10/02/2010
A expectativa de um bom crescimento econômico neste ano ? algo entre 5% e 6%, segundo as projeções correntes ? é reforçada pelas estimativas da produção agrícola. A safra nacional de grãos, já colhida parcialmente, será a segunda maior de todos os tempos, segundo os novos levantamentos oficiais. Chegará a 143,1 milhões de toneladas e será 5,9% maior que a anterior, de acordo com a COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Números muito parecidos foram obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na verificação de janeiro: 143,4 milhões de toneladas, com aumento de 7,2% em relação à temporada de 2008-2009. As duas pesquisas mostraram dados melhores que os obtidos na estimativa de dezembro. Boa produção no campo sempre evidencia, no entanto, velhos e persistentes problemas de logística. Nem sempre há armazéns nos locais certos, ferrovias e rodovias continuam deficientes e nem todos os portos estão preparados para o embarque de grandes volumes.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos e matérias-primas originárias do campo do mundo, mas há um descompasso entre a modernização do setor produtivo e a da infraestrutura. Pelo novo levantamento da CONAB, Mato Grosso está colhendo 18,9 milhões de toneladas de soja e colherá 7,4 milhões de toneladas de milho entre a primeira e a segunda safras, além de 1,6 milhão de toneladas de algodão em caroço, mas o Estado só tem capacidade estática de armazenagem de 26,2 milhões.
Outro bom exemplo de problema é o atraso na ampliação do Porto de Itaqui, no Maranhão. Planejou-se um aumento de capacidade de 2 milhões para 13 milhões de toneladas, mas o projeto permanece emperrado. Enquanto isso, plantadores de soja do Tocantins, do norte de Mato Grosso e do sul do Maranhão desviam parte importante de sua colheita para embarque nos Portos de Santos e de Paranaguá. O custo do transporte seria muito menor e o ganho do produtor, bem maior, se fosse possível escoar essa produção por Itaqui.
A menor lucratividade afeta, naturalmente, a capacidade de investimento dos produtores e o potencial de consumo das famílias envolvidas na atividade. De uma perspectiva mais ampla, pode-se falar num enorme desperdício. Gasta-se mais do que seria necessário para transportar a safra e desviam-se recursos de outras áreas e de outras atividades onde poderiam ser muito úteis.
Apesar de tudo, os produtores têm continuado a investir, em busca de maior eficiência dentro dos limites de cada propriedade. Os investimentos caíram no ano passado, porque nenhum setor ficou imune à recessão global, mas já há sinais de retomada. Com a produção estimada para este ano, o agronegócio terá condições, mais uma vez, de contribuir para a robustez das contas externas do País. No ano passado, as exportações do setor renderam US$ 64,7 bilhões, 9,8% menos do que no ano anterior, porque a crise internacional derrubou os preços da maior parte dos produtos. Ainda assim, o superávit comercial do agronegócio, US$ 54,9 bilhões, foi mais que o dobro do superávit geral obtido pelo País no comércio exterior.
Pelas estimativas da CONAB, as colheitas de algodão, feijão, milho e soja devem ser maiores que as da safra anterior. A de trigo, já colhida, foi menor que a da temporada 2008-2009, por problemas climáticos. Mas o plantio confirmou a tendência recente de recuperação dessa cultura, depois de alguns anos de baixa produção. A colheita de arroz também deve ser menor que a do ano anterior.
De modo geral, as condições de suprimento serão satisfatórias, segundo o balanço de oferta e demanda apresentado pela CONAB, embora o estoque final projetado para alguns produtos seja menor que o inicial. O crescimento da China e de outras economias emergentes deverá dar alguma sustentação aos preços internacionais. A crise nas economias mais desenvolvidas será superada mais lentamente do que se previa até recentemente. Isso é um importante fator de incerteza quanto à evolução dos mercados.
De toda forma, o agronegócio mais uma vez será o principal sustentáculo das contas externas do País. O setor cumprirá essa tarefa, enquanto o governo continuará, certamente, dando força aos inimigos do agronegócio. Essa intenção foi claramente indicada no impropriamente chamado decreto dos direitos humanos.