Acostumada no passado a receber cerca de 20 mil trabalhadores rurais migrantes, a região de Franca terá uma safra de café mais enxuta neste ano no quesito mão de obra.
10/05/2016
Reunidas, as quatro principais cidades produtoras de café da região – Ibiraci (MG), Patrocínio Paulista, Pedregulho e Ribeirão Corrente – estimam empregar em 2016 menos de um terço do antigo quadro. Segundo levantamento feito junto aos sindicatos patronais e dos empregados, o número de trabalhadores deve chegar a no máximo 4 mil trabalhadores, 20% do que reunia há dez anos.
A queda mais drástica acontece em Ibiraci. A cidade mineira todos os anos era “invadida” por migrantes do norte de Minas e da Bahia para a panha do café. Ônibus chegavam lotados, casas e barracões eram transformadas em alojamentos e o setor comercial sentia um acréscimo nas vendas. “Depois que a máquina entrou, isso mudou muito. Se antes recebíamos 10 mil trabalhadores, hoje não atinge mil. Quase não encontra mais baiano na cidade”, disse o presidente do Sindicato Rural do município, Anivair Teles Rodrigues.
De acordo com ele, em período de início de safra como agora, cerca de 3 mil catadores já estavam na cidade. Atualmente, esse número gira em torno de 200 a 300 trabalhadores. “Reduziu muito mesmo. Quem contrata é apenas para repassar o que a máquina deixa no pé ou para fazer a colheita em lavoura nova.”
Na cidade de Pedregulho, o cenário não é muito diferente. O presidente do Sindicato dos Empregados Rurais, Sandro Marcos de Carlo, diz que praticamente 80% da colheita está mecanizada e a quantidade de catadores não totaliza 500 pessoas. Em 2006, por exemplo, o município costumava ter em média 5 mil safristas na época de colheita. Carlo revela que até mesmo áreas acidentadas estão com a presença de máquinas.
Levantamento junto aos sindicatos patronais e dos empregados mostra que número de trabalhadores deve chegar a 4 mil trabalhadores, 20% de há dez anos (Foto: Cassiano Lazarini/Comércio da Franca)
Para Marco Antônio da Costa, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Corrente, o endurecimento das legislações trabalhistas e a entrada da tecnologia no campo são os principais responsáveis pela queda na contratação dos apanhadores de café. “A situação mudou muito. O número de migrantes diminuiu muito. Agora quem trabalha na lavoura é da região e mora na cidade. Ninguém mais fica na fazenda como era costume.”
O coordenador técnico da Cocapec, Fabrício Andrian Davi, explica que a mecanização é resultado do aumento dos encargos trabalhistas e, consequentemente, do encarecimento da produção. Segundo Davi, as máquinas também reduzem o risco de acidentes e ganham em produtividade aliada a tempo. “O custo da colheita com a máquina acaba ficando menor e não há perda de qualidade no café. A única pequena desvantagem é na diminuição da vida útil da lavoura, mas ainda assim compensa.”
Reflexo
Proprietária de um supermercado em Ibiraci (MG), Raquel Aparecida Hakime, disse que a redução é significativa e a cada ano tem se acentuado. “Antes tinha fazenda com 200 funcionários e todos faziam compra aqui. Agora, se tiver 20 trabalhadores, é muito. É uma clientela que faz falta, a gente sente a diferença.” Segundo a empresária, por conta do sumiço dos catadores de café, as vendas caíram 70%. “Tive que readaptar. As entregas iam até a meia-noite, hoje oito horas da noite está tudo tranquilo.”
Fonte: GCN (Marco Felipe)