As bolsas acionárias tomaram um tombo feio nos últimos cinco dias, com quedas acumuladas em quase 8% na China e ao redor de 4% nos Estados Unidos e na Europa.
Investidores realocam recursos com o mercado de renda fixa remunerando melhor, forçando liquidação de ações e de diversas commodities. No caso das energéticas a queda vem depois de sucessivas altas e para as softs estamos presenciando uma apreciação acentuada.
O café em Nova Iorque foi o produto da cesta do CRB que mais subiu na semana, 6.98%, seguido pelos ganhos de 6.72% do cacau e 3.48% do açúcar.
Mais do que um movimento isolado, é notório o comportamento destas três commodities em sintonia, demonstrando um ajuste nas alocações em sub-classes de ativos (softs) e no caso do arábica ganhando um impulso adicional em função da posição vendida dos fundos – que era recorde no fim de setembro.
O relatório dos participantes, o Commitments of Traders, apontou uma cobertura de 20,594 contratos pelos fundos no contrato “C” entre os dias 3 e 9 de outubro, assim como os especuladores também compraram 14,662 lotes no robusta, dando liquidez para as casas comerciais adicionar novas vendas e cobrir uma parte de suas posições compradas.
Fundamentalmente a mudança mais clara foi a valorização do Real brasileiro, quase que na mesma proporção do terminal nova iorquino, forçando os fundos de algoritmo que estavam vendidos no café liquidar parte de suas apostas.
Na Colômbia a desvalorização do Peso permitiu preços ainda mais altos aos produtores daquele país, os quais aceleram a colheita de sua safra. Outras origens também se beneficiam da alta no mercado futuro em função de suas moedas menos voláteis.
Se por um lado cada vez mais podemos ter segurança em afirmar que as mínimas já foram vistas, por outro fica difícil imaginar preços muito mais altos, salvo se considerarmos que agora os fundos vão decidir virar suas posição de vendida para comprada.
Um mercado que tem carrego, ou seja, onde as cotações dos vencimentos mais curtos são menores do que as dos vencimentos mais longos, favorece quem carrega shorts (vendas) pois a cada rolagem o investidor/hedger recompra mais barato o ativo e vende a um valor mais alto. Ao mesmo tempo este custo é pago pelos comprados, desestimulando a manutenção de uma posição long (de compras) sem um quadro mundial de escassez – que normalmente diminuiria o carrego ou causaria uma inversão, rara no arábica.
No caso do S&D (oferta e procura) do café, o ciclo atual tem sobras estimadas entre 7 e 12 milhões de sacas, e para a safra 19/20 tem números (pré)estimados de um superávit entre 4 a 6 milhões de sacas. Conforme comentei há duas semanas, eu acredito que o próximo ciclo possa ter um superávit menor, talvez de 2 milhões de sacas, mas isto levando em consideração uma manutenção das cotações internacionais abaixo de 110 centavos por libra, ou mais próximas de US$ 100.00 centavos.
Se o mercado já resolver antecipar altas que eu imaginei começarem a acontecer mais acentuadamente a partir do segundo trimestre de 2019, eventualmente podemos viver não um desestimulo à cultura, mas no mínimo um cuidado suficiente para não causar uma queda da produção, e neste caso um ajuste no modelo pode trazer safras iguais ou melhores que as atuais (exceto no Brasil).
Na Suíça o sentimento foi misto entre os participantes do Swiss Coffee Dinner, e a sensação é de que há mais torcedores para uma continuação da alta do que traders convictos na reversão de tendência.
Os diferenciais no físico baratearam, finalmente, não tanto para os torradores, mas um pouco mais na reposição e os volumes negociados aumentaram significativamente.
A exportação brasileira de 3 milhões de sacas em setembro deve se manter nestes patamares por ao menos outros dois meses, alimentando o pico da demanda no hemisfério Norte, que também vai receber cafés suaves.
A vitória de Bolsonaro no primeiro turno praticamente garante sua eleição no segundo turno, dado o volume de votos recebidos pelo candidato. Os mercados vão se animando pelas notícias indicando nomeações de técnicos para áreas do governo e empresas estatais, e a cautela fica por conta do quão agressivo Jair será nos necessários pacotes de reformas.
Independentemente, a diminuição do risco de o Partido dos Trabalhadores vencer e “venezuelar” o Brasil já é um alento e pode fazer o Real valorizar para os 3.40, ou seja, outros 10%.
Assumindo que o café aprecie o mesmo tanto, Nova Iorque poderia romper os US$ 120.00 e chegar ao redor de US$ 125.00 centavos por libra – nível onde deve colocar a posição dos fundos em xeque.
Vendas a partir dos atuais patamares parecem se tornar interessantes, até porque mesmo os fundos que estão comprados não estão apostando na continuação da alta, e os comerciais, que tem o termômetro mais próximo do fundamento, estão aproveitando para vender.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*