Setor quer preço médio de um dólar por libra para garantir a remuneração do produtor
Depois de cinco anos de dificuldades, com baixos preços, a cafeicultura mundial finalmente se depara com uma fase de prosperidade. É que o desequilíbrio entre oferta e demanda mundial está dando força aos preços do grão. Para a safra 2005/2006 a produção global está estimada em 108 milhões de sacas, enquanto a demanda deve girar em 115 milhões de sacas. Importantes produtores mundiais, entre os quais se destacam Brasil, Vietnã e Colômbia, discutiram na II Conferência Mundial realizada no final de setembro em Salvador, políticas de apoio a cafeicultura e os rumos da produção mundial de café nos próximos anos. Indústria Foi consenso no encontro a defesa de que os preços do café oscilem em um dólar por libra-peso para garantir a remuneração do produtor. “Isso é inédito. Os produtores sempre buscaram altos patamares, mas ficou claro na conferência que os preços muito altos ou muito baixos não são bons para ninguém”, avalia Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Abic – Associação Brasileira da Indústria do Café. A herança da crise, vivenciada pelo setor entre 1999 e 2002, é amarga: a perda de produtividade e redução da qualidade do café em alguns continentes, a exemplo do que ocorreu na África. “Nossa participação no mercado mundial caiu de33% em 1970 para 12% em 2005. Além disso, houve queda na produtividade das lavouras africanas, o que tem provocado deterioração constante da qualidade do café e conseqüente êxodo rural. É preciso mudar o quadro”, diz Assouan Acquah, conselheira do primeiro ministro da Costa do Marfim. Onde se concentra o café Em 2004 a produção da África se situou em 15,6 milhões de sacas de 60 quilos. “Na Colômbia o café tem função social contra cultivo de drogas. Cerca de 90% das famílias cafeeiras produzem em áreas inferiores a dois hectares e com manejo manual. É inaceitável que o mercado mundial opere abaixo de um dólar”, diz Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, terceiro maior produtor mundial com safra de 11,3 milhões de sacas. Exterior No Brasil, maior produtor e exportador, os cafeicultores se animaram com a tendência desenhada para o futuro: em dez anos o consumo somará 21 milhões de sacas e as exportações estarão mais rentáveis. “Estimamos vendas de 27 milhões de sacas e receita de 2,8 bilhões de reais neste ano”, diz Guilherme Braga, presidente do Cecafé – Conselho dos Exportadores de Café. Sob o ponto de vista industrial os esforços estão centrados na divulgação da bebida. É essa a estratégia adotada pela Kraft Foods, que trabalha com cinco marcas de café na Europa e Ásia. Já a Nestlé tem se dedicado a prever o que os consumidores vão precisar e quando, segundo Gordon Gillett, vice-presidente sênior da Nestlé Suíça. |