propício, em altitude ideal
também. E, se são bem conduzidas depois da colheita, têm tudo para apresentar
alta qualidade. Mas, no caso da BSCA, nada disso vale sem a certificação que
garante as práticas corretas.

A cotação desse tipo de café é, no mínimo, de 30% a 35% superior à
convencional. O custo de produção também é mais alto nessa
proporção?

Não. O custo de produção é um pouco mais alto por causa dos
maiores cuidados e da maior segmentação. É um pouco mais de infra-estrutura, de
mão-de-obra. São detalhes. E obviamente tem que ser uma lavoura bem nutrida e
uma colheita bem feita.

O faturamento dos associados deve passar dos R$
20 milhões para os R$ 80 milhões este ano. O que vai motivar tamanho
crescimento?

Estimamos alcançar essas esferas. O que motiva isso: em
primeiro lugar é uma safra maior, que vai sair de 800 mil para 1 milhão só de
café especial. Em segundo
lugar: os preços estão em patamares superiores aos do ano
passado.

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