MP apura denúncia sobre origem de fogo na Ultracargo

Valor Econômico
09/04/15


O Ministério Público do Estado de São Paulo recebeu denúncia anônima de que o incêndio na Ultracargo teria começado após um trabalho de soldagem em uma das tubulações. Produtos inflamáveis teriam passado inadvertidamente pelo cano ainda quente, originando o incêndio, conforme adiantou ontem o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.


A denúncia foi recebida pelo MPE de uma pessoa identificada como sendo funcionária do terminal, mas que pediu sigilo, disse o promotor de Urbanismo e Meio Ambiente de Santos, Daury de Paula Júnior. A origem do incêndio é objeto de apuração da polícia civil. Para o MPE, a informação é determinante para identificar o que falhou nos procedimentos de segurança.


O órgão instaurou inquérito civil para apurar os danos ambientais e definir as reparações possíveis. Cerca de sete toneladas de peixes já morreram e houve muita e a emissão de fumaça preta.


Procurada, a Ultracargo informou que “considera prematuro qualquer diagnóstico sobre as possíveis causas do incidente”. “Neste momento todos os esforços estão concentrados no combate ao incêndio. Assim que as circunstâncias permitirem, a companhia avançará nas investigações para apurar as possíveis causas. Um comitê específico para este fim será constituído e trabalhará em coordenação com as autoridades competentes”, informou a companhia em nota enviada ao Valor.


A investigação é conduzida pelo Grupo de Atenção Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) – Núcleo Baixada Santista e pela Promotoria de Urbanismo e Meio Ambiente de Santos. O Ministério Público Federal também instaurou inquérito civil público para apurar as consequências do incêndio.


Segundo o promotor, em reunião entre representantes da Cetesb, Prefeitura de Santos e Corpo de Bombeiros ficou “muito claro” que acidentes dessa magnitude não estavam cobertos nem pelo planejamento de risco da Ultracargo, nem pelo plano integrado de emergência das empresas de terminais líquidos do distrito industrial de Santos. O terminal fica em área municipal. Está licenciado pela Cetesb, tem auto de vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) e alvará de funcionamento da prefeitura.


“Esses tanques deveriam ter um sistema de segurança para evitar incêndios dessa magnitude. Existe um sistema de válvula que permite a retirada do produto e a transferência para outros tanques, e isso não teria funcionado. O terminal tem brigada de incêndio, mas quando os bombeiros chegaram, o fogo já estava fora de controle”, afirmou o promotor.


Segundo Júnior, outro problema é que não havia na região equipamento suficiente para esse combate. Em entrevista no fim de semana, o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), disse que a estrutura naquele momento era suficiente. “Isso mostra que esses planos estão subdimensionados. Eu preciso ter aqui para conter incêndios todos os equipamentos necessários. Esse acidente vai exigir uma revisão de todos os planos e, especialmente, o da Ultracargo.”


Ontem, após reunião do gabinete de solução de crise (formado por representantes das três esferas de poder), o prefeito afirmou que o enfrentamento de um evento dessa proporção é dinâmico e que as ações mudam conforme a estratégia de combate.


O incêndio chegou ontem ao sétimo dia. Até o fechamento desta edição, havia um tanque com gasolina em chamas. O fogo esteve sob controle por um tempo, mas o calor provocou reignição, mesmo com o trabalho de resfriamento. As labaredas voltaram depois que os bombeiros pararam de usar o “cold fire”, espécie de isolante térmico capaz de acabar com as chamas mais rapidamente. No Brasil, só há 4.500 litros desse produto, razão pela qual a Ultracargo importou mais.


O gabinete de solução de crise pediu ao Ministério da Integração apoio para trazer mais líquido gerador de espuma (LGE), que também ajuda a retirar oxigênio do fogo. Segundo o coordenador da Defesa Civil de São Paulo, José Roberto Rodrigues, as duas fábricas de LGE no Estado de São Paulo estão produzindo 40 mil litros do produto por dia, o máximo que conseguem, para atender o incêndio em Santos. (Colaborou Stella Fontes, de São Paulo)

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