As cotações na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o arábica, referência global, atingiram os níveis mais altos em 47 anos.
Porto Alegre, 29 de novembro de 2024 – O mercado internacional de café teve um mês de novembro histórico, que não será esquecido. As cotações na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o arábica, referência global, atingiram os níveis mais altos em 47 anos. Em Londres, para o robusta, bolsa também com patamares recordes, assim como no mercado físico brasileiro de café os preços voaram. Em NY, os valores superaram US$ 3,20 a libra-peso, e no Brasil as cotações passaram no arábica facilmente da linha de R$ 2.100,00 a saca.
O principal fator para essa valorização é a grande preocupação com a safra de 2025 do Brasil. Os prolongados e históricos períodos sem chuvas no cinturão cafeeiro do Brasil, combinados com altas temperaturas, prejudicaram demais as regiões cafeeiras, sobretudo áreas como o sul e cerrado de Minas Gerais, além da mogiana paulista, que são o centro produtor. Assim, as floradas desde outubro não vingaram e demonstram perdas severas no potencial produtivo para 2025.
O consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, ratifica que o mercado encontra sustentação fundamental no crescente pessimismo em relação ao potencial da próxima safra de arábica no Brasil, consequência do fraco “pegamento” das floradas. “As vistosas floradas observadas em outubro não se desenvolveram adequadamente, com grandes relatos de queda de flores e chumbinho. Isso ocorreu devido à falta de energia da planta, que foi prejudicada pelo longo período de seca e pelas temperaturas acima da média, que se estenderam de abril a outubro. Os estados de Minas Gerais, especialmente o Sul e o Cerrado, além de São Paulo, foram os mais afetados, alcançando níveis críticos de umidade que não eram vistos desde a seca de 1981”, comenta.
Ele destaca que esse cenário impacta diretamente o potencial produtivo e tem levado a uma revisão para baixo das estimativas de safra. “Embora o quadro ainda esteja aberto, a percepção negativa sobre a produção aumentou, o que afetou o mercado e justifica os ganhos no preço do arábica”, indica.
Barabach pondera que a demora na chegada do café robusta do Vietnã, cuja safra já está bastante debilitada, também tem contribuído para a alta. “A demanda ativa, impulsionada pela temporada fria no hemisfério Norte, acentua ainda mais a valorização dos preços. No entanto, é inegável que a escalada nos preços também tem um forte componente técnico. O aumento no preço do cacau também influencia o mercado de café. O rompimento da linha psicológica dos 300 centavos deu um fôlego adicional aos ganhos, e o mercado tem superado novas resistências, mantendo o movimento de alta”, aponta.
No balanço mensal de novembro na Bolsa de NY, o arábica para março/2025 teve alta de 31,6%, subindo de R$ 245,50 a saca ao final de outubro para R$ 323,05 centavos no fechamento de 27 de novembro. Em Londres, a alta acumulada do robusta no contrato janeiro foi de 27,4% no período.
No mercado físico brasileiro de café, o preço do café arábica ultrapassou os R$ 2.000 por saca para as bebidas de melhor qualidade, com bebidas mais finas superando a marca de R$ 2.200 por saca. Já o café conilon capixaba é negociado a cerca de R$ 1.750 por saca, como observa Barabach. “Mesmo com os preços tão elevados e com o mercado superando os gatilhos de venda mencionados pelos produtores — como a linha dos 300 centavos em Nova York e os R$ 2.000 por saca no físico — o vendedor segue na defensiva”, avalia o consultor.
Barabach comenta que este é o momento do ano em que os produtores normalmente estão menos ativos no mercado, devido a questões fiscais. Além disso, continuam apostando na alta, impulsionados pelo pessimismo em relação ao potencial produtivo da safra 2025. “Por outro lado, percebe-se o interesse de exportadores, fechando posições mais curtas. Também a indústria doméstica se mostra mais ativa, buscando ampliar suas posições, diante do receio da falta de produto, devido ao forte fluxo de exportação e os baixos estoques. Esse contexto continua oferecendo sustentação aos preços físicos internos”, avalia.
“O principal fator determinante do mercado é o tamanho da próxima safra do Brasil. Nesse cenário, o produtor deve avaliar seu potencial produtivo de forma individual e ficar atento às oportunidades de negociação, especialmente em relação à safra futura”, conclui Barabach.
Lessandro Carvalho / Agência Safras News
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