O livro “São Paulo – Memória e Sabor” de Rosa Belluzo, desvenda a culinária dos engenhos e das Fazendas de café

1 de março de 2009 | Sem comentários Especiais Mais Café
Por: 01/03/2009 05:03:16 - Jornal da Cidade - Bauru











Fazendas de café
O livro “São Paulo – Memória e Sabor”, de Rosa Belluzo, para a Editora Unesp, desvenda a culinária dos engenhos e cafezais
Eliane Barbosa
Rosa Beluzzo lembra que “reviver a variedade de sabores e aromas da tradicional cozinha de São Paulo significa valorizar a compreensão da história do cotidiano das famílias paulistas”. Na primeira matéria sobre seu mais recente livro, “São Paulo – Memória e Sabor”, publicada em 15 de fevereiro, abordamos a culinária sertaneja. Ou seja, o que comiam os índios, bandeirantes, tropeiros e os colonizadores portugueses. Gente que se adaptava ao que a terra dava e ao que traziam do além mar.

Tudo mudou com as primeiras famílias assentadas que inauguraram um novo ciclo em São Paulo. Os canaviais avançaram pelo Interior com a vinda da família real e, a partir de 1760, a cultura cafeeeira expandiu-se pelo Vale do Paraíba, complementando-se às roças de feijão, arroz, farinha de mandioca, milho, açúcar e à produção de aguardente e à criação de porcos.

Mineradores endinheirados (vindos de Minas Gerais), tropeiros e comerciantes compraram terras, abriram veredas e formaram extensas fazendas de café.

Uma onda verde acompanhada de uma onde negra de escravos. Enquanto os homens partiam para a lida diária, as mulheres serviam nas casas grandes. Além de limpar, lavar e fazer o chão brilhar, se encarregavam da comida, sob a supervisão de exigentes sinhás.

C. Lemos, autor de “Cozinhas”(Edusp), lembra que as fazendas eram o mundo das sinhás. “Quanta fazendeira rica não ficava de chinelas perambulando pelos casarões enormes (….) sendo aquele o seu mundo, a sua civilização, o seu reino de fogões fumarentos, de despesas repletas de “quitandas” e de caixas de marmeladas, pessegadas e marmeladas”.

O fogão à lenha no Oeste Paulista

A cultura do café introduziu o fogão à lenha, em detrimento do rústico fogão de chão, herança indígena do fogo de tucuruva. As panelas de barro foram substituídas por tachos e caldeirõesde cobre ou de ferro, e as cuias, pelos pratos de estanho ou ágata. Também introduziram o almofariz para triturar ervas e o pilão para socar farinha, café e arroz.

A comida escrava

Os pobres escravos tinham acesso a uma alimentação deficiente em proteínas (angu de milho, feijão com toucinho e melado). Raramente carne (de porco e apenas aos domingos) o que os levava a caçar animais silvestres.

Mas nas casas grandes a cozinha era farta, hábito mantido até hoje em muitas propriedades. Rosa lembra que “A região do Vale do Paraíba ainda hoje mantém a tradição da mesa farta e das especialidades culinárias dos velhos tempos: a paçoca de carne de panela ou de carne-seca, o afogado, a canjiquinha com costelinha de porco, a leitoa pururuca, o pernil, a galinha ao molho pardo, a iça torrada, o arroz com suã, o cozido ou panelada de carne de porco e de vaca com abóbora e batata, acompanhada de pirão de farinha de mandioca.

Os peixes na Quaresma

“O rio Paraíba oferece uma variedade de peixes consumidos em geral na Quaresma. Bons exemplos de preparo são o peixe frito ou ensopado e o tradicional bolinho caipira, cuja massa é composta de milho, recheado com peixe”. Os doces e as quitandas foram mantidos, incluindo os de preparo caseiro, como o furrundum (cidra e mamão ralados, adoçados com rapadura, o pão-de-ló, a paçoca de amendoim, doces em calda, brevidades, rosquinhas, o mamão em pedaços, a broinha, o pudim e a taiada (composta de melado de cana, farinha de mandioca e gengibre ralado) que tem o mesmo formato da rapadura.



