Uma importante restrição à produção agrícola sustentável é o impacto de pragas e doenças de solo. Nematoides estão entre as principais pragas agrícolas da atualidade.
Estima-se que os nematoides parasitos de plantas consomem aproximadamente 10% da produção agrícola global, levando a perdas econômicas anuais avaliadas, cautelosamente, em mais de U$125 bilhões. No Brasil, as nematoses estão entre as fitossanidades mais importantes nos cultivos a campo ou em sistema protegido.
Os gêneros que ocorrem com mais frequência são Meloidogyne (nematoides das galhas), Pratylenchus (nematoide das lesões), Heterodera (nematoides de cistos), Rotylenchulus (nematoides reniformes) e Radopholus (nematoide cavernícola). No entanto, dentre todos os nematoides parasitos de plantas, é consenso entre os fitossanitaristas que o de galhas é o mais importante. Esse patógeno está disperso em vários ambientes em todo o mundo, causando perdas às principais culturas agrícolas.
No Brasil, várias espécies têm sido relatadas em associação às principais plantas cultivadas, mas Meloidogyne incognita, M. javanica e M. enterolobii são, reconhecidamente, as espécies mais importantes em função dos prejuízos causados e ampla distribuição geográfica.
Independente do gênero e do sintoma, o desenvolvimento do nematoide na planta afeta o funcionamento das raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes e resultando em redução no desenvolvimento da planta, murcha, clorose e menor produção. Além disso, podem ser os causadores de outras doenças radiculares, pois os ferimentos promovidos nas raízes facilitam a infecção por fungos e bactérias presentes no solo. Um exemplo disso é a bananeira, onde é comum a associação da presença do nematoide cavernícola e o mal-do-panamá, causado pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense.
A dispersão de nematoides nas áreas de cultivo é principalmente por meio de material propagativo, tráfego de implementos agrícolas, animais e seres humanos, além do escoamento de água de chuva ou irrigação. Dessa forma, o uso de mudas certificadas é crucial para evitar a introdução e disseminação, conforme destacado no manuscrito publicado pelo Professor Dr. Ailton R. Monteiro (ESALQ-USP), em 1981: “Não se deve plantar nematoides”. Aliás, pela clareza de tal publicação e pelos ensinamentos nela contidos, deveria constituir leitura obrigatória a todos os fitossanitaristas, encontrando-se disponível em: http://docentes.esalq.usp.br/sbn/nbonline/ol%2005u/13-20%20pb.pdf.
No plantio, os fundamentos do manejo integrado de nematoides têm sido tradicionalmente baseados na seleção de cultivares resistentes e aplicação de nematicidas e, na entressafra, a sucessão e rotação de culturas. Entretanto, como a demanda pela produção de alimentos tem aumentado, há situações em que práticas de rotação têm diminuído ao ponto de que muitas culturas são produzidas em monoculturas ou com períodos de rotação significativamente reduzidos, resultando no aumento das populações de nematoides.
Resistência para um determinado nematoide parasito de plantas tem sido introduzida com êxito em algumas culturas, mas este processo é lento e a diversidade entre e intraespecífica no campo comprometem a eficiência do método. Consequentemente, houve dependência na aplicação de nematicidas para contribuir no manejo de nematoides parasitos de plantas, às vezes como parte de uma estratégia de manejo integrado. Entretanto, há limitações ambientais e sociais crescentes, levando ao desenvolvimento de métodos alternativos para o controle de nematoides.
Tendo em vista que a erradicação dos fitonematoides é praticamente impossível, o manejo integrado utiliza-se de técnicas que visam mantê-los abaixo do nível populacional de dano econômico. Define-se manejo integrado de nematoides como a integração das diferentes medidas de controle, com o objetivo de maximizar a ação dos agentes, levando em consideração as características ecológicas e econômicas das culturas.
Para assegurar que o regime mais apropriado para o manejo de nematoides seja adotado pelos produtores, a correta identificação de espécies de importância econômica é, portanto, crucial. Dessa forma, necessita-se inicialmente promover a identificação taxonômica dos fitonematoides envolvidos na cultura, bem como da sua importância, aspectos biológicos, hábitos e hospedeiros.
No manejo integrado, recomenda-se o uso de variedades resistentes, nematicidas registrados, agentes de controle biológico, sucessão e rotação de culturas com plantas não hospedeiras, incluindo os adubos verdes e plantas antagonistas, e pousio da terra por no mínimo 6 meses, eliminando todas as plantas voluntárias e plantas silvestres do local, já que a manutenção da população de nematoides na área de cultivo pode ocorrer através da sua sobrevivência em plantas daninhas e plantas voluntárias da cultura.
A adição de matéria orgânica no solo na forma de torta de sementes, biomassa vegetal, resíduos agroindustriais e de animais e até mesmo lixo urbano, como detritos e resíduos de tratamento de esgoto, tem sido utilizada. A adição de material orgânico melhora as propriedades físico-químicas do solo, favorecendo o crescimento das plantas e tornando-as mais tolerantes ao ataque de nematoides. Também propicia o crescimento das populações de inimigos naturais dos nematoides. Além disso, a decomposição da matéria orgânica libera compostos altamente tóxicos aos fitonematoides, como por exemplo, amônia e ácidos graxos, que se formam durante sua decomposição, além da incorporação de mais nutrientes que serão aproveitados pela cultura.
Com relação a escolha da melhor opção de plantas na rotação ou sucessão visando o manejo dos nematoides, a Crotalaria spectabilis e C. breviflora são as mais indicadas do ponto de vista nematológico, em razão do grande espectro de nematoides que são controlados. Já o amendoim pode ser efetivo no controle de M. incognita e R. reniformis, mas causa aumento da densidade de P. brachyurus, com reflexos negativos na produção do amendoim, do algodão e da soja. As braquiárias (Brachiaria decumbens, B. brizantha e B. ruziziensis) e Panicum maximum são efetivas no controle de M. incognita e R. reniformis, mas, assim como o amendoim, causam aumento da densidade populacional de P. brachyurus.
Com relação a mamona, no geral, há uma carência de investigações mais detalhadas sobre sua interação com nematoides. A maioria das pesquisas envolve a avaliação da eficiência das tortas e outros produtos derivados da mamona para o controle de nematoides, mas poucos estudos avaliam sua resistência às espécies de nematoides e possibilidade do uso do cultivo da mamona num programa de rotação ou sucessão de culturas. No entanto, sabe-se que a mamona é resistente ao nematoide de cisto e que as cultivares Íris, Coti, Guarani, Pernambucana, Sangue de Boi, Savana e IAC-80 são resistentes a três espécies de nematoides das galhas (M. javanica, M. incognita e M. paranaensis), mas há cultivares suscetíveis a Rotylenchulus reniformis e com reação intermediária à P. brachyurus.
*Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorado em Manejo de Pragas e Biotecnologia e Professor Associado da ESALQ/USP; Ticyana Banzato, engenheira agrônoma e doutoranda na ESALQ/USP e Claudio Marcelo G. Oliveira, pesquisador científico e nematologista do Instituto Biológico de Campinas/SP