Nordeste vira laboratório de produtos

10 de maio de 2010 | Sem comentários Consumo Torrefação
Por: 09/05/2010 07:05:49 - Jornal do Commercio - PE

Empresas usam a região para testar os produtos que planejam lançar em todo o País.
Estimulada pelo aumento da renda, iniciativa favorece os nordestinos


Felipe Lima
flima@jc.com.br

São quase 50 milhões de consumidores com um crescente poder de compra e acesso mais fácil ao crédito. O resultado é um mercado que desperta a cobiça das empresas em atuação no Brasil. Alimentos, produtos de higiene, bebidas, eletrodomésticos, eletroeletrônicos. Difícil achar algo que não esteja vendendo muito no Nordeste. E diante desta nova realidade econômica, diversos grupos empresariais – alguns, multinacionais – começam a transformar os nove Estados nordestinos em um grande \”campo de testes\”. Estão lançando produtos exclusivos para a região. O que é bom para o consumidor. Muitos artigos são direcionados para as populações de baixa renda (famílias que recebem mensalmente de dois a seis salários mínimos) e classe média (que ganham acima de R$ 3.060 por mês). Vêm, por exemplo, em embalagens econômicas, mais baratas. E promovem ainda o aumento e a diversificação na oferta dos mais variados itens.
A palavra de ordem hoje para as empresas é analisar. Pesquisam detalhadamente o perfil de consumo dos nordestinos para formular novos artigos, os mais atraentes possíveis. Sejam pelo preço, sejam pelo sabor. Se para as empresas rendem bons lucros, para os consumidores garantem satisfação. \”É bom ver que estão tratando a gente de igual para igual ou até mesmo nos consideram superiores. Eu mesmo costumo comprar aquelas balinhas que vendem em um pacotinho de R$ 0,10 no ônibus\”, comenta o estudante Jéfferson Henrique Dias. A balinha a que ele se refere é um dos bombons mais famosos do mundo: o Mentos. Criado na década de 50, é vendido pelo grupo ítalo-holandês Perfetti van Melle em 150 países. Sua embalagem padrão costuma ter 14 unidades (custando R$ 1,30).
Aqui é vendido em pacotes individuais e em um com 11 balas (que custa R$ 0,80, 30% mais barata). \”O Nordeste é uma área importante para o negócio da companhia. Além disso, avaliamos constantemente os casos bem sucedidos regionalmente para lançar novos conceitos e sabores em outras áreas, que tenham perfil similar\”, afirma a gerente da marca Mentos na Perfetti van Melle, Tatiana Checchia.
Os artigos e as empresas são diferentes, mas a estratégia é igual. Há dois anos, a Ambev lançou exclusivamente para o Nordeste a Brahma Fresh. Desde o início, o seu apelo não foi tanto o preço, mas o sabor. Devido ao calor da região, a cerveja foi elaborada para ficar mais refrescante. \”Faltava um produto específico para região. Investimos em um novo paladar, em propaganda, tudo com as características do Nordeste\”, resume o diretor regional da Ambev, Alexandre Magno. A bebida foi muito bem aceita. A empresa não revela quanto conquistou do disputado mercado de bebidas. Mas fato é que, no mês passado, a Brahma Fresh começou a ser vendida no Centro-Oeste, região que possui características climáticas semelhantes.
A Nestlé também criou embalagens menores para os biscoitos das marcas Bono e Negresco, além de ter lançado um café mais suave, próximo do gosto dos nordestinos, o Nescafé Dolca. Os lançamentos fazem parte de um grande programa da empresa batizado \”Projeto de Regionalização no Norte/Nordeste\”, em vigor desde 2003. Para coordená-lo, a empresa criou uma diretoria local logo no ano seguinte. O mesmo fez a Kraft Foods, que montou uma equipe na região em 2005. Hoje, ela é composta por 500 pessoas. O interesse foi no mercado nordestino foi tão grande que, ano passado, o grupo anunciou uma fábrica em Vitória de Santo Antão que vai custar R$ 194 milhões e empregar 600 pessoas diretamente. Sem falar que os planos são de transformar a unidade na maior do Brasil.
Outra multinacional, do setor de higiene pessoal e doméstica, a norte-americana Kimberly-Clark também direcionou sua atenção para o Nordeste. Primeiro, fez um levantamento cujo resultado apontou que em 40% dos lares da região onde reside um bebê de até três anos, ainda se usa fraldas de pano. Depois, desenvolveu a Fralda Mágica. O produto é simples e visa se tornar uma alternativa tão barata quanto. Consiste em um cinto elástico ajustável, podendo ser utilizado mais de uma vez e que serve para prender a parte descartável. O pacote com 24 fraldas custa R$ 9,80 (R$ 0,39 por unidade). \”A região é um palco onde coletamos informações para levarmos novos produtos para todo o Brasil. O País está mais nordestino do que se pensa\”, arremata o diretor da divisão Norte e Nordeste da Kimberly Clark, Pedro Coletta.

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