O mundo precisa consumir café de um outro Brasil, o maior produtor e exportador do mundo do grão, para evitar a escassez.
O aumento do consumo, principalmente em mercados emergentes, significa que a produção global terá de aumentar de 40 milhões para 50 milhões de sacas de 60 kg na próxima década, disse Andrea Illy, presidente e diretora executiva da Illycafe SpA, torrefadora de café com sede em Trieste, na Itália. Isso é mais do que toda a safra do Brasil.
Com a ameaça iminente das mudanças climáticas, bem como os preços baixos que estão desencorajando os produtores a aumentarem sua produção, se tem um problema em potencial. Isso é o que produtores, funcionários do governo e representantes da indústria estão tentando resolver esta semana no Fórum Global do café, em Milão.
“Mais cedo ou mais tarde, em meses ou anos, vamos ter que tomar uma decisão corajosa sobre o que fazer,” disse Illy em entrevista na quarta-feira. “Nós não sabemos de onde este café virá.”
O mundo deve ter um déficit na produção de café na temporada 2015/16 de 3,5 milhões de sacas, disse a Volcafe em agosto. A escassez global no ano anterior foi de 6,4 milhões de sacas. A última colheita do Brasil foi atingida por uma severa seca em 2014 que elevou os futuros do arábica em Nova York em até 50%. Desde o início de 2015, os preços recuaram 27% com a moeda brasileira desvalorizando-se em relação ao dólar, e aumentando o apelo das exportações do país sul-americano.
Aumento do consumo
O consumo global de café vai aumentar em um terço, para 200 milhões de sacas em 2030, de acordo com Michael R. Neumann, presidente do conselho de curadores da Hanns R. Neumann Stiftung, uma fundação que é filiada a comerciante Neumann Kaffee Gruppem em Hamburgo. A produção mundial, indicada em 144 milhões de sacas para este ano, precisa subir para atender o consumo e buscar um mercado equilibrado em 2030, enquanto os pequenos agricultores devem aumentar a produtividade até então, disse Neumann em discurso na quarta-feira em Milão.
As mudanças climáticas ameaçam um quarto da produção do Brasil. Os produtores da Nicarágua, El Salvador e México também estão enfrentando perdas potenciais, de acordo com estudo publicado em maio pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical. As áreas de produção podem precisar mudar da América Central para a região Ásia-Pacífico ou partes orientais de África, onde as culturas podem ser cultivadas em altitudes mais elevadas, de acordo com o relatório.
O café arábica, grão premium, que é utilizado por lojas, incluindo Starbucks Corp., está mais em risco com o aumento das temperaturas, disse Illy. A variedade robusta é mais resistente, como o próprio nome sugere, disse ele. O Brasil é o maior produtor de arábica e o Vietnã o maior de robusta. A Illy só usa arábica.
Os agricultores já estão fazendo mudanças para lidar com o aumento das temperaturas, disse Jean-Marc Duvoisin, CEO da Nestlé Nespresso SA de. Os cafés da empresa vêm de partes da América Latina, Ásia e África.
“Eu visitei fazendas, muitas vezes, e elas estão sempre indo melhor nas montanhas, nas mais altas”, disse Duvoisin em um painel na quarta-feira. “O aquecimento tem um impacto negativo.”
Tradução: Jhonatas Simião