As mudanças climáticas estão alterando as regras de competição na economia global. Confira, abaixo, como o Brasil se situa na nova geopolítica do carbono
Pontos fortes
As grandes empresas estão assimilando o aquecimento global: Algumas das maiores companhias brasileiras já despertaram para o problema. Além de adotar as melhores práticas de sustentabilidade, elas monitoram as alterações do clima, elaboram cenários estratégicos e difundem conceitos de governança climática entre fornecedores e parceiros.
A matriz energética é limpa: Ao todo, 80% da energia elétrica consumida no país vem de usinas hidrelétricas, que emitem baixos volumes de gás carbônico. Além disso, o governo brasileiro está disposto a diversificar essa matriz por meio de investimentos que também contemplem fontes de energia renovável, como a eólica e a de biomassa. Para isso, conta com o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).
Há políticas bem-sucedidas na área de combustíveis alternativos: Desde a crise do petróleo, nos anos 70, o Brasil desenvolve políticas de estímulo à produção de combustíveis alternativos – tais como o álcool. Entre 1975 e 2000, estima-se que o país tenha deixado de emitir 110 milhões de toneladas de carbono devido à substituição da gasolina pelo álcool. Hoje, a Petrobras também desenvolve projetos na área de biodiesel, feito a partir de oleaginosas como a soja, a mamona e o dendê.
Oportunidades
Florestas nativas podem entrar no mercado de carbono: A ONU estuda a possibilidade de incluir novos mecanismos para a compra e venda de créditos de carbono. Um deles é conhecido como REDD, que oferece compensações financeiras em troca da simples garantia de que áreas de floresta nativa continuarão de pé. Dono da maior reserva florestal do planeta, o Brasil terá muito a ganhar caso o REDD entre no cardápio dos créditos de carbono.
O bloco dos emergentes carece de uma liderança: Na última Conferência do Clima realizada em Bonn, em junho deste ano, o Brasil foi o único a apresentar uma proposta com novas metas
de redução nas emissões dos países ricos. O documento foi entregue em nome de 37 nações em desenvolvimento e, de certa forma, impediu que a conferência fracassasse por completo. O Brasil pode assumir de vez a liderança do bloco dos emergentes nos fóruns internacionais sobre o clima.
Potencial de aumento na demanda por biocombustíveis: Os esforços globais para reduzir a queima de combustíveis fósseis podem favorecer os países que detêm tecnologia para a produção de energia renovável. Nesse caso, o Brasil terá grandes oportunidades nos mercados de álcool ou de biodiesel – tanto para a exportação de combustível quanto para a venda de tecnologia.
Pontos fracos
Ainda são poucas as empresas que adotam práticas de sustentabilidade: Por enquanto, somente as grandes companhias brasileiras estão comprometidas com políticas de redução dos gases causadores do efeito estufa. As demais até reconhecem a importância do tema, mas não tomam medidas concretas. Em muitas, ainda vigora a ideia de que a sustentabilidade freia a competitividade econômica.
Não há uma política nacional de mitigação do carbono: Dezessete anos depois da Rio-92, o Brasil ainda carece de um plano concreto para enfrentar o aquecimento global. O projeto de lei que prevê a criação da Política Nacional de Mudanças Climáticas já tramita no Congresso, desde 2007, e deverá ser votado somente no final deste ano. Antes mesmo de ser aprovado, porém, o texto já é criticado por ambientalistas e ONGs.
Faltam investimentos em tecnologias de descarbonização: A maioria dos esforços do Brasil para retirar carbono da atmosfera está no combate aos desmatamentos da Amazônia. Pouca atenção é dada à mitigação dos gases gerados na matriz energética, no processamento de petróleo e demais atividades intensivas em tecnologia. O país corre o risco de, no futuro, ficar dependente de tecnologia estrangeira de descabornização. E terá de importar.
Ameaças
O agronegócio é vulnerável às mudanças climáticas: Com mais de um quarto do PIB calcado no agribusiness, o Brasil é, hoje, um dos países mais expostos às prováveis alterações do clima. Alguns cenários mostram que o sudeste pode perder a capacidade de cultivar café – que deverá migrar para o sul. Já o centro-oeste poderá se tornar inóspito para algumas variedades de grãos, especialmente a soja.
Estados Unidos e China poderão impor as regras do jogo: Os dois países se recusam a assumir as metas traçadas em Kyoto para a redução na emissão de gases do efeito estufa. Juntos, porém, americanos e chineses podem costurar um acordo bilateral para ditar o ritmo das próprias reduções. Se isso acontecer, tanto o Brasil quanto os demais países do G-20 perderão poder de negociação nos fóruns internacionais sobre o clima.
Novas barreiras não tarifárias podem surgir nos mercados do Hemisfério Norte: Com o pretexto de que precisam reduzir suas emissões de CO2, os países mais ricos podem instituir novas barreiras protecionistas, tais como normas e restrições ambientais. O custo para acessar esses mercados também se tornará maior, especialmente para os países que não têm a obrigação de emitir menos carbono – como é o caso do Brasil.