Diario do Nortedeste – O cultivo do café orgânico está em franca expansão no Ceará, especialmente no Maciço de Baturité. Os 350 cafeicultores cearenses planejam exportar ainda este ano para países sul-americanos, como o Chile, e até 2006, para o Japão e Europa. Parte deles estão organizados na Cooperativa Mista de Produtores de Café do Maciço de Baturité [Comcafé]. Sediada em Guaramiranga, conta com 46 associados. Eles produzem mil sacas por ano. O faturamento anual chega a R$ 172,8 mil para o café moído e torrado, e R$ 138,6 mil para o café verde ou “in natura”. São duas variedades, “coffea arabica” e “maragojibe” [uma raridade no planeta].
O café orgânico é uma das apostas ecológicas mais promissoras da agricultura brasileira e, em particular, da cearense. O cultivo sem o uso de aditivos químicos, além de preservar o solo, a biodiversidade da lavoura e poupar a saúde dos trabalhadores, também é uma alternativa para fugir da competição internacional no mercado de café commodity. Além disso, o mercado mundial de orgânicos está em franca expansão – Em 2004, o setor movimentou US$ 22 bilhões, devendo chegar aos US$ 25 bilhões este ano. Os cafeicultores ecológicos do Brasil querem pegar essa onda.
De olho nesse nicho, os produtores cearenses, especialmente da Serra de Baturité, nos municípios de Aratuba, Baturité, Guaramiranga, Mulungu e Pacoti, respiram aliviados depois de uma crise, que quase os levou a desistir do negócio. Com a certificação do café pela empresa BCS Oko Garantie, da Alemanha, a idéia é exportar ainda este ano para países sul-americanos, como o Chile, e até 2006, para o Japão e Europa. Outro fator de fortalecimento do setor é a comercialização para o Grupo Pão de Açúcar. Além disso, os 350 produtores do Maciço receberam, em março deste ano, a visita técnica de oito representantes de instituições financeiras da Bolívia, México, Equador, Inglaterra e Hong Kong [China] que estiveram participando do Seminário Internacional sobre Finanças Sustentáveis em Mercados Emergentes, realizado entre os dias 22 e 24, em São Paulo. Eles vieram ao Ceará especialmente para o conhecer o trabalho desenvolvido pelos cafeicultores orgânicos locais, onde o café é plantado à sombra das árvores, como ingazeiras, e consorciado com outras culturas como a banana, o mamão, feijão, acerola e goiaba. Em 2004, em cinco mil hectares utilizados, a produção na região foi de 12 mil sacas de 60 quilos. Cerca de 30% do total foi torrado, moído e vendido no mercado interno, como redes de supermercados. O restante [70%] é de café verde, ou seja, não foi moído nem torrado [“in natura”].
Para o presidente da Fundação Cultural, Educacional Popular em Defesa do Meio Ambiente [Cepema], Adalberto Alencar, a cultura da produção orgânica já é uma realidade na região e tem representado um meio de garantir a preservação da Mata Atlântica através dos sistemas agroflorestais. Depois de trabalhar com a capacitação de pequenos e médios produtores e de formar agentes de agricultura ecológica em práticas de agricultura orgânica e agroflorestal durante três anos, a Cepema está ampliando seu eixo de atuação: passará também a se dedicar ao incentivo da produção agroflorestal junto aos produtores que vivem da agricultura familiar. “É preciso mais investimento, porque se a gente analisar bem, o turismo predomina na região e o café, mesmo mostrando ser uma alternativa viável econômica e ecológica, ainda está em segundo plano na serra”, afirma. O incentivo aos agricultores familiares, com a distribuição de mudas de café, é uma forma apontada por ele para incrementar a produção na região. “O Ceará produz um café orgânico de muita qualidade e não é à toa que grandes redes de supermercados apostaram no sucesso de vendas, o que vem dando certo. É um ótimo negócio para eles e para os produtores”. |