Café da região recebe selo como a uva dos vinhos de Bordeaux
RETRATOS DO BRASIL: A REDESCOBERTA DO OURO VERDE PATROCÍNIO A única região do mundo que certifica o café desde o local onde é plantado até a xícara do consumidor fica no Brasil, mais precisamente no cerrado de Minas Gerais, no oeste do Estado. A experiência foi inspirada nos vinhos franceses e italianos, cuja uva utilizada recebe um selo de denominação de origem controlada. Numa área demarcada de 155 mil hectares, que engloba 55 municípios e 3,5 mil cafeicultores, existem hoje 9 fazendas certificadas. Isto é, o café produzido nessas propriedades passa por um pente fino. É classificado não apenas pela qualidade da bebida que produz na xícara seguindo padrões internacionais da Associação de Cafés Especiais Americanos (SCAA), mas também pela sua procedência de uma determinada região de plantio. Com isso é possível rastrear o produto e saber exatamente quanto foi usado de agroquímicos no talhão onde o grão foi produzido, por meio de um código de barras estampado no selo colado na saca do café. A partir de fevereiro do ano passado, foi acrescentado mais um quesito a essa verdadeira prova de fogo pelo qual passa o produto até receber o selo do Café do Cerrado, concedido pelo Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (Caccer). Agora os cafeicultores certificados têm de seguir rígidas regras de modo de produção que proíbe, por exemplo, o uso de mão-de-obra infantil, prevê o registro de funcionários e até o uso de equipamentos de proteção pelos trabalhadores durante as pulverizações. Com isso, as fazendas certificadas recebem a chancela de uma até quatro estrelas, dependendo do número de itens que cumprem. ‘Trata-se de uma certificação mais abrangente, que inclui o modo como o grão é produzido e que serve para agregar valor ao produto’, resume o superintendente do Caccer, José Augusto Rizental. Na prática, diz o superintendente do Centro de Inteligência do Café, Aguinaldo José Lima, um dos mentores do projeto do Café do Cerrado, foi a falta de dinheiro no bolso dos cafeicultores em meados dos anos 90 que provocou uma reviravolta na região e a união dos agricultores em busca de um café diferenciado. O projeto teve apoio do Sebrae e do governo do Estado. Inicialmente, em 1993 foi criada a marca; em 1998, demarcada oficialmente a região produtora pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi); em 2001 foi implantado o primeiro sistema de rastreabilidade por código de barras e, no ano passado, estabelecidos os padrões de modo de produção. ‘Agora o nosso trabalho é de evangelização’, brinca o presidente do Caccer, Francisco Sérgio de Assis. A meta é fechar o ano com 250 propriedades certificadas nas três etapas e, com isso, atingir uma produção certificada de 450 mil sacas em 2007. Hoje, as 9 propriedades certificadas produzem 120 mil sacas de café, quase a totalidade exportada para o Japão, Europa e Estados Unidos. Nos dois últimos anos foram investidos mais US$ 1 milhão no projeto. O próximo passo será colocar em funcionamento até o fim deste semestre o Centro de Excelência do Café do Cerrado que custou R$ 2 milhões, erguido com recursos do Caccer e do governo do Estado de Minas Gerais. O centro vai ter laboratórios, treinamento de mão-de-obra e pesquisas que vão dar subsídios à classificação da bebida. ? M.C.