Assis Moreira De Davos (Suíça)
A Nestlé, líder mundial do setor agro-alimentar, decidiu testar no Brasil um modelo único de regionalização de produção, revelou ontem ao Valor o principal executivo da empresa, Peter Brabeck. A companhia planeja investir no Nordeste dezenas de milhões de dólares na instalação de novas fábricas para adaptar a oferta e aumentar as vendas. Para Brabeck, transferir produção do Sul para o Nordeste é uma resposta a globalização. Enquanto todo mundo fala da globalização de produtos, a companhia investirá regionalmente para atender demandas especificas de 60 milhões de habitantes de uma região com renda menor. “O modelo foi desenhado unicamente para o Brasil, temos confiança no resultado e depois vamos ver o que fazer (em relação a outros países)”, disse. Paul Bulcke, vice-presidente para as Américas, informou que os primeiros passos do projeto já começaram a dar resultado. Desde o ano passado, a Nestlé tem uma espécie de “country manager” no Nordeste, que representa de 20% a 25% dos negócios no país. Trata-se de Jonny Way, responsável pelas vendas de todas as categorias de produtos na região. A companhia tem seu marketing nacional para gerar a demanda, como sempre fez, mas o responsável no Nordeste tem um pedaço do orçamento do marketing para operações locais. O resultado é que as vendas cresceram acima de 10% na região, o dobro da média nacional. “As vendas são muito maiores quando se pode adaptar o marketing, a distribuição, a comercialização nas lojas”, afirma Bulcke. Agora, a empresa está querendo dar o passo seguinte para reduzir custos e expandir o negócio. Prevê abertura de uma fábrica em Fortaleza para recondicionamento de produtos fabricados no Sul, como Nescafé, cereais para crianças, bebidas e outros que correspondem melhor à demanda local. O tamanho do produto pode ser menor e assim o preço também baixa. Outra etapa é produzir cereais de verão no Nordeste. O plano é de tambem abrir uma fabrica para produzir macarrão instantâneo na região, que parece ser particularmente apreciado pelos consumidores locais. Essa unidade deverá ser erguida na Bahia, em Feira de Santana, a 110 km de Salvador, com investimento de R$ 100 milhões, como apurou o Valor no Brasil. Vai fabricar farinha láctea e massas e terá um centro de distribuição. O protocolo de investimento já foi assinado com governo do Estado. Pesou na escolha por Feira de Santana a facilidade de escoamento da produção, já que a cidade é cortada por três rodovias federais – BR 101 e 116, cuja distância entre si é de apenas 18 km, e BR 324, que terá a fábrica construída no Centro Industrial, na sua margem. O baixo custo da mão-de-obra na cidade também foi um dos fatores que influenciaram na decisão, disse o secretário de Desenvolvimento Econômico de Feira de Santana, José Aristóteles Rios Nery. A previsão é que serão gerados 150 empregos diretos e 400 indiretos. A companhia planeja igualmente instalar uma fábrica de ração para animais domésticos no Recife (PE). A demanda desse produto é grande na América do Sul, principalmente no Brasil e na Argentina, acima de 10%. “São investimentos de várias dezenas de milhões de dólares”, disse o vice-presidente para as Américas. Ele informou não haverá fechamento de fábrica no Sul, mas de capacidade de produção adicional que assim vai para o Nordeste. A estratégia pode significar produção especifica também para o Sul mais tarde, indicou Bulcke. “Se esse modelo único de atividade regional dentro do país funcionar, como esperamos, temos Índia, México e outros países em vista”, acrescentou. Para Brabeck, mais do que nunca as empresas precisam ter o “imperativo criativo”, que é o título do Fórum de Davos este ano, do qual ele é um dos co-presidentes. Seu colega nessa tarefa, Martin Sorrel, da WPP (agência de publicidade), acrescenta que há exigência de inovação e diferenciação, com implicações geográficas e funcionais. Por outro lado, Brabeck reafirmou por lado o interesse de Nestlé no setor de água mineral no Brasil. “Estamos em busca de boa oportunidade”, disse, indicando a disposição de fazer aquisição. Há anos que a companhia diz que tenta ampliar sua fatia nesse segmento no Brasil, mas reclama que é muito fragmentado e dificulta o fechamento de negócios da dimensão que gostaria de fazer. Colaborou Patrick Cruz, de Salvador) |