Os norte-americanos não podem fumar havanos nem tomar café cubano
• A impossibilidade de exportar esses produtos para o mercado dos EUA, prejudica a Ilha em US$12 milhões por ano
POR RAISA PAGÉS — do Granma Internacional
SE você pergunta a um empresário norte-americano que compraria em Cuba ao se levantar o bloqueio, ele não deixará de mencionar os havanos. Os EUA eram um mercado importante e natural para Cuba quanto às exportações de fumo torcido e em rama. Na década de 1949 a 1958, as 35% das vendas a essa nação era de charutos. Se essa mesma cota de venda fora mantida, as vendas somariam hoje mais de US$300 milhões. No caso do fumo em rama, não poder participar do mercado norte-americano, ocasiona perdas anuais de US$ 12.
O café é muito apreciado pelos estadunidenses e atualmente Cuba deve exportá-lo a Europa e ao Japão. O mel de abelha e o cacau da Ilha são buscados nesse mercado por sua qualidade. Com o bloqueio os norte-americanos se privam de muitos produtos que desejariam comprar na Ilha.
Os resultados negativos do bloqueio no setor cafeeiro, acumulados durante os últimos 30 anos são superiores aos US$700 milhões. No caso da apicultura, os prejuízos à produção do mel em 2004-2005 chegam a 1 200 toneladas, o que representam US$2,700 milhões.
As exportações de cítricos e outras frutas tropicais, tanto frescas como industrializadas, realizadas hoje com o mercado europeu pela impossibilidade de acesso ao norte-americano, significam um montante estimado em US$7 milhões anuais.
Cuba poderia participar do mercado dos EUA com frutas e cítricos frescos, que na década de 50, constituíam uma fonte de divisas. Em 2004, só para o Canadá se exportaram cerca de mil toneladas de frutas e vegetais, principalmente. Se fosse possível utilizar os portos estadunidenses do golfo do México, essas exportações chegariam aos EUA e ao Canadá por terra.
Agrupando-se os gastos de transbordo de mercadorias agro-pecuárias que, atualmente, se exportam para a Europa, os prejuízos econômicos anuais são de US$142,700 milhões. O risco das empresas de navegação de operar em Cuba tem significado para as exportações agrícolas no período 2004-2005, um incremento adicional de US$2,500 milhões em relação ao ano anterior.
A impossibilidade de utilizar o dólar nos pagamentos e não poder aceder ao sistema bancário dos EUA tem repercutido negativamente, provocando perdas financeiras no ano anterior da ordem de 8% do volume total de operações do Ministério da Agricultura de Cuba.
A BATATA E O CUSTO DO BLOQUEIO
QUANDO vêem os caminhões carregados de batata chegarem aos agromercados, os cubanos correm para comprar sua cota mensal a preços subsidiados que lhe vende o Estado cubano. Poucos sabem que este cultivo gera enormes gastos em divisas, devido à necessidade de importar as sementes. Tampouco poucos sabem que esse tubérculo próprio dos países temperados exige muitos gastos para atenuar as condições tropicais, mediante irrigação constante, fertilizantes e praguicidas.
A batata constitui o produto mais caro dos cultivos vários quanto a gasto de divisas. Supondo uma colheita de altos rendimentos, de 350 mil toneladas, cada meio quilo custaria US$0,175, sem incluir o custo em moeda nacional. Contudo, se vende à população por apenas cerca de US$0,016.
A estas razoes se somam outras condicionadas pelo bloqueio dos EUA a Cuba. Antes de 1959, os agricultores da Ilha importavam a semente de lá. Depois, ante a impossibilidade de comprá-la nesse mercado tão próximo, houve que buscar outros como a Holanda e o Canadá. O encarecimento da importação de sementes pelos fretes foi, em 2004, chegou a US$986,600 mil. Privaram-se também os produtores cubanos das sementes estadunidenses, mais rentáveis.
Mas não é só o caso das sementes da batata. Existem muitas hortaliças das quais Cuba não pode produzir sementes por seu clima tropical. A cada ano, as importações dessas sementes aumentam os gastos do cultivo em 50%. Para a safra 2004-2005, os custos adicionais foram de US$1,20 milhão.
As barreiras impostas pelo bloqueio na fruticultura privam os agricultores cubanos de muitas técnicas agrícolas e industriais dos EUA, nação com muita experiência e pesquisas de grande interesse que permitiriam resolver muitos problemas desse setor.
Os produtores de frutas de Cuba adquirem anualmente US$50 milhões de produtos para subministrar a produção, abastecendo-se nos países europeus. Se estas compras fossem dos EUA se deixaria de gastar anualmente, pela redução de fretes, US$7,500 milhões. Na agroindústria de frutas existem muitos equipamentos especializados que seriam obtidos em melhores preços e de melhor qualidade nos EUA.
A carne de porco, uma das preferidas pelos cubanos, tem sofrido não só a guerra biológica com a introdução da peste porcina africana, mas também com as dificuldades de compra de rações, as quais se devem comprar em outros mercados com o encarecimento dos fretes de US$2 milhões anuais. Ademais, não se podem usar os antibióticos de última geração, vacinas, desinfetantes e outros insumos para a criação de porcos, gerando perdas de animais, ao custo de US$1,400 milhão por ano.
PROPRIEDADE INTELECTUAL CUBANA NÃO-RECONHECIDA
Os cientistas cubanos dedicados ao setor agropecuário não podem realizar projetos de pesquisas conjuntos com seus colegas estadunidenses. Revistas de impacto, editadas nos EUA, não podem ser recebidas pelos especialistas cubanos.
A aquisição de equipamentos e tecnologia de ponta tampouco se pode desenvolver e devem ser comprados mediante terceiros países, implicando aumento de custos.
A vacina Quádrupla para aves não pode ser importada por Cuba devido à existência de um componente norte-americano em sua fabricação. Para proteger a criação avícola, foi necessário comprá-la a preços muito maiores, o que representou um superfaturamento de US$85 milhões.
Apesar de que Cuba é membro da Organização Mundial de Comércio, as propriedades de marcas e tecnologias cubanas não são reconhecidas no mercado estadunidense.
Nega-se a Cuba a aquisição de reativos químicos para tecnologia de ponta como os empregados na Engenharia Genética e na Biologia Molecular, os quais não podem ser comprados pelos laboratórios de pesquisa da Ilha.