A crise do agronegócio é, na verdade, um “tiro no próprio pé” do Governo, pois é o preço dessa política macroeconômica de valorização deliberada do Real que, infelizmente, está destruindo um dos setores mais dinâmicos da economia nacional, responsável em grande parte, pelo “espetáculo do crescimento” do saldo da Balança Comercial e mais ainda, pela queda acentuada dos preços dos alimentos, recentemente.
A “atual miopia” das autoridades não está considerando que o setor é ainda de suma importância para o país também por sua capacidade de geração de empregos, como bem demonstra o trabalho “Modelo de Geração de Emprego” do BNDES, que compara o número de empregos criados em diversos setores da economia, quando há um aumento da produção equivalente a um faturamento adicional de R$ 10 milhões, analisando separadamente os empregos diretos, os indiretos e aqueles gerados pelo “efeito renda”.
O estudo trata como “emprego direto” as vagas requeridas de mão-de-obra, especificamente naquele setor onde se observa o aumento de produção aludido e cita como um exemplo a indústria de confecções, que precisaria contratar novos operários para poder aumentar a produção de roupas e atender assim o aumento da demanda de vestuário.
Os empregos indiretos são os novos postos de trabalho requeridos na cadeia produtiva. Um aumento na demanda de roupas, por exemplo, requer um aumento da produção de fios e de pluma de algodão, entre outros insumos, estimulando a indústria têxtil e a agricultura, gerando assim essas novas vagas de “empregos indiretos” nesses setores.
Os empregos gerados pelo “efeito renda” são oriundos da transformação da renda das empresas e dos trabalhadores em consumo, quando parte das vendas e dos salários pagos são gastos em bens e serviços diversos, estimulando a produção nesses setores produtivos, realimentando assim o processo de geração de empregos.
Tal estudo mostra que a agropecuária gera (+828) empregos diretos e perde apenas para os setores de artigos de vestuários (+1.000 ) e de serviços prestados à família (+1.080) superando vários segmentos industriais, tais como artigos plásticos (+362), indústria têxtil (+382), siderurgia (+402), material elétrico (+371), equipamentos eletrônicos (+332) e automóveis, caminhões e ônibus (+326) e até mesmo a construção civil (+530).
A cadeia do agronegócio envolve, além da agropecuária, outros setores, que são as indústrias de processamento agro-alimentar, também intensamente empregadoras como óleos vegetais (+642), fabricação de açúcar (+677), abate de animais (+664) e indústria do café (+719) empregos diretos, respectivamente.
No tocante aos empregos indiretos e aqueles gerados pelo “efeito renda” o estudo confirma que o setor agropecuário tem enorme vocação empregadora, principalmente nas atividades de processamento, como em óleos vegetais (+644), fabricação de açúcar (+644), abate de animais (+628) e indústria do café (+679).
É portanto um mito, a idéia de que o agronegócio é intensivo em capital e não gera empregos. Tal variável pode explicar, sem dúvida, a transformação ocorrida em nosso Estado, antes “campeão nacional de geração de empregos” e registrando agora, saldos expressivos de demissões, em praticamente todos os setores da economia estadual.
* CARLOS VÍTOR TIMO RIBEIRO é consultor econômico da Fiemt e da PR Consultoria e Projetos Ltda.