Mostra exibe a relação da obra de Portinari com o café

Por: 02/06/2009 15:06:33 - A Gazeta - ES

 
Pintura Colheita de café de Portinari


Talvez poucos façam uma associação imediata entre a obra do artista plástico Cândido Portinari (1903-1962) e o café. Afinal, o pintor modernista da paulista Brodósqui se consagrou com suas telas retratando crianças, festas folclóricas, tipos populares e acontecimentos históricos. Mas o produto natural tipo exportação do Brasil também tinha o seu recanto nas predileções do gênio. Prova disso é a mostra “Num Pé de café Nasci”, que será aberta hoje, às 18h, para convidados, e amanhã, às 8h, para o público, no Centro de Convenções de Vitória.


A mostra reúne 23 reproduções digitais de obras feitas pelo Instituto Cândido Portinari. A exposição é uma atividade cultural do VI Simpósio de Pesquisa dos cafés do Brasil, realizado pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do café, do qual faz parte o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).


Na abertura, o diretor geral do Instituto Cândido Portinari, João Cândido Portinari, 70 anos, filho do artista e professor universitário, falará sobre essa relação numa palestra para convidados e congressistas. Entre as réplicas, a mais famosa, “O Lavrador de café”, de 1934, e que foi furtada (e depois recuperada) do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 2007.


“O café sempre foi recorrente na pintura e nas suas obras literárias. É uma lembrança da origem da família, imigrantes italianos que aqui chegaram no fim do século XIX para justamente trabalhar na colheita do café no interior de São Paulo”, explica o professor. Ele cita vários versos escritos pelo pai, onde o chamado “ouro verde” é lembrado. “Saí das águas do mar e num pé de café nasci”, registra.


Mas, além de exaltar o produto agrícola que movimentou grande parte da economia brasileira até a década de 50, Portinari colocava seu idealismo em ação. Os trabalhadores da colheita – homens e mulheres de rosto sofrido, pés descalços e feridos e mãos calejadas – foram homenageados pelo pintor. “As figuras desses catadores de café nos quadros ganham, sobretudo, nobreza na visão de Portinari, numa ação que era inédita na arte nacional”, avalia o diretor.


Perseguição

O pintor que foi um dos protagonistas do movimento modernista brasileiro não foi unanimidade entre a crítica especializada. Portinari, o filho, disse que muitas informações sem fundamento já foram publicadas sobre seu pai. Ele observa que, na década de 70, a historiadora de arte Aracy Amaral, da Universidade de São Paulo, declarou que ele tinha sido o pintor oficial de Getúlio Vargas e da ditadura do Estado Novo. “Um tremendo absurdo para um artista que foi perseguido por este regime por ser comunista”, argumenta.


Mas ele contemporiza: “Essa tentativa de denegrir sua imagem foi feita durante a ditadura militar. Ou seja, era interessante para aquele governo diminuir um artista que tinha posições políticas de esquerda. O que aconteceu com Portinari acontece hoje com Lula. Há uma patrulha ideológica contra, mas que não encontra ressonância entre o povo”, compara.


João Cândido, que não seguiu os passos do pai na carreira artística (é professor de Matemática na carioca Pontifícia Universidade Católica), há mais de 30 anos tenta recuperar o tempo perdido. “Passei parte de minha juventude sem o mínimo interesse por sua obra. Eu não tinha consciência da importância dela. Mas, agora, vivo para isso”, diferencia.


Ele organiza o Projeto Portinari, que tenta catalogar a imensa produção. “Já chegamos a 5,2 mil obras, entre pinturas, murais, esboços e gravuras”, informa. A memória nacional agradece.


“Vim da terra vermelha e do cafezal. As almas penadas, os brejos e as matas virgens acompanham-me como o espantalho, que é o meu autorretrato. Todas as coisas frágeis e pobres se parecem comigo”
Cândido Portinari (1903-1962)


Confira
Num Pé de café Nasci
Reproduções digitais de obras de Cândido Portinari
Abertura: hoje, às 18h, para convidados e congressistas do VI Simpósio de Pesquisa dos cafés do Brasil. Amanhã, a partir das 9h, para o público em geral.
Visitação para o público: quarta a sexta, das 8h às 19h. Até 5 de junho.
Onde: Centro de Convenções de Vitória, Rua Constante Sodré, 157, Santa Lúcia, Vitória.
Informações: (27) 3137-9868.
Entrada franca
 

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