Mato Grosso tem feito bons negócios com a China e aprendido a lidar com um parceiro comercial tinhoso e sistemático. Em 2004 os chineses compraram soja de Mato Grosso e devolveram três navios alegando que continham 3 grãos de soja transgênica por tonelada, contra um grão permitido. Na verdade, o que fizeram foi pôr em prática 5 mil anos de experiência comercial.
Do ponto de vista do Brasil, os negócios são melhores. A aproximação comercial com a China trouxe ganhos inegáveis para a balança comercial brasileira. O fluxo entre os dois, estagnado em cerca de US$ 1,5 bilhão durante 15 anos, ganha corpo ano após ano desde 2000. Em 2005, a corrente de comércio bateu em US$ 12 bilhões, com saldo favorável de US$ 1,4 bilhão para o Brasil. Este ano as trocas devem superar os US$ 14 bilhões.
Soja e minério de ferro ainda dominam a pauta de negócios do Brasil com a China. Mas, analistas consideram que há espaço para mais produtos, principalmente agrícolas, nas exportações brasileiras. Também há interesse chinês em energia, seja nas tecnologias de exploração de petróleo ou no uso do álcool como combustível. O imenso consumo chinês infla os preços de diversos produtos da pauta brasileira, como café, açúcar, aço, ferro e soja, tendência que continua em 2006.
Setores como o têxtil, estão despontando em grande velocidade na China e obrigando os países industrializados e os vendedores de algodão a difíceis negociações com os chineses.
Até as montadoras sentiram o efeito-China. Com o crescimento impressionante da produção de automóveis na China, o receio é que as unidades de lá tomem clientes que hoje são atendidos pelas filiais brasileiras. Só a GM quer duplicar a produção na China, para 1,3 milhão de veículos por ano, o que é basicamente o tamanho de todo o mercado brasileiro.
Como em outros campos, o avanço chinês foi a galope. Em 1975 a China quase não produziu PhDs, mas em 2003 já se formavam 13 mil doutores no país, 70% deles nas áreas de ciência e engenharia. Em 2004 o governo chinês registrava o funcionamento de 600 centros de pesquisa instalados por empresas multinacionais. Os chineses são, ainda, quem mais investem em pesquisas para o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas, algo como US$ 100 milhões anuais são aplicados em biotecnologia. A caminho de se tornarem os maiores consumidores de PCs, no ano passado a chinesa Lenovo comprou a divisão fabricante de computadores da IBM.
A lógica é simples. Assim como em outros setores, rapidamente os chineses assimilam a tecnologia e passam a competir pelo mesmo espaço.
Porém, tudo isso nada mais é do que o encaminhamento das novas tendências mundiais. Mato Grosso forçosamente entra nesse mundo e precisa aprender a lidar com a modernidade nas diversas áreas da sua economia. O mercado mostra bem claramente tudo isso.
* ONOFRE RIBEIRO é articulista deste jornal e da revista RDM