Depois de saborear as guloseimas típicas das festas de Natal e Réveillon,
começa a correria para perder os quilos extras, emagrecer e ter uma vida mais
saudável. Este desejo faz parte da lista de milhares de pessoas, porém, não é
realizado por todas. Uma das razões pode estar concentrada na ausência de uma
educação alimentar seguindo um cardápio nutritivo e equilibrado.
É preciso tomar cuidado com as dietas da moda, baseada em um único tipo de
alimento, por exemplo, como carboidratos ou sopas. Além disto, é muito
importante procurar informações corretas sobre a alimentação para não correr o
risco de ser enganado por mitos alimentares. Entre eles, o de que misturar manga
com leite faz mal, aponta Lígia Maria Fioravante de Carvalho, professora mestre
do curso de nutrição da Universidade do Sagrado Coração (USC).
De acordo com ela, para emagrecer de forma saudável e manter a forma é
fundamental incluir na dieta representantes de todos os grupos alimentares.
Neste contexto, vale ressaltar o velho conselho de consumir pratos coloridos,
além de estabelecer o mínimo de quatro e o máximo de seis refeições diárias.
Estas e outras questões, como distúrbios alimentares, suplementos e shakes e a
influência da mídia no apetite da população fazem parte da entrevista concedida
por