29/04/2011
Destruição causada pelo terremoto e tsunami que atingiram o país deve aumentar a demanda por alimentos, o que pode significar mais negócios para o Brasil
JULIANA RIBEIRO – DINHEIRO RURAL
Era uma manhã clara do dia 11 de março, quando o primeiro tremor atingiu a costa nordeste do Japão. Em todo o mundo, redes de televisões repetiam incansavelmente as imagens do terremoto de 8.9 graus na escala Richter que sacudiu boa parte do país. Pouco depois, uma onda gigantesca varreu áreas urbanas e rurais da cidade de Sendai, na costa do Pacífico. Criações de animais e plantações de arroz desapareceram do mapa em apenas alguns minutos. Portos foram arrasados pela fúria da água, que arremessou barcos pesqueiros e contêineres no mar. Populações inteiras ficaram sem energia e com comida racionada. Por outro lado, com as explosões dos reatores na usina de Fukushima e a ameaça radioativa, o Japão também perdeu mercado para exportar pescados. Foram registrados nas águas, elevados índices de iodo-131, césio-134 e 137, materiais radioativos que podem comprometer o consumo de peixes vindos dessa região. Estima-se que quase 20 dias após o terremoto, o volume de pescado exportado pelo Japão tenha sofrido queda de 70%. No mercado interno também falta comida e água para atender os moradores das regiões afetadas.
Com a situação de calamidade, considera-se que haja maior demanda pela importação de produtos alimen- tícios nos próximos meses. “O Japão é fortemente dependente da importação de alimentos. Cerca de 70% do que eles consomem vem de fora”, explica José Vicente Ferraz, diretor técnico da consultoria Informa Economics FNP. Entre esses produtos está o frango brasileiro, que tem no mercado japonês um de seus principais destinos. São embarcadas, em média, 35 toneladas de carne por mês para o país. Só em 2010, o Japão importou US$ 902 milhões em carne de frango, volume que corresponde a um quinto das exportações brasileiras desse produto. Essa quantidade pode sofrer uma leve alta nos próximos meses, diante dos prejuízos causados à indústria japonesa processadora de aves. “Já falamos com nossos importadores e eles estão solicitando maior agilidade no embarque, para atender à demanda por alimentos dos cidadãos japoneses”, diz Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
Não é de hoje que as relações comerciais entre Brasil e Japão são estreitas. Entre 1996 e 2008,o país asiático figurava como o sexto principal comprador do Brasil, responsável por 3,6% do total exportado. Entre os principais produtos vendidos para eles estão o minério de ferro, alumínio, aves, celulose, soja e café. Em relação a esse último produto, aliás, a
participação do Japão está muitíssimo acima da média: o país consome 55% do café torrado e moído e outros 45% de café solúvel vendido lá fora pelas empresas brasileiras. Entre janeiro e fevereiro deste ano, foram exportadas 358.115 sacas de 60 quilos desse grão, volume correspondente a 4% do total das vendas externas do Brasil no período. Hoje, o Japão é o terceiro maior mercado consumidor de café e tem importância significativa para o setor. Para Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a nova realidade deve gerar mudanças nos hábitos de consumo, mas a torcida é para que o café mantenha a sua posição no mercado japonês. “A exemplo do que ocorreu na crise econômica de 2009, esperamos que o nosso mercado não seja afetado de modo expressivo por lá”, diz.
Diante de tantas incertezas, ainda é cedo para contabilizar os reais impactos da tragédia para a população e seus efeitos no agronegócio. Por ora, as esperanças são de que a situação no Japão volte ao normal o quanto antes. Projeções do banco Goldman Sachs estimam que sejam necessários mais de meio trilhão de dólares para reconstruir o país. Na opinião de Ferraz, a tragédia deverá dinamizar a economia em um futuro próximo, por causa da grande demanda de investimentos em estrutura. “Como eles trabalham com baixos estoques e compram produtos de quase todos os países, muitos mercados se beneficiarão dessa reconstrução, principalmente o de alimentos”, explica. Outro ponto polêmico que deverá ser revisto será a questão do uso de energia nuclear no país. “Eles provavelmente buscarão fontes alternativas de energia e com isso o Brasil poderá ganhar espaço para exportar energias renováveis”.