Na busca pelo melhor café

Por: Estado de Minas

04/06/2012 
 
Embrapa registra patente de técnica que vai possibilitar melhorar as pesquisas com plantas geneticamente modificadas. Ideia é desenvolver frutos com maior qualidade
 
Uma técnica que promete aprimorar e agilizar o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas no Brasil foi patenteada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A iniciativa foi baseada nos trabalhos de duas unidades Embrapa Recursos Genéticos e Embrapa Café e a patente foi depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) com o nome Composições e métodos para modificar a expressão de genes de interesse.


A primeira fase dos estudos, que culminou com o depósito da patente no Inpi, começou em 2005 e teve como base o banco de dados do Genoma Café, que conta com mais de 200 mil sequências de DNA e 30 mil genes identificados como responsáveis pelos diversos mecanismos de crescimento e desenvolvimento da planta, assim como genes de resposta a estresses bióticos e abióticos.


Segundo Juliana Dantas, que está à frente dos estudos, as pesquisas foram iniciadas com a busca de promotores específicos de frutos, folhas e raízes e o resultado, ou seja, o promotor que foi patenteado, é específico para o grão do café, que é a parte utilizada pela indústria alimentícia para a produção da bebida. “Por isso, é um resultado bastante promissor para grupos que desenvolvem pesquisas em prol da melhoria da qualidade do café no Brasil”, ressalta.


Levando-se em consideração a importância do café para o país, que é o maior produtor mundial com 36% do mercado global e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos EUA, a notícia é realmente animadora, pois pode auxiliar o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas de café com frutos de melhor qualidade e preços mais competitivos.


A técnica patenteada se baseia no estudo de uma parte do gene, denominada promotor, que é responsável pela definição de onde, quando e em que condições as características desejadas vão se manifestar na planta. O objetivo é selecionar os promotores de interesse e disponibilizá-los em um catálogo de promotores para as instituições de pesquisa brasileiras. “Essa técnica pode resultar em benefícios imediatos na geração de plantas geneticamente modificadas”, explica Juliana Dantas.


Hoje, para desenvolver uma planta modificada geneticamente os cientistas normalmente utilizam promotores constitutivos. Isso significa que o gene que foi inserido no transgênico vai se manifestar em todas as partes da planta, em todas as etapas do desenvolvimento e independentemente das condições externas. Nessa situação, a planta gasta energia produzindo excessivamente uma proteína que não é necessária na planta inteira e o tempo todo. A nova tecnologia permite que o gene que foi inserido se expresse apenas no endosperma – tecido de armazenamento que garante a nutrição do embrião em desenvolvimento – do fruto, a parte consumida do grão, da planta transformada. “Isso é útil para a introdução de características relacionadas à qualidade nutricional, características organolépticas (sabor, aroma, textura), por meio da alteração específica no grão de café”, informa o pesquisador da Embrapa Café Luiz Filipe Pereira.


No caso de o objetivo ser a obtenção de uma planta resistente a alguma praga, em que uma proteína tóxica ao inseto-alvo pode atingir populações de insetos benéficos, essa estratégia é bastante pertinente. A broca do café, por exemplo, é uma praga, um pequeno besouro que perfura o fruto e se instala justamente no grão do café para se reproduzir, comprometendo principalmente a qualidade. Um gene de resistência à broca pode ser comandado por um promotor específico com ação no fruto, como essa técnica patenteada pela Embrapa, e a proteína estará presente somente no grão. Populações de outros insetos que se alimentam nas folhas não seriam atingidas.


Só onde precisa
O objetivo, a médio prazo, é chegar a um banco de promotores da Embrapa à disposição da ciência, em um período de aproximadamente cinco anos. “Esse banco, o qual será formado por promotores isolados e patenteados pela Embrapa, a partir de suas unidades distribuídas em todo o Brasil, vai garantir à empresa independência tecnológica e agilidade no desenvolvimento de produtos geneticamente modificados”, destaca Juliana Dantas, lembrando que o banco vai contar com promotores específicos para todas as partes das plantas (raiz, caule e folha) e também promotores que sejam induzidos por seca e aumento de temperatura, levando em consideração aplicações de interesse para a agricultura brasileira, como resistência a pragas, tolerância à seca, altas temperaturas, aumento do valor nutricional e melhoria das propriedades organolépticas (sabor, aroma, textura). Assim, o gene que for inserido se expressará apenas quando e onde for necessário. 

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