Mais uma oportunidade para a compra de proteção contra a safra 22/23 e 23/24 passou e poucos produtores souberam tirar proveito.
A semana começou animada com o Março-22 chegando a subir +1.000 pontos nos dois primeiros dias da semana. Após atingir a máxima dos últimos 10 anos @ 252,35 centavos de dólar por libra peso, ordens de venda foram acionadas e o mercado chegou a cair -1.200 pontos já na própria terça-feira. Infelizmente, para tristeza dos produtores, o Março-22 terminou a semana @ 232,60 centavos de dólar por libra-peso (praticamente uma queda de -2.000 pontos entre a máxima da semana/últimos 10 anos na terça-feira e -1.000 pontos com base no fechamento da semana anterior).
Mais uma oportunidade para a compra de proteção contra a safra 22/23 e 23/24 passou e poucos produtores souberam tirar proveito. Produtor com disciplina, com políticas de hedge claras não quebra (tanto comprando seguro contra alta para os que já fizeram “travas” para as próximas safras quanto seguro contra a baixa para os que preferem ter “o direito mas não a obrigação” para vender no preço do seguro contratado e seguir aguardando por preços mais elevados)!
Na terça-feira, enquanto o Março-22 trabalhava acima dos +250 centavos de dólar por libra-peso e o Set-22 trabalhava acima dos +245 centavos de dólar por libra-peso foi possível realizar a compra do seguro contra baixa para entrega do café entre junho-setembro-22. Contra o contrato do Set-22 em Nova Iorque, o mercado deu oportunidade para o produtor comprar a “Put-Spread*”, strike +240 / -200 pagando aproximadamente 24 US$/saca (aproximadamente +130 R$/saca) e garantindo um preço mínimo próximo dos 270 US$/saca (aproximadamente +1.500 R$/saca). Foi o melhor momento do ano até agora! A compra desse seguro permitia o produtor seguir participando na alta, e garantindo o preço mínimo acima (desde que o Set-22 termine acima dos +200 centavos de dólar por libra-peso no dia do vencimento das opções). Apesar de seguirmos positivos para o médio prazo (com nosso objetivo acima dos +280 centavos de dólar por libra-peso) o mercado continua soberano e precifica “coisas” que não enxergamos! A queda da semana foi apenas “liquidação dos fundos” e “realização de lucros / rebalanceamento das posições”? Será que já tem gente apostando em uma queda/estagnação no consumo em função dos aumentos dos preços na ponta consumidora?
Como falamos aqui, apenas uma eventual redução no consumo mundial durante os próximos 24 meses levará a uma recuperação no índice “estoque x consumo” para “níveis aceitáveis” acima dos +15% (podendo dessa forma evitar novas altas nas cotações). Com a inflação global e redução no poder de compra do consumidor acreditamos que o consumo mundial no mercado de café também será impactado e o crescimento estimado pela OIC* em +2,00% ao ano não ocorrerá. Os preços já começaram a ser repassados para o consumidor final praticamente em todos os mercados.
Se o consumo ficar estável durante o ano safra 21/22 e 22/23 em +170 milhões de sacas o índice acima só voltará a trabalhar acima dos 10% a partir da safra 23/24 (salvo se as safras brasileiras projetadas pelas “grandes casas” em +56,00 milhões de sacas para a safra 21/22 e +64 milhões de sacas para a safra 22/23 estiveram corretas). Ai sim o mercado poderá derreter!
Do lado fundamental nada mudou! O Brasil teve sim uma safra 21/22 reduzida (números oficiais ainda guardados a sete-chaves). A safra 22/23 será uma surpresa! As exportações brasileiras na safra 21/22 deverão ficar abaixo dos 25 milhões de sacas!
Mesmos com as chuvas torrenciais que castigaram o sul do estado da Bahia e as regiões do nordeste do estado de Minas Gerais e o norte do estado do Espírito Santo durante a semana o mercado realizou (algumas regiões chegaram a receber mais de 300 mm de chuvas em 24 hrs). Os estados da Bahia e Espirito Santo são os principais estados produtores do café tipo robusta no Brasil, e muitas lavouras foram afetadas. Nas últimas semanas algumas regiões foram castigadas por chuvas de granizo e agora o excesso de águas! Os danos continuam sendo levantados e só saberemos dados mais concretos referente aos prejuízos nas próximas semanas.
O Real voltou a oscilar entre 5,54 e 5,67 R$/US$ terminando a semana @ 5,6140 R$/US$. O medo da inflação voltou a atacar os mercados com o Banco Central do Brasil elevando a taxa interna de redesconto para 9,25% ao ano e previsões para novo aumento na próxima reunião em fev-22 podendo atingir os 10,75% ao ano. Alguns analistas já estimam que em 2022 a taxa Selic poderá atingir 14%.
Nos EUA o índice de preços ao consumidor aumentou no mês de novembro-22 e durante os últimos 12 meses atingiu +6,8% – a maior alta desde 1982! Com receio do FED* ser obrigado a aumentar os juros já no início do próximo ano os mercados financeiros já começaram a precificar o provável aumento dos juros americanos. O US$ já começou a valorizar frente as demais moedas mundiais. Nos últimos 12 meses, nos EUA, a gasolina subiu +58,10%, carros usados +31,40%, gás natural +25,1-0%, carne/pescados e ovos +12,80%… Ou seja, os aumentos estão ocorrendo em todos os mercados e em praticamente em todos os setores da economia.
