EDITORIAL
30/09/2010
Marca registrada do Brasil, como o futebol e a caipirinha, o café passou os últimos anos sem muito o que comemorar. Com preços muito reduzidos, os cafeicultores ficaram desestimulados a investir. Colocar dinheiro na plantação resultou em perdas em alguns casos, como no do mineiro Hugo Villas Boas. Comfazenda no sul de Minas Gerais, a principal região produtora do país, Villas Boas pagou R$ 338 para produzir cada uma das 1.529 sacas que colheu em 2009. Na ocasião, o maior preço para sua mercadoria que conseguiu encontrar em Guaxupé, onde fica, foi de R$ 280 por saca.
Este ano, no entanto, suas perspectivas são bem mais estimulantes. Com colheita maior, seu custo ficou em R$ 198 por saca. E hoje consegue vender o café por mais de R$ 300. Vai, assim, investir R$ 100 mil em um equipamento que tira a casca dos grãos, a fim de adicionar valor ao café. “O resultado desta safra compensatória me deu coragem de investir”, disse o cafeicultor ao repórter Luiz Silveira, que foi verificar as condições da safra do sul de Minas in loco.
A colheita do Brasil deste ano, de 47,2 milhões de sacas, 20% maior do que a de 2009, deve chegar perto do recorde da safra de 2002/03, de 48,48 milhões de sacas. O preço internacional do café, em alta por causa de problemas na produção de países como a Colômbia, fazem com que as exportações possam chegar a US$ 5 bilhões até o final do ano, tambémum recorde.
A fim de aproximar o café negociado em pregão daquele vendido ao mercado externo, a BM&FBovespa mudou o padrão de qualidade do grão, de café tipo 6 para 4-5. A produtora de defensivos e agrotóxicos Syngenta inaugurou uma modalidade para vender seus produtos e fidelizar os cafeicultores. Prática conhecida como barter, a empresa recebe o produto agrícola como pagamento do produtor. No caso do café, decidiu ela própria colocar grãos especiais no mercado internacional. Este ano, exportará 208 mil sacas.