Para sócio da Tendências Consultoria, o fato de não ser devedor em moeda estrangeira protegerá o Brasil de recessão nos EUA
Márcia De Chiara
O Brasil será pouco afetado pela recessão americana, na análise do ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Gustavo Loyola. “Não vamos passar por uma crise, apenas por um solavanco”, afirma o economista, ressaltando o fato de o País não ser hoje devedor em moeda estrangeira. Ele pondera, no entanto, que a grande dúvida paira sobre o comportamento das commodities. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O Brasil será ou não afetado pela recessão dos Estados Unidos?
O Brasil será afetado porque não estamos numa ilha. Evidentemente, dependerá da força da recessão americana. Podemos ficar bastante tranqüilos porque não vamos passar por uma crise, apenas por um solavanco.
Quais os impactos sobre a economia brasileira?
Nós podemos ter algum efeito sobre o crescimento nos próximos meses, talvez no ano que vem. Talvez a necessidade de um política monetária um pouco mais conservadora por parte do BC.
Por quê?
A chave para passarmos ao largo dessa crise são os preços das commodities. A demanda interna da China e de outros países continua muito forte. Enquanto os preços se mantiverem nesses patamares elevados nós não iremos sentir muito a crise.
Qual é o risco do cenário mudar?
A grande dúvida é até que ponto as economias da Ásia serão atingidas e em que grau. Eu acredito que grande parte da força dessas economias é de natureza doméstica. Por isso, o efeito não será muito grande. É como se ocorresse um terremoto e o Brasil estivesse muito longe dele. O País está muito mais preparado para enfrentar esse solavanco. O fato de não sermos devedores em moeda estrangeira nos coloca numa posição melhor em relação às crises anteriores. Todas as desacelerações de crescimento nos últimos anos ocorreram por causa das reduções abruptas no fluxo de capitais. Isso é muito mais difícil de acontecer hoje. Além de não sermos devedores em moeda estrangeira, os fundamentos macroeconômicos são mais sólidos. Outro fator favorável ao Brasil é que nessa crise os países emergentes não são os protagonistas. A crise está nos Estados Unidos. Portanto, diferentemente da crise asiática e da Rússia, o problema está em outro lugar. Mas há muita coisa ainda que não se sabe, como, por exemplo, qual é a extensão das perdas dos bancos e como será afetado o crédito no mundo.
Quais seriam os fatores de risco para o Brasil?
Acho que o que poderá pesar contra é uma queda muito forte nos preços das commodities, seguida por uma redução no fluxo de capitais, não por causa de problemas locais, mas pela própria natureza da crise nos países centrais, que pode levar os agentes financeiros a aumentarem a aversão ao risco. Se esses dois efeitos forem combinados, o real se desvalorizará, com eventuais impactos inflacionários. Com isso, cresce a necessidade de uma política monetária mais restritiva pelo BC. Mas, por enquanto, esse cenário não se configura.