Cientista coordenador do programa Quepia de Qualidade de Equipamentos na Agricultura teve papel importante na aprovação da ISO 18889, a primeira norma técnica mundial voltada à certificação de luvas protetivas agrícolas
Primeiro laboratório do mundo apto a fornecer análises de qualidade sobre luvas protetivas agrícolas será inaugurado no mês de julho, em Jundiaí (SP)
Jundiaí (SP) – O pesquisador brasileiro Hamilton Ramos, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que atua no Instituto Agronômico (IAC), está entre os cientistas protagonistas da aprovação da norma ISO 18889, oficializada numa reunião recente do Comitê Mundial da ISO – International Organization Standartization, realizada na China. Aplicada nas avaliações sobre a qualidade de luvas protetivas empregadas no manuseio de agroquímicos, a nova norma incorpora em sua base técnica estudos de autoria do Centro de Engenharia e Automação do IAC, da cidade de Jundiaí (SP).
Segundo Ramos, que é o coordenador do Programa IAC de Qualidade de Equipamentos de Proteção Individual na Agricultura (Quepia), a ISO 18889 deverá entrar em vigor no prazo de três a seis meses.
O programa ‘Quepia’ resulta de uma parceria entre o CEA-IAC – órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo – e o setor privado. Criada há 13 anos, a iniciativa tem por objetivo fomentar o desenvolvimento tecnológico da indústria de equipamentos de proteção individual para a agricultura, e também reduzir a exposição do trabalhador rural aos produtos agroquímicos.
A principal contribuição dada pela equipe de Ramos à nova ISO 18889 consistiu na descoberta de um corante com índice zero de toxicidade. Este produto substituirá ao herbicida de nome Prowl, o composto químico medianamente tóxico que vinha sendo utilizado na base técnica das avaliações globais da ISO aplicáveis a equipamentos protetivos, como vestimentas agrícolas utilizadas por trabalhadores aplicadores de agroquímicos.
Por se constituir num produto medianamente tóxico, explica Ramos, o Prowl é alvo de restrições regulatórias que dificultam sua importação, um cenário que, de acordo com o pesquisador, tem atrasado estudos relevantes voltados à proteção do trabalhador rural, em todo o mundo.
O pesquisador do Quepia assinala ainda que a concepção do corante substituto do Prowl teve a participação da cientista americana Anugrah Shaw, da Universidade de Maryland (Estados Unidos). Ele destaca que ambos dedicaram cerca de três anos ao projeto. “As conclusões de nosso estudo também foram confirmadas por mais quatro laboratórios de fora do Brasil. Ocorreu o mesmo quanto a outros aspectos técnicos pesquisados no CEA que também serão incorporados à base da ISO 18889”, adianta Ramos.
Ramos lembra também que o processo de pesquisas em torno da ISO 18889 contou com a efetiva colaboração do Consórcio Internacional sobre Qualidade de Equipamentos Protetivos, um órgão de abrangência mundial do qual o CEA-IAC figura entre os membros coordenadores.
Novo laboratório – Com objetivo de levar adiante as pesquisas que estão sob responsabilidade do Quepia, Ramos captou recursos financeiros junto a indústrias do setor agrícola. A medida possibilitou a construção do primeiro laboratório do mundo apropriado a abrigar estudos científicos envolvendo luvas protetivas agrícolas. Instalado nas dependências do CEA-IAC, em Jundiaí, o novo centro de estudos será inaugurado no mês de julho próximo.
“A meta do programa é atrair aos principais fabricantes de luvas protetivas do Brasil. O modelo prevê que essas empresas se associem ao Quepia e submetam produtos à certificação voluntária, como já ocorre, há treze anos, no segmento de vestimentas protetivas para aplicadores de agroquímicos. Da mesma forma, portanto, luvas que receberem aprovação após os testes de laboratório receberão o Selo IAC-Quepia de Qualidade”, resume Ramos.
Ramos afirma que embora haja registro de esforços para se reduzir no Brasil a exposição do trabalhador rural a produtos agroquímicos, ainda é baixa a adesão de produtores e agroindústrias a equipamentos de proteção agrícola com qualidade certificada. “Parte dos equipamentos em uso nas lavouras brasileiras pode não evitar a exposição de trabalhadores aos agrotóxicos”, alerta o cientista.