Os mercados acionários esperam um fim de ano bem melhor do que em 2018 quando, então, se esperava eventuais novos aumentos de juros – diferente da situação atual de corte do custo do dinheiro.
Na véspera da semana encurtada pelo principal feriado americano, o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving), os índices de ações se mantiveram próximo das máximas.
O contrato de arábica da ICE oscilou fortemente como há muito não se via, causando dor aos baixistas que tem tentado antecipar o retorno das cotações para próximo (ou abaixo) dos US$ 100.00 centavos por libra-peso.
Tecnicamente o movimento é forte, quebrando a parte alta do intervalo que há algum tempo vinha sendo respeitado, rompendo a máxima de julho último (pré-geada) e atingindo o mais alto patamar desde novembro de 2018 – quando os fundos também cobriam parcialmente seus shorts.
O cruzamento de médias móveis de 50, 100 e 200 dias tem como paralelo momentos como em 2016, 2014 e 2010, conforme mencionou o Morgan Stanley, e nestas ocasiões Nova Iorque subiu entre 50 e 170 centavos por libra-peso.
Olhando para 2010 tínhamos, além de um apetite forte para commodities com o CRB pulando de 247 pontos em maio daquele ano para 370 em abril de 2011, uma quebra forte da safra da Colômbia que fez com que os diferenciais do país fossem acima de US$ 100 centavos por libra-peso.
Em 2014 o motivo da alta foi a seca no Brasil no primeiro trimestre do ano, agravada por chuvas abaixo do ideal no fim de 2013.
Já em 2016 não havia muita explicação, fora uma perspectiva de aperto para a primeira metade do ano seguinte, para quando se esperava uma alta forte do terminal e que acabou sendo antecipada – squeezando quem apostou contra, logo de início.
Vale notar que em 2016 o Real também teve uma desvalorização grande em novembro, com o dólar saindo de R$ 3.11 para R$ 3.50, e lá, como aqui, Nova Iorque perdeu a correlação que estava tendo com a moeda brasileira – leia-se, cair quando o Real caía.
Os diferenciais firmes e uma perspectiva de utilização maior dos certificados era a conversa que predominava então, não muito diferente de agora, e a alta acabou quando os diferenciais alargaram bastante – após os participantes recomporem suas linhas de crédito.
Hoje os diferenciais pouco se alteraram mesmo depois de ganhos de US$ 20 centavos, continuando firmes, um reflexo da bolsa ter caído muito até outubro, as origens terem segurado suas ofertas e dada a cautela dos comerciantes que se machucaram depois de três anos consecutivos vendendo diferenciais short a níveis historicamente baratos.
Os fundos em 2016 não estavam vendidos, mas tinham uma posição levemente comprada até entrarem bem long em meados de novembro.
Atualmente eles reduziram seus shorts e depois da performance desta semana é de se imaginar que estejam ao menos zerados (flat). Ficarão comprados?
A favor dos altistas há, desta forma, a firmeza do basis e a queda dos certificados de Nova Iorque de 80 mil sacas apenas neste mês, mas lembrem-se que há mais de 50 mil pendentes de classificação.
O que parece ter provocado a rápida reação do terminal foi o estreitamento do spread de dezembro/março, o qual saiu de um desconto de US$ 3.60 centavos para apenas US$ 0.50 centavo por libra com o começo do período de entrega de dezembro.
Ou seja, quem tem os certificados, não quer entregá-los.
Ainda para ajudar os bulls, a compra de café natural pode eventualmente ficar mais seletiva de agora em diante, ainda mais se imaginarmos que exportadores e comerciantes já tenham comprado café suficiente para atender suas obrigações para boa parte da primeira parte do ano que vem.
Rumores de aperto de caixa já começaram a circular, aparentemente prematuros, mas difíceis de serem julgados pois nunca se sabe o quão alavancado cada livro pode estar.
Em resumo o momento é perigoso e talvez a mudança da tendência ao invés de acontecer em meados de 2020, como eu havia sugerido, pode estar começando agora – é sempre ingrato e ineficiente tentar prever o timing e só serve para queimar a língua.
A volatilidade deve continuar elevada e uma continuação de alta é uma grande oportunidade para quem está colhendo café, como a Colômbia e a América Central, e para quem tem café para vender – disponível e de safras futuras.
A manutenção dos preços nos atuais patamares diminui riscos de abastecimentos futuros, amparando produtores ao redor do mundo a cuidarem de seus cafezais.
Não haverá comentário na próxima semana, volto a escrever no dia 7 de dezembro.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*