O DONO DO CAFÉ MAIS CARO DO MUNDO

Por: Dinheiro Rural

Das terras do mineiro Franciso Isidro aem os premiados grãos que já foram leiloados por US$ 6,5 mil. Qual o seu segredo?


FABIANE STEFANO E NA PAULA PAIVA , DE CARMO DE MINAS (MG)


Francisco Isidro Dias Pereira tinha fama de sonhador entre os empregados da Fazenda Santa Inês, localizada na cidade mineira de Carmo de Minas. Quando o cafeicultor fazia a chamada “pregação”, aquela conversa para incentivar os funcionários no trabalho diário da fazenda, ele dizia: “Um dia vamos ganhar o prêmio de melhor café do Brasil”. Ninguém acreditava em tamanha obstinação do fazendeiro, representante da terceira geração de uma família que se dedica à produção do cafezinho há quase 100 anos. Mas um dia, o prêmio veio. No final de 2005, Pereira ganhou o Cup of Excellence da Associação Brasileira de Cafés Especiais. O lote da Fazenda Santa Inês recebeu a nota 95,85 pontos de um júri formado por 30 especialistas estrangeiros. Foi a maior nota alcançada por uma bebida brasileira nos oito anos de existência do concurso. 0 que ninguém podia sonhar era que aquele lote premiado também se transformaria no café mais caro do mundo.


Em janeiro, em um leilão pela internet, a saca de 60 quilos da variedade arábica foi vendida por US$ 6.580. Um recorde no mundo do café. Foram leiloadas 12 sacas para compradores do EUA, Canadá, Austrália e Japão – principais destinos de exportação da fazenda. Em terras nacionais, o café será vendido apenas em São Paulo, no Santo Grão Café e Bistrô. Preço da xicrinha: R$ 9,00. “Nunca imaginei que um café saído daqui poderia custar tudo isso”, diz Pereira. Nem poderia mesmo.


O café gourmet entrou na vida da família de Francisco apenas em 1997. Em 2002, o cafeicultor levou pela primeira vez sua produção para um concurso. A partir dali, foi um prêmio atrás do outro.


Um café campeão como o produzido por Pereira não pode ser avaliado como a xicrinha da padaria. A degustação da bebida gourmet mais se parece com a análise de uma boa taça de vinho. 0 café da Santa Inês costuma ser caracterizado pelo aroma com notas florais cítricas adocicadas e pelo sabor que mescla notas frutadas (que remetem à uvas moscatel e itálicas!) com fundo de caramelo. Pode parecer um certo exagero, mas esse negócio de bebidas gourmet tem sido levado a sério por aqui. “Esqueçam a Colômbia e a Jamaica. 0 mercado está dizendo que o Brasil tem o melhor café. Este é o Chateau Petrus do café”, diz Marco Kerkmeester, dono do Santo Grão, se referindo a um dos vinhos mais caros do mundo.


Ele foi o único no País a pagar R$17 mil (valor com impostos) por uma saca do Santa Inês. Detalhe: cada saca rende cerca de 7,5 mil doses, o que deve render por volta de R$ 67,5 mil. Mas, afinal, qual é a fórmula de um café tão especial? “Muito capricho “, brinca Pereira, que junto com a um irmão e dois cunhados formaram o Grupo Sertão. Ele resgatou técnicas simples de cuidados com a lavoura, praticadas na época em que seu avô comandava a fazenda. A colheita é feita manualmente e apenas os grãos mais maduros deixam o pé, o que exige muitas voltas ao cafezal até concluir a safra. “Esse ritual se perdeu com o tempo”, diz. Nenhuma colheitadeira entra nos 600 hectares de cafezal do grupo, distribuídos em três propriedades. Hoje, 300 empregados fixos e outros 700 temporários trabalham no auge da temporada para colher 20 mil sacas.


Das 1,2 mil toneladas colhidas, apenas 20% dos grãos colhidos são considerados gourmet. Entre eles, pouquíssimos chegam à qualidade do lote campeão. Como se não bastasse fazer o primeiro lugar, a família Pereira fez também o vice do Cup of Excellence. Seu cunhado, Antônio José Junqueira Villela, ficou em segundo lugar. Outros lotes do grupo Sertão também foram bem pontuados. O fato é que a região de Carmo de Minas tem concentrado a nata do café nacional. Cerca de 66% dos finalistas do Cup of Excellence vieram dessa área do sul de Minas. Com altitude entre 850 e 1,4 mil metros, Carmo de Minas tem se destacado tanto no cenário do café que existe um projeto de criar um selo dessa micro-região da Serra Mantiqueira. Toda essa efervescência tem inspirado Pereira a outros sonhos. Quem sabe criar uma marca própria para comercializar o seu grão? “Seria ótimo. Mas esses são sonhos que a quarta geração da família terá de concretizar”. Por enquanto, as xicrinhas do Santa Inês ficam restritas a poucos privilegiados.

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