Mitsui faz do Brasil a base de negócios agrícolas

Publicação: 23/08/07

23 de agosto de 2007 | Sem comentários Consumo Torrefação
Por: VALOR ECONÔMICO

Gigante global da mineração e infra-estrutura, a japonesa Mitsui planeja fazer do Brasil sua plataforma mundial para agronegócios, especialmente com a exportação de álcool combustível e industrial para o Japão. No início do mês, o grupo associou-se à Multigrain AG, que já exporta 1,5 milhão de toneladas de soja por ano ao mercado japonês.


“O Brasil é um mercado prioritário”, afirma Takao Omae, presidente da Mitsui Brasileira. Seus planos para o álcool combustível são ambiciosos. A parceria com a Petrobras em 40 usinas é o mais conhecido deles. Neste momento, as duas empresas analisam cinco unidades. A dobradinha com a estatal também deverá se repetir na área de logística para o escoamento de álcool e na construção de alcooldutos.


A estratégia para o país se completa com a exploração do mercado doméstico. Consolidado como trading, o grupo negocia café torrado e moído com a marca Café Brasileiro e aposta no mercado de eletrônicos. “Vamos iniciar a partir de outubro a distribuição de televisores, impressoras e copiadoras da marca Sharp”, diz Omae. A empresa começa a demonstrar interesse no algodão.


A gigante japonesa Mitsui quer transformar o Brasil em sua plataforma global para os agronegócios. Com pesados investimentos no país em mineração e infra-estrutura, a companhia quer que o país seja sua base exportadora de álcool combustível e industrial para o Japão. Também investe para comprar soja diretamente de produtores para exportar ao Japão, sem intermediação de tradings.


“O Brasil é um mercado prioritário”, disse Takao Omae, presidente da Mitsui Brasileira, ao Valor. Os planos da empresa para o álcool combustível são ambiciosos. Em parceria com a Petrobras, a Mitsui analisa projetos “greenfield” (construção) no país. Neste momento, as duas empresas avaliam a viabilidade econômica de cinco usinas, nas quais serão sócias minoritárias em parceria com empresários do setor sucroalcooleiro. O Grupo Equipav é um dos seus possíveis sócios. Os grupos também avaliam em torno de 35 projetos de parceria em usinas, com foco para o mercado japonês.


Omae disse que a decisão da Mitsui de entrar na produção de álcool reflete a intenção do governo japonês de efetuar a mistura de etanol na gasolina. “O Japão consome 60 bilhões de litros de gasolina por ano.” Com base nesse dado, Omae calcula que se for efetuada a mistura de 3%, a demanda japonesa será de 1,8 bilhão de litros anuais. Se aumentar para 10%, a demanda saltará para 6 bilhões de litros.


Embora essas projeções sejam bastante conhecidas e divulgadas pelo mercado, Omae acredita que este é o momento de entrar de vez neste setor. A empresa teme perder o “timing”. “O Japão já utiliza álcool indiretamente na gasolina por conta da mistura do aditivo etbe (éter etílico terc-butílico), que contém etanol em sua composição.”


A dobradinha com a Petrobras também deverá se repetir na área de logística para o escoamento de álcool. Mitsui estuda entrar como sócia da estatal no projeto de construção de alcodutos, ligando as regiões produtoras de álcool a partir de Senador Canedo (GO) até Paulínia (SP). Conforme Omae, a Mitsui também chegou a avaliar parcerias com o grupo Odebrecht, que tem projeto de construção de dez usinas no país para processamento de 40 milhões de toneladas de cana por ano. Mas a negociação não foi adiante.


A Mitsui já é uma das maiores exportadoras de álcool industrial para os setores de bebidas, farmacêuticos e químicos para o mercado japonês. O Brasil exporta cerca de 300 milhões de litros anuais deste tipo de álcool – a Mitsui responde por cerca de 25% a 30% deste volume. Segundo Omae, a companhia já possui experiência na produção de álcool. “A Mitsui é sócia de duas usinas de álcool em operação nos Estados Unidos e de outra unidade em construção.” Na Tailândia, a Mitsui controla duas usinas de açúcar, que exporta toda a produção para o mercado japonês.


Em grãos, a companhia já tem uma estrutura consolidada, mas quer ampliar seus negócios. No início do mês, o grupo associou-se à Multigrain AG – joint venture que também tem como sócios a PMG Trading e a cooperativa americana CHS – em um negócio de US$ 25,3 milhões. A Multigrain já exporta 1,5 milhão de toneladas de soja por ano ao Japão e tinha a Mitsui como um dos clientes. “O Brasil tem o maior potencial para ser fornecedor de produtos agrícolas para o Japão, mas hoje ainda perde para Estados Unidos.”


Na área de alimentos, a empresa também atua na exportação de sucos, uma vez que tem contrato com a Citrovita, do grupo Votorantim, para abastecer o mercado japonês com suco de laranja. A trading também tem parceria com a gaúcha Tecnovin para exportação de suco de uva para o Japão. A companhia mantém ainda no país um patrimônio de US$ 300 milhões em vagões ferroviários para transporte de grãos, por meio da empresa MRC Serviços Ferroviários e Participações, que aluga vagões para tradings como Bunge.


No país, as apostas são café e eletrônicos


Quando define suas estratégias para a Mitsui no Brasil, o presidente do grupo, Takao Omae, é enfático: “mercado doméstico”. Traduzindo: a Mitsui quer explorar o potencial de crescimento de consumo do país. O grupo já negocia café torrado e moído com a marca Café Brasileiro.


Segundo Omae, além de expandir a distribuição de sua marca no varejo, o grupo também faz suas apostas no mercado de eletrônicos. “Vamos iniciar a partir de outubro a distribuição de televisores, impressoras e copiadoras da marca Sharp”, disse. A empresa começa a demonstrar interesse no mercado de algodão. Mas ainda não há nada de concreto neste sentido.


Na área de serviços, o grupo aguarda decisão do governo brasileiro para aprovar um projeto que prevê o transporte ferroviário de pessoas em ferrovias do Nordeste. Para esse projeto, o JBIC (agência de fomento) já teria disponibilizado US$ 300 milhões.


A diversificação de seus negócios faz parte da filosofia da companhia, que passou por dissabores antes da Segunda Guerra Mundial, mas conseguiu dar a volta por cima e se tornar uma das gigantes globais na área de mineração e infra-estrutura. No Brasil desde o início da década de 70 – a empresa montou seu primeiro escritório de representação em 1960 -, a empresa é considerada uma das maiores tradings do Brasil.


Omae põs os pés no Brasil pela primeira vez em 1973. “Trabalhei como estagiário pela Mitsui para conhecer o mercado brasileiro.” Apesar do sotaque carregado, Omae já é considerado um cidadão brasileiro. Entre idas e vindas, já está há 20 anos no país e preside a subsidiária brasileira há sete anos. (MS e CB)

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