As exportações do Brasil durante o mês de novembro foram finalizadas em 2.930.124 sacas x 4.770.226 sacas em novembro-20 (segundo a Cecafe*). Uma redução em -38,47%. Entre julho-21 até novembro-21 o Brasil exportou apenas 15.261.575 sacas x 20.322.278 sacas em igual período de 2020. Praticamente o Brasil deixou de exportar -5,0 milhões de sacas!
Dependendo do tamanho da safra 21/22 (a última previsão da Conab* indicava uma safra em +46,90 milhões de sacas) e do consumo interno brasileiro para o ano safra julho-21/junho-22 o mês de dezembro-21 deverá ser o último mês com exportações brasileiras acima dos 2,0 milhões de sacas. Segundo nossas projeções, o Brasil ainda tem disponível para exportar apenas 8,90 milhões de sacas entre dez-21/junho-22. Mais do que isso, apenas se começar a “brota café escondido / não contabilizado” nos estoques oficiais! O tempo dirá quem está certo e quais estatísticas são/serão confiáveis daqui pra frente…
Infelizmente a Conab* até agora não publicou os estoques de passagem referente a safra 20/21 para a safra 21/22. O consumo interno brasileiro continua sendo desconhecido. Alguns falam em consumo interno ao redor dos +23,50 milhões de sacas e outros em +21,50 milhões de sacas. Independente do consumo interno, qualquer saldo adicional deverá ser exportado com as exportações podendo então ultrapassar os 10 milhões de sacas (afinal são vasos comunicantes). O Brasil deverá terminar a safra 21/22 com estoque de passagem novamente bem reduzido (estoques suficientes apenas para abastecer sua necessidade interna por 2-3 meses e 1-2 meses apenas referente aos compromissos de exportação – entre 5-8 milhões de sacas).
Conab* – qual o estoque de passagem no Brasil no dia 30 de junho de 2021? O mundo quer saber!!
Com os problemas da seca prolongada, das geadas ocorridas no inverno 21, e com as chuvas recentes a Associação dos Produtores do Brasil – Sincal – publicou sua primeira estimativa para a safra 22/23 entre 36,30 a 39 milhões de sacas (sendo 15,00 milhões de sacas para o café tipo robusta e entre 21,30-24,00 milhões de sacas para o café tipo arábica). A Sincal* possui membros em todas as regiões produtoras e o levantamento foi realizado com base nos números e projeções apontadas por seus associados.
Para a safra 22/23 essa foi a pior previsão já apontada no mercado até então. Por enquanto, segundo nossos controles, as estimativas para a próxima safra brasileira estão oscilando entre +39,00 / + 66,15 milhões de sacas! Praticamente um “Vietnam” de diferença.
Segundo os levantamentos, não só da Sincal* mas também de muitos produtores com quem conversamos, a florada realmente não vingou e a próxima safra 22/23 vai decepcionar muita gente. Se a Sincal* estiver correta, os preços vão explodir… Se o Rabobank estiver correto (e o consumo mundial crescer menos que o esperado) então os preços deverão cair – e muito (segundo a previsão do próprio Rabobank, os preços para o segundo semestre de 2022 deverão ficar na média ao redor dos 1,66 centavos de dólar por libra-peso).
Nossa visão com relação ao índice “estoque x consumo” para os próximos 2 anos não mudou. Continua abaixo dos 15% para o final da safra 21/22 e abaixo dos 10% para a safra 22/23 (salvo se ocorrer uma redução drástica no consumo mundial em aproximadamente -5 milhões de sacas por ano nos 2 próximos anos e/ou uma explosão na produção global, principalmente no Brasil – o que consideramos pouco provável).
Segundo a última publicação do CFTC*, a posição dos “fundos+especuladores” teve uma redução em -865 lotes e seguem comprados em +49,945 lotes!
Seguimos positivos para o médio prazo com os preços podendo ultrapassar os +280 centavos de dólar por libra-peso!
Como esperado o mercado voltou a realizar (movimento saudável – afinal nenhum mercado sobe apenas em linha reta). O indicador “Estocástico” segue indicando “venda” mas já está entrando em território “sobre-vendido”.
Próximos suportes no Março-22 @ 230/228/225/217 centavos de dólar por libra-peso e resistências @ 245/247/252,50 centavos de dólar por libra-peso.
Recomendações:
– para as safras 22/23, 23/24 e 24/25: Vendas novas contra a tela do Set-22, Set-23 e Set-24 negociando um desconto máximo contra a tela de NY em -35/-40 pontos e procurando travar os preços em US$/saca.
Se forem travar em R$/saca cotem antes o valor futuro do câmbio com seus bancos para não serem lesados nas cotações e deixarem “gordura” na mesa.
– Travando em R$/saca comprem proteção, as opções de compra “CALL*” para terem o seguro contra novas altas, eventual quebra de safra com ou sem geadas contra os respectivos vencimentos durante os próximos 3 anos!
Ótima semana a todos!
Marcelo Fraga Moreira*
*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.