Menor aversão ao risco e os fundos de investimento mais vendidos em café favoreceram a recuperação das cotações.
23/02/2016
O mercado futuro de café arábica subiu forte ontem, depois de uma semana fraca de negócios na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), com baixa volatilidade e rolagens de posição. A menor aversão ao risco e os fundos de investimento mais vendidos em café favoreceram a recuperação das cotações.
Ontem o petróleo chegou a subir mais de 6%, enquanto a cotação do minério de ferro atingiu o nível de US$ 50 a tonelada seca, pela primeira vez desde outubro do ano passado. Segundo analistas, medidas de estímulo à economia da China impulsionaram as commodities e bolsas da Europa e dos EUA.
O apetite por risco manteve o dólar em baixa ante moedas emergentes e em alta em relação ao iene e ao euro. No mercado interno, a moeda norte-americana renovou mínimas no início da tarde, reagindo à realização da nova fase da Operação Lava Jato, que cumpria mandados em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. A moeda norte-americana acabou fechando a R$ 3,9430, desvalorização de 2,37% no dia.
Os fundos de investimentos, mais vendidos em café na semana encerrada em 16 de fevereiro, podem ter sido levados a cobrir posição com a alta de ontem, puxando ainda mais as cotações. Os fundos passaram de saldo líquido vendido de 14.936 lotes no dia 9 de fevereiro para 20.357 lotes no dia 16, considerando futuros e opções, mostrou na sexta relatório da Commodity Futures Trading Comission (CFTC).
O diretor de Commodities, Rodrigo Costa, do Banco Société Générale, informa em relatório semanal que os baixistas argumentam que o enfraquecimento do real e do peso colombiano favorece os produtores dos dois países, que vendem seus cafés no mesmo nível de preço quando Nova York negociava próximo a 140 cents. “Se não fosse pela questão da moeda, uma aposta em novas baixa não teria muito sentido, pois qualquer nova perda de produção no mundo engole o pequeno superávit de 2 milhões de sacas estimado para o próximo ciclo”, diz Costa.
Ele acrescenta que “a indicação é de que a demanda tem se mantido em alta”, considerando a queda dos estoques certificados na ICE. Além disso, o estoque americano, divulgado mensalmente pela Associação de Café Verde (GCA, na sigla em inglês), ficou praticamente inalterado em janeiro, quando normalmente ocorre aumento médio de 130 mil sacas (período de 1989 a 2015).
No lado da oferta, Costa observa que a tendência é não ocorrer acúmulo de estoques, se a taxa de crescimento do consumo global de 1,5% se repetir em 2015 e 2016. Segundo ele, no Brasil, a situação do norte do Espírito Santo, principal região produtora de café robusta (conilon) do País, não deve reverter perdas provocadas pela seca, justamente quando o País tinha tudo para ter um recorde de produção, ajudado pela recuperação do arábica. “Considerando que o consumo doméstico fica próximo da casa de 20 milhões de sacas e o conilon é parte importante do blend local, os torradores brasileiros acabarão usando mais arábica, influenciando a dinâmica dos preços internacionais”, comenta Costa.
Tecnicamente, o fechamento acima de 120 cents afasta a possibilidade de o mercado testar mínimas anteriores, como 113,35 cents. As próximas resistências estão em 125 cents e 130 cents. Na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), os contratos devem respeitar o nível de 1.400 dólares/tonelada, para evitar novos suportes.
Os futuros arábica em Nova York trabalharam no terreno positivo ao longo de todo o pregão de ontem. Os contratos com vencimento em maio/16 acabaram fechando em forte alta de 3,47% (405 pontos), a 120,60 cents. O mercado teve máxima de 121,05 cents (mais 450 pontos). A mínima foi de 116,90 cents (35 pontos acima do fechamento anterior).
O mercado físico de café teve alguns negócios ontem, pouco expressivos em termos de volume. Apesar da alta dos futuros, a queda do dólar ante o real praticamente anulou os ganhos na bolsa e as cotações internas subiram pouco, informa corretor de Santos (SP). O comentário na praça do litoral paulista é que café tipo 6, de boa qualidade, safra 2015, foi cotado a R$ 520 a saca. Café, tipo 6, safra 2014, voltou a aparecer no mercado, a R$ 500 a saca. Café mais fraco, duro/riado, foi cotado a R$ 460 a saca. Grãos bebida rio são cotados a R$ 400 a saca.
Os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) informam que as cotações do arábica no mercado físico brasileiro subiram ontem. O indicador Cepea/Esalq do Café Arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista, teve média de R$ 494,61/saca de 60 kg, elevação de 0,62% no dia, sustentado pelo avanço externo. Segundo apurou o Cepea, alguns negócios voltaram a acontecer, mas a expectativa de que os preços possam continuar avançando ainda deixou alguns produtores cautelosos.
As cotações do robusta recuaram, apesar da liquidez ainda limitada. O Indicador Cepea/Esalq do tipo 6, peneira 13, fechou a R$ 394,94/saca de 60 kg, queda de 0,93% no dia. O tipo 7/8, bica corrida, teve média de R$ 383,86/saca, baixa de 1,5% na mesma comparação – ambos à vista e a retirar no Espírito Santo.
Fonte : Agência Estado via Café da Terra