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As vendas da Capital

As plantações de café foram se expandindo para outras regiões do Estado, incluindo Campinas e Ribeirão Preto. O avanço da cultura cafeeira permitiu o enriquecimento dos barões do café. São Paulo entrou em ebulição no fim da década de 1860, com a criação da primeira estrada de ferro, em 1867, a São Paulo Railway, ligando a capital a Jundiaí.

Campinas se desenvolveu, concentrando uma nova camada dominante e recebeu duas ferrovias: a Mogiana e a Sorocabana. Com o advento das ferrovias ( o Governo Imperial também concluiu a estrada de ferro que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro), os deslocamentos tornaram-se mais rápidos e mais eficientes e os barões do café e suas famílias mudaram-se para a metrópole.

Moravam na Capital e tinham suas fazendas no Interior. No inverno, fugiam do frio e da umidade paulistana se refugiando em suas propriedades rurais.

São Paulo prosperou com o aumento das exportações. Foi inaugurado o jardim da Luz e fundada a Academia de Direito no largo de São Francisco. Os estudantes procuram cafés e restaurantes para se alimentar e as quitandeiras de rua.

Os escravos, na década de 1860, foram libertados e passaram a conviver com outros homens livres e humildes: tropeiros, vendeiros, lavradores, enquanto as famílias patriarcais viviam retiradas em seus sobrados.

A ida dos fazendeiros para São Paulo causou um aumento demográfico. Novos bairros se abriram, chácaras foram loteadas, foi inaugurada a primeira linha de bonde e cresceu o abastecimento de gêneros alimentícios.

Secos & molhados

“A cozinha passou a integrar o corpo da casa, recebeu janelas e foi munida com fogão à lenha, construído com tijolos importados, acionado com carvão ou coque; instalou-se uma chaminé para escoar a fumaça”, narra Rosa.

Multiplicaram-se os “secos e molhados” e vendedores ambulantes iniciaram a venda de pães, carne e leite em carrocinhas puxadas por muares. Para a burguesia foram instaladas lojas de produtos importados, enquanto que as quituteiras vendiam nas ruas empadas, fatias de cuscuz, pé-de-moleque, bolos de milho verde e pamonha.



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FEIJÃO TROPEIRO

Ingredientes:

500 g de feijão carioquinha

250 g de toucinho em cubinhos

1 cebola picada

2 dentes de alho amassados

sal a gosto

½ xícara (chá) de farinha de mandioca

1 pimenta dedo-de-moça, sem sementes, picada (opcional)

½ xícara (chá) de salsinha e cebolinha picadas


Preparo: Colocar o feijão em uma panela e cobrir com água. Levar ao fogo para cozinhar até que os grãos estejam macios e inteiros. Escorrer o caldo e reservar o feijão. Dourar o toucinho em uma panela com uma colher (sopa) de óleo). Retirar o toucinho com uma escumadeira e secar em papel toalha. Na mesma gordura que ficou na panela, refogar a cebola e o alho. Acrescentar o feijão, o toucinho frito, temperar com sal e pimenta. Misturar tudo muito bem e juntar a farinha de mandioca aos poucos. Na hora de servir salpicar salsinha e a cebolinha. Servir com costelinha de porco, lingüiça e ovos fritos.


GALINHADA

Ingredientes:

1 galinha caipira cortada na junta

1 cebola em cubinhos

1 dente de alho picadinho

2 ½ xícaras (chá) de arroz

3 tomates sem pele e sem sementes em cubinhos

Sal a gosto

5 xícaras (chá) de água

3 colheres (sopa) de salsinha picada

óleo


Preparo: Limpar a galinha com limão e temperar com sal. Levar ao fogo uma panela com óleo, dourar a cebola e o alho. Acrescentar os pedaços de galinha e fritar até ficarem douradas. Juntar o arroz, colocar os tomates picados e deixar cozinhar por uns minutos. Acertar o sal.
Adicionar a água fervente até cobrir o arroz. Cozinhar com a panela tampada por cerca de 30 minutos ou até que o arroz e a galinha estejam cozidos. Se necessário, complementar com mais água. Na hora de servir, salpicar com salsinha.


TIGELADA DE CHUCHU

Ingredientes:

6 chuchus maduros

1 colher (chá) de sal

1 cebola média picada

2 dentes de alho espremidos

3 gemas

3 claras batidas em neve

3 colheres (sopa) de far. de trigo

1 ½ xícara (chá) de leite

2 colheres (sopa) de queijo meia-cura ou parmesão ralado

sal a gosto

3 colheres de (sopa) de salsinha

óleo vegetal para untar e farinha de rosca para polvilhar a forma


Preparo: Preaquecer o forno a 180ºC. Descascar os chuchus e tirar o miolo. Cortar ao meio no sentido do comprimento e cozinhar em água e sal. Amassar a polpa do chuchu com um garfo deixando escorrer toda a água. Colocar em uma tigela e misturar os demais ingredientes. Bater as claras em neve e acrescentar delicadamente à massa. Untar um refratário ou uma forma para bolo com óleo e polvilhar com farinha de rosca. Levar ao forno para assar por 40 minutos.


BOLINHO DE ARROZ

Ingredientes:

4 xícaras (chá) de arroz branco cozido

2 ovos

1 colher (sopa) de farinha de trigo

1 colher (chá) de fermento em pó

4 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado

Sal e pimenta do reino a gosto

3 colheres (sopa) de salsinha picada

Óleo para fritar


Preparo: Em uma tigela funda colocar o arroz e misturar os ovos batidos. Juntar os demais ingredientes e misturar bem. Aquecer o óleo em uma panela. Com o auxílio de duas colheres de sopa, pegar pequenas porções da massa, formatar os bolinhos e fritar em óleo bem quente. Se preferir, enrolar com as mãos untadas de óleo. Retirar com uma escumadeira e colocar sobre papel toalha.



AFOGADO DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA

Ingredientes:

200 g de toucinho defumado em cubinhos

1 cebola grande em cubinhos

2 dentes de alho picadinhos

1 pimentão vermelho em cubinhos

4 tomates, sem pele e sem, sementes, em cubinhos

1 ½ kg de mandioca cortada em cubos de 2 cm

12 xícaras de água fervente

1 folha de louro

sal e pimenta-do-reino a gosto

½ xícara (chá) de ervas picadas: folhas de hortelã, manjericão, salsinha e cebolinha

3 xícaras de farinha de mandioca crua

Óleo vegetal

Banana cozida

Molho de pimenta-vermelha para servir


Preparo: Preparar o afogado na véspera de servir. Levar uma panela (grande) ao fogo com um pouco de óleo e dourar ligeiramente o toucinho. Juntar a cebola, o alho, o pimentão e o tomate até murchar. Acrescentar a carne deixar dourar. Adicionar a água, o louro, o sal e a pimenta. Cozinhar lentamente em fogo baixo, por aproximadamente 3 horas, com a panela tampada. Remover a espuma que se formar na superfície. Retirar do fogo e deixar esfriar. Levar à geladeira até o dia seguinte. Descartar a camada de gordura que se formar na superfície. Separar o caldo e, com um garfo, lascar a carne. Acrescentar novamente ao caldo. Levar o afogado ao fogo e deixar cozinhar por mais 5 minutos. Juntar as ervas e acertar o sal. Servir o afogado em uma sopeira da seguinte maneira: colocar 3 colheres (sopa) de farinha de mandioca em um prato fundo e regar com uma concha do caldo, misturando com um garfo até virar um pirão. Acrescentar a carne por cima do pirão, regando com mais caldo. Servir com banana cozida e molho de pimenta.

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