As mudanças cambiais adotadas na semana passada pela Venezuela devem beneficiar produtos brasileiros que lideram a pauta de exportações para o país
20/01/2010 – Quatro dos cinco itens que o Brasil mais exporta para o mercado venezuelano poderão ser adquiridos com um dólar ao câmbio mais favorável em vigor na Venezuela. O governo instituiu duas faixas cambiais – que funcionam ao lado de uma terceira cotação para dólares obtidos com a venda de títulos.
Bovinos vivos, carne de frango, açúcar e carne bovina – que representam 26% das exportações para o país – estão na lista de produtos classificados por Caracas como essenciais. Isso significa que os importadores na Venezuela terão acesso a um dólar cotado a 2,60 bolívares fortes para comprá-los.
O câmbio oficial estava congelado desde 2005 em 2,15. As duas novas faixas cambiais passaram a valer na segunda-feira retrasada.
Para produtos classificados como não-essenciais, o governo vai liberar dólares a 4,30 bolívares. É o caso de telefones celulares, o quinto produto brasileiro mais exportado para o país vizinho.
Segundo o balanço do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, entre janeiro e dezembro de 2009, o Brasil exportou US$ 338,55 em bovinos vivos; US$ 290,27 em carne de frango; US$ 189,02 em açúcar; US$ 156,12 em carne bovina; e US$ 139,49 em celulares. Os cinco itens representaram 30% das exportações brasileiras para a Venezuela no ano passado.
O temor de empresas cujos itens entraram para a lista dos não-essenciais é que com um câmbio a 4,30 seus produtos ficarão mais caros para os consumidores venezuelanos – o que em alguns casos poderá forçar uma redução da demanda.
O ministério ainda avalia o real impacto que a desvalorização poderá produzir no comércio bilateral. Mas na diplomacia, uma visão ainda preliminar é que os exportadores de itens essenciais poderão ser beneficiados porque os reajustes que esses produtos sofrerão – se ocorrerem – tendem a ser menores.
No caso das empresas que importam produtos brasileiros, o perspectiva também é positiva. “Há um otimismo por parte dos importadores venezuelanos que compram do Brasil”, diz Fernando Portela, secretário da Câmara de Comércio Venezuela-Brasil, em Caracas. Na opinião dele, importadores de produtos essenciais – como os quatro que lideram a pauta de exportações brasileiras – não deverão ter problemas para obter dólares a 2,60 bolívares.
No ano passado, quando o governo do presidente Hugo Chávez restringiu a liberação de dólares, muitas empresas recorreram ao dólar no mercado paralelo, que oscila entre 5 a 6 bolívares – e chegou à marca dos 7 no ano passado.
Caracas afirma que entre 30% e 40% das importações totais venezuelanas em 2009 foram feitas com o dólar paralelo.
Itens que vinham sendo importados com dólar do mercado paralelo custarão menos aos importadores – mesmo que o item escolhido seja não-essencial.
Para Fernando Portela, as dificuldades que os importadores terão com as novas regras serão com as autorizações de importação – que passa a ser exigida para um número muito maior de produtos do que vinha até sendo feito até então.