Conheça o lugar onde a gigante alemã pesquisa novos defensivos e procura meios de combater a ferrugem da sola no Brasil
PAULO ZEPPER
No município de Paulínia, a 128 quilômetros de São Paulo, em meio a fábricas de produtos químicos e reservas ambientais, esconde-se uma pequena área de 86 hectares da Bayer. Nessa minifazenda, o clima tranqüilo fornece o ambiente necessário para que pesquisadores procurem novas soluções para as doenças que atacam as lavouras no Brasil e no mundo. Herbicidas, pesticidas, inseticidas, acaricidas passam pela Estação Experimental de Paulínia, uma das poucas existentes ao redor do mundo. Toda a linha de defensivos é pesquisada lá. “Investimos em todos os segmentos, inclusive os bem específicos”, explica Gerhard Boline, diretor de marketing da Bayer CropScience, empresa que gasta cerca de 11% do seu faturamento em pesquisas, o que equivale a 715 milhões de euros.
Uma longa história separa a unidade da empresa do passado. Em meados do século XIX, a área fazia parte de uma fazenda de café do Barão Geraldo Resende. Em 1942, a propriedade foi vendida para um imigrante italiano. Já na década de 60, a fazenda foi comprada pela Rhodia, que construiu uma área de testes de cultivo, a primeira do gênero do País. O lugar passou por várias empresas até chegar às mãos da Bayer, em 2002. “A zona climática onde está Paulínia é de transição entre o clima tropical e o subtropical, ou seja, conseguimos fazer testes o ano inteiro”, afirma Boline. E como um defensivo químico é criado? “São necessários cerca de 10 anos para desenvolvermos um produto”, afirma Bohne. O processo todo começa na Alema nha. Lá, são desenvolvidas substãncias químicas, os princípios ativos de cada defensivo – as chama das moléculas. Depois de uma préseleção, as substâncias mais promissoras são enviadas para as Estações Experimentais. A cada ano, Paulínia recebe 150 moléculas para teste, onde se descobre qual aplicação a substância química pode ter e para qual cultura. “O grande desafio é pegar alguma coisa descoberta lá fora e adaptar para as doenças que afetam o Brasil”, afirma Bohne.
Uma vez escolhidas, as moléculas aprovadas são submetidas a novos testes. Alguns são feitos no Brasil, mas a parte mais complexa do processo ainda é realizada na Alemanha, como os exames de toxicidade. Só então é solicitado o registro do produto nos Ministérios do Meio-Ambiente, Agricultura e no Ibama. Só para o registro são necessários cerca de 3 anos. Para cada novo defensivo lançado, são gastos 300 milhões de euros para a sua criação. Mas o investimento vale a pena. É o caso do Provence, herbicida para a cana-de-açúcar, que foi desenvolvido em Paulínia e vende US$ 20 milhões anualmente. Por ano, são lançados três produtos diferentes. Em 2005, foram o Connect, inseticida para soja, batata, melão, feijão e tomate; o Evidence, também inseticida, só que para cana-de-açúcar e o Nativo, fungicida para o trigo e batata.
Outra atividade importante desenvolvida na Estação Experimental é o monitoramento de doenças da soja, como a ferrugem asiática. “Verificamos se o fungo desenvolveu resistência aos fungicidas”, esclarece Christian Scherb, coordenador de pesquisa. Esse monitoramento é parte de um programa maior da Bayer, o SOS Soja, cujo propósito é exatamente acompanhar as doenças que atacam a oleaginosa. Na safra passada, 81% das ocorrências de ferrugem registradas pela Embrapa foram reportadas por um dos 65 centros do programa espalhados pelo País. E tudo começou numa mini fazenda de apenas 86 hectares.