fonte: Cepea

O cooperado número 1 do Brasil

13 de novembro de 2012 | Sem comentários Comércio Cooperativas
Por: Globo Rural

13/11/2012 
  
Willem nasceu em 1925 na mesma sala onde foi criada a Batavo, que depois comandaria por 21 anos
 
Texto Viviane Taguchi, de Carambeí (PR)

Aos 87 anos, Willem De Geus ainda lembra cada detalhe de sua infância, vivida em Carambeí (PR). Ele tinha medo de mosquito, de dormir no sótão, brincava de passar debaixo das vacas enquanto elas eram ordenhadas e ficava escondidinho em um canto da sala de casa – a primeira de alvenaria da cidade – observando o pai, Leendert, e amigos discutirem sobre os rumos da guerra, da produção agrícola e sobre os queijos e as manteigas, produzidos por eles, mas que chegavam estragados aos mercados de destino, por falta de refrigeração. Ele recorda que a mãe fazia biscoitos, “que às vezes queimavam”, e café para servir ao pessoal.


Assim como seu pai, todos os homens ali haviam vindo da Holanda para tentar a vida no Brasil. “Disseram que no Brasil tinha terras férteis e baratas. Os holandeses compraram terras aqui. Eles embarcaram até vacas, porque o que eles sabiam fazer era trabalhar com laticínios. Mas, quando chegaram, viram que tudo era mata fechada, cheia de animais selvagens. Foi mais difícil do que pensavam”, diz. O menino nasceu no mesmo ano em que aqueles homens perceberam que o único jeito de sobreviver economicamente no Brasil era trabalhar em conjunto, como faziam seus pais na Holanda. Era 1925. Em agosto, nasceu a Sociedade Cooperativa Hollandeza de Laticínios, hoje Batavo Agroindustrial. Em setembro, nasceu Willem, oitavo dos 15 filhos de Leendert. Ele e a primeira cooperativa de produção agroindustrial do Brasil nasceram na mesma sala, cresceram seguindo a mesma filosofia, e vão bem, muito bem de saúde. “A primeira coisa que aprendi foi que a religião é a base da vida do homem, e o cooperativismo é a base de uma economia justa.”


Willem ou “Venem”, como ficou seu nome abrasileirado – recebeu neste ano, Ano Internacional das Cooperativas, instituído pela Organização das Nações Unidas , uma homenagem da Organização das Cooperativas do Paraná por ser o mais antigo cooperado no país. As espiadelas que dava nas reuniões do pai fizeram com que, anos depois, ele tivesse experiência para presidir a Cooperativa Batavo Agroindustrial. Por 21 anos ocupou o cargo principal e por outros seis diretorias. Em sua gestão, viu a Batavo, palavra que quer dizer o mesmo que holandês, transformar-se numa grande empresa. Foi ele quem lançou a linha de iogurtes com o mesmo nome, por exemplo, e expandiu as atividades da cooperativa para o setor de grãos. “Foi uma época em que o governo ajudava muito os produtores. Essa ajuda era até exagerada”, diz ele. “E aí, no Sul, onde havia muitos produtores de origem europeia, surgiram mais cooperativas. Alemães, italianos, poloneses, assim como nós, holandeses, já haviam conhecido o conceito do cooperativismo com os avós e pais “, lembra.


Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná sempre concentraram o maior número de cooperativas. Em São Paulo, foram os imigrantes japoneses que impulsionaram o setor, estimulados pelo governo do Japão. A maior delas, fundada em 1927, era a Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), que encerrou suas atividades em setembro de 1994.


Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), diz que as cooperativas são como empresas socialistas, nas quais os lucros e os prejuízos são divididos entre todos. Os cooperados têm diferenciais em compras conjuntas, exportações, vendas, contratos e custos de transporte. De acordo com o executivo, antes da Batavo, em 1911, imigrantes alemães já haviam fundado a Geossenschaft General Osório, hoje Cotribá, Cooperativa Agrícola Mista de General Osório, localizada em Ibirubá (RS), somente com produtores rurais. “É a cooperativa agrícola com mais tempo de atuação no país”, afirma Freitas, “Mas em todos os segmentos, não somente no agropecuário, o cooperativismo ganhou força”, emenda.


Na Holanda, as Associações Cooperativas dos Bancos Raiffesens e a Cooperativa Central dos Produtores Rurais (que em 1972 se fundiram, formando o Rabobank) empolgavam os imigrantes no Brasil, dando pistas de que por aqui o crédito para a agropecuária seguiria os mesmos rumos.


“Não teria razões para que os imigrantes e os brasileiros não seguissem essa tendência”, diz Freitas, contando que, hoje, existem 6.586 cooperativas em atividade no país (1.546 são agropecuárias e geram US$ 4,4 bilhões ao ano). Em 2011, segundo ele, o setor encolheu 1% devido a fusões, mas o número de cooperados aumentou em 11% e o de pessoas que trabalham em cooperativas subiu 9,3%. “É um processo natural (os fusões). Elas se unem para fortalecer um determinado setor e se profissionalizam para enfrentar o mercado. Já existe a qualidade, então, elas buscam agregar valor, industrializar.”


Nos últimos cinco anos, incorporações importantes ocorreram no setor dos agronegócios. A Cocamar, de Maringá (PR), adquiriu a Cofercatu e a Corol, criando uma supercooperativa de R$ 2 bilhões. A Coopercentral Aurora, de Chapecó (SC), absorveu ao longo desses anos 13 cooperativas, e a Coamo, a maior cooperativa agroindustrial da América Latina, fundiu-se a pelo menos oito, entre elas a Coagel e a Toledo, sob a batuta de José Aroldo Galassini. Foi ele quem transformou a cooperativa de Campo Mourão (PR) em um gigante do agro global, com faturamento de R$ 5,6 bilhões em 2011 e caixa circulante de R$ 1,5 bilhão – o que faz inveja a muita multinacional.


Ele diz que é apenas um elo entre os cooperados e os negócios, mas quem o conhece sabe que não. Galassini tem em seu escritório um painel eletrônico que fica ligado 24 horas. “Estou de olho nas cotações da Bolsa de Chicago para não perder nenhum detalhe importante”, diz ele. Quando os preços disparam no mercado, ele vai até o primeiro andar do prédio da Coamo, onde também funciona a cooperativa de crédito, e conta as novidades aos colegas.


O crédito cooperativista, um dos segmentos de destaque do setor, deve movimentar 2% do mercado financeiro neste ano. “A expectativa é que, até o final de 2012,o setor de crédito cooperativista movimente R$ 45 bilhões”, diz Celso Ramos Régis, presidente do Sistema Sicredi Federal e da OCB de Mato Grosso do Sul.


As cooperativas de crédito não são bancos, mas são controladas pelo Banco Central. “O cooperado não é um cliente, ele é o dono. E, ao final, o que seria o lucro de um banco convencional aqui é chamado de sobra, um valor que volta para quem investiu, proporcionalmente ao que contribuiu”, diz Régis. “Mas o BC pode intervir quando falhas ocorrerem.” Hoje, existem mais de 5 mil pontos de atendimento de crédito ligados às cooperativas.


“Nos anos 1980, diante da carência de crédito rural nos bancos oficiais, as cooperativas de crédito começaram a despontar no Rio Grande do Sul e no Paraná. Por meio dessas instituições, o cooperado tem vantagens, como taxas menores que as praticadas no sistema oficial. “Por isso acreditamos que o cooperativismo de crédito tende a crescer”, diz.
 
 
 


      

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