Na crise, a saída é diversificar

Por: O Estado de São Paulo

Nunca a indústria de máquinas e implementos agrícolas seguiu tão à risca o ditado “Não ponha todos os ovos numa cesta só”. Com a crise nos grãos, as indústrias tiveram de encontrar formas de reduzir o forte impacto da queda de faturamento a partir de 2005. A principal estratégia adotada foi a diversificação da linha de produtos, que passou a ser voltada a setores em expansão e que passam por boa fase. Cana-de-açúcar, café, citros, florestas e horticultura, além da agricultura familiar, estão entre os segmentos para os quais vêm surgindo ou estão sendo adaptados equipamentos por uma indústria que, pelo menos até 2004, tinha como foco principal os grãos.A Agrishow Ribeirão Preto (SP), que ocorreu no fim de maio, reflete esta tendência. Embora ainda não haja números tabulados por setor, o presidente do Sistema Agrishow, Sérgio Magalhães, arrisca, ao comentar os R$ 500 milhões movimentados na feira este ano: “O pessoal dos grãos não comprou nada”, diz. “Mas cana, principalmente, e café, citros, borracha e reflorestamento impulsionaram as vendas, além da agricultura familiar que, sozinha, pode ter sido responsável pela movimentação de R$ 90 milhões”, diz.

TRATORES

Outro indicativo da movimentação produzida por outros setores é o desempenho das vendas de tratores de rodas de pequeno porte, de até 49 cavalos. São tratores muito usados em fruticultura (citros e uva, por exemplo), horticultura e cafeicultura. Entre janeiro e abril, segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de um total de 319 unidades vendidas no mercado interno, 187, ou quase 60%, foram de tratores naquela faixa de potência. Em 2004, no mesmo período, venderam-se 162 unidades e, em 2005, a mesma quantidade.

ALTA POTÊNCIA, VENDA EM BAIXA

Para tratores de alta potência, entre 100 e 199 cavalos – usados nas plantações de grãos, principalmente no Cerrado -, foram vendidas 35 unidades, ou 11% no período, ante 127 unidades em 2004 e 73 unidades em 2005.De olho em mercados que têm a capacidade de compensar, ao menos em parte, a perda de faturamento com os grãos, a Massey Ferguson e a Valtra, as duas principais fabricantes de tratores de rodas do País, lançaram produtos para fruticultura, horticultura, agricultura familiar e setor florestal. “Nós investimos em tratores para fruticultura e para a agricultura familiar”, diz o gerente de Marketing do Produto da Massey, Rubens Sandri de Moura. “Focamos no lançamento e na adaptação de tratores para setores que têm conseguido manter a renda.”

COMPENSAÇÃOSandri acrescenta que, embora a venda mais volumosa de tratores de baixa potência para esses setores alternativos não compense a perda que houve com os grãos, ele calcula que o mercado de máquinas em geral tenha caído entre 60% e 80% e, o de tratores, 40%, “prova da compensação parcial promovida por cana, café, citros, florestas e outras culturas”, conclui.


“A diversificação da nossa linha de tratores foi o que nos fez ganhar participação cada vez maior no mercado”, garante o gerente de Marketing do Produto da Valtra, Jak Torretta. “Há cinco anos, detínhamos 23% do mercado de tratores; em 2005, fechamos com 30%.”Principalmente pelo fato de a Valtra ter grande participação nos segmentos canavieiro e florestal, a empresa não sentiu tanto a crise nos grãos quanto outras empresas. “Hoje, 40% das nossas vendas vão para a cana-de-açúcar”, diz. “Temos também participação forte no café, com 8% das vendas de tratores.”


No setor florestal, segundo Torretta, 60% dos tratores em operação são da Valtra. Na Agrishow Ribeirão, a empresa lançou dois tratores específicos para trabalhar em florestas cultivadas. Segundo Torretta, as empresas muito focadas em grãos já deveriam ter pensado em diversificar a linha de equipamentos desde o fim de 2004. “Todo mundo sabia que 2005 já seria de crise.”


Empresas fabricantes de máquinas agrícolas focam produção em outras culturas além dos grãos

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