Quando os consumidores andam pelos corredores dos supermercados, poucos sabem o longo processo de pesquisa e produção do café.
É provável que muitos desconheçam toda a pesquisa e o tempo dedicados para se chegar à bebida mais consumida no mundo. Mas, acredite: são necessários cerca de 25 anos para o desenvolvimento de uma nova cultivar de café. E mais dois ou três anos para a planta começar a dar frutos.
E para oferecer novas opções ao mercado dessa bebida que só perde para a água em consumo, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto Agronômico (IAC-APTA), regularmente traz novidades. Por hora, está em fase de conclusão um novo porta-enxerto constituído por clones com resistência múltipla a diferentes espécies de nematoides, que comprometem o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, levando à redução da produtividade das lavouras e à queda no preço do grão.
Esse novo porta-enxerto será usado no plantio de cultivares copa de café arábica, que é suscetível às três espécies de nematoides. É preciso cuidar do arábica porque este é o tipo de café usado na casa dos brasileiros.
Os estudos conduzidos no IAC confirmaram a resistência múltipla de cada um dos clones do novo porta-enxerto. Os pesquisadores então selecionaram as melhores combinações clonais compatíveis com base na alta frequência de plantas com resistência simultânea às três espécies de nematoides. Somadas a essas características, foram buscados também aspectos agronômicos como potencial produtivo, ciclo de desenvolvimento, maturação e tamanho de frutos e sementes, entre outros.
Segundo o pesquisador do IAC, Oliveiro Guerreiro Filho, para a seleção do novo porta-enxerto foi utilizada a espécie Coffea canephora, que possui resistência simultânea a algumas raças de nematoides das galhas radiculares. “Os cafeeiros debilitados são menos produtivos e seus frutos e grãos são pequenos, com menor valor de mercado”, comenta o pesquisador sobre os impactos dos nematoides.
Um porta-enxerto tolerante ou resistente aos nematoides é extremamente importante, diante do difícil controle do problema. “Em casos severos, especialmente relacionados à incidência de nematoides das galhas radiculares, a lavoura acaba sendo eliminada”, afirma Guerreiro. Como a erradicação da praga é praticamente impossível, as plantas vão aos poucos morrendo e as ‘reboleiras’, que são manchas de solo onde são observadas plantas com sintomas, vão aumentando nas lavouras.
“A pesquisa ainda não está finalizada e encontra-se no estágio de caracterização dos clones a partir dos descritores mínimos para o cafeeiro”, diz. Os próximos passos serão registrar o novo material e protegê-lo junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), além da multiplicação vegetativa destinada à implantação de campos de produção de sementes.
Nos próximos quatro anos, o novo porta-enxerto será também avaliado em relação à resistência a novas populações e raças de nematoides. Esta nova fase já vem contando com a colaboração das pesquisadoras Larissa de Brito Caixeta Vasconcelos, bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/Programa Nacional de Pós-Doutorado) e Masako Toma Braghini, do IAC, além de Cláudio Marcelo Gonçalves Oliveira, pesquisador do Instituto Biológico.
O projeto é desenvolvido pelo IAC há quase 40 anos e tem a participação de alguns produtores e viveiristas. Atualmente, o Instituto Biológico, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), colabora na identificação de espécies de nematoides e participa na avaliação da resistência das plantas a nematoides das galhas radiculares, que têm ocorrência muito frequente nos cafezais paulistas e brasileiros.
A pesquisa é financiada pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Nematoides no cafeeiro
Embora não haja uma estimativa precisa das perdas causadas pelos nematoides, foi constatado que algumas espécies desses parasitos são menos agressivas em comparação a outras. Guerreiro explica que, muitas vezes, o produtor convive com um nematoide menos agressivo sem se dar conta de sua existência, subestimando as perdas na produção. Nesses casos, os prejuízos são variáveis e dependem da intensidade de infestação, dos tratos culturais adotados e outros fatores.
Por outro lado, espécies mais agressivas destroem intensamente o sistema radicular e os sintomas são facilmente vistos na parte aérea das plantas, como crescimento reduzido das plantas, folhas pequenas e amareladas que murcham prematuramente.
“O principal modo de introdução de fitonematoides em áreas de cultivo é por meio de mudas contaminadas. Daí ser tão relevante o uso de mudas certificadas para evitar a introdução e disseminação nos cafezais”, orienta o pesquisador.
As maiores incidências são observadas em regiões de solos arenosos e degradados fisicamente, devido à compactação ou à erosão, quimicamente, por desequilíbrios nutricionais, baixos teores de nutrientes e de matéria orgânica ou biologicamente, em razão da queda da atividade e diversidade biológica. Esses problemas ocorrem, especialmente, nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
Por Carla Gomes e Mônica Galdino
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