Nestlé vai regionalizar a produção no Nordeste

Assis Moreira De Davos (Suíça)

30 de janeiro de 2006 | Sem comentários Comércio Empresas
Por: Valor









A Nestlé,
líder mundial do setor agro-alimentar, decidiu testar no Brasil um modelo único
de regionalização de produção, revelou ontem ao Valor o principal executivo da
empresa, Peter Brabeck. A companhia planeja investir no Nordeste dezenas de
milhões de dólares na instalação de novas fábricas para adaptar a oferta e
aumentar as vendas.

Para Brabeck, transferir produção do Sul para o
Nordeste é uma resposta a globalização. Enquanto todo mundo fala da globalização
de produtos, a companhia investirá regionalmente para atender demandas
especificas de 60 milhões de habitantes de uma região com renda menor. “O modelo
foi desenhado unicamente para o Brasil, temos confiança no resultado e depois
vamos ver o que fazer (em relação a outros países)”, disse.

Paul Bulcke,
vice-presidente para as Américas, informou que os primeiros passos do projeto já
começaram a dar resultado. Desde o ano passado, a Nestlé tem uma espécie de
“country manager” no Nordeste, que representa de 20% a 25% dos negócios no país.
Trata-se de Jonny Way, responsável pelas vendas de todas as categorias de
produtos na região. A companhia tem seu marketing nacional para gerar a demanda,
como sempre fez, mas o responsável no Nordeste tem um pedaço do orçamento do
marketing para operações locais.

O resultado é que as vendas cresceram
acima de 10% na região, o dobro da média nacional. “As vendas são muito maiores
quando se pode adaptar o marketing, a distribuição, a comercialização nas
lojas”, afirma Bulcke.

Agora, a empresa está querendo dar o passo
seguinte para reduzir custos e expandir o negócio. Prevê abertura de uma fábrica
em Fortaleza para recondicionamento de produtos fabricados no Sul, como
Nescafé, cereais para crianças,
bebidas e outros que correspondem melhor à demanda local. O tamanho do produto
pode ser menor e assim o preço também baixa. Outra etapa é produzir cereais de
verão no Nordeste.

O plano é de tambem abrir uma fabrica para produzir
macarrão instantâneo na região, que parece ser particularmente apreciado pelos
consumidores locais.

Essa unidade deverá ser erguida na Bahia, em Feira
de Santana, a 110 km de Salvador, com investimento de R$ 100 milhões, como
apurou o Valor no Brasil. Vai fabricar farinha láctea e massas e terá um centro
de distribuição. O protocolo de investimento já foi assinado com governo do
Estado.

Pesou na escolha por Feira de Santana a facilidade de escoamento
da produção, já que a cidade é cortada por três rodovias federais – BR 101 e
116, cuja distância entre si é de apenas 18 km, e BR 324, que terá a fábrica
construída no Centro Industrial, na sua margem.

O baixo custo da
mão-de-obra na cidade também foi um dos fatores que influenciaram na decisão,
disse o secretário de Desenvolvimento Econômico de Feira de Santana, José
Aristóteles Rios Nery. A previsão é que serão gerados 150 empregos diretos e 400
indiretos.

A companhia planeja igualmente instalar uma fábrica de ração
para animais domésticos no Recife (PE). A demanda desse produto é grande na
América do Sul, principalmente no Brasil e na Argentina, acima de
10%.

“São investimentos de várias dezenas de milhões de dólares”, disse o
vice-presidente para as Américas. Ele informou não haverá fechamento de fábrica
no Sul, mas de capacidade de produção adicional que assim vai para o Nordeste. A
estratégia pode significar produção especifica também para o Sul mais tarde,
indicou Bulcke. “Se esse modelo único de atividade regional dentro do país
funcionar, como esperamos, temos Índia, México e outros países em vista”,
acrescentou.

Para Brabeck, mais do que nunca as empresas precisam ter o
“imperativo criativo”, que é o título do Fórum de Davos este ano, do qual ele é
um dos co-presidentes. Seu colega nessa tarefa, Martin Sorrel, da WPP (agência
de publicidade), acrescenta que há exigência de inovação e diferenciação, com
implicações geográficas e funcionais.

Por outro lado, Brabeck reafirmou
por lado o interesse de Nestlé no setor de água mineral no Brasil. “Estamos em
busca de boa oportunidade”, disse, indicando a disposição de fazer aquisição. Há
anos que a companhia diz que tenta ampliar sua fatia nesse segmento no Brasil,
mas reclama que é muito fragmentado e dificulta o fechamento de negócios da
dimensão que gostaria de fazer. Colaborou Patrick Cruz, de
Salvador)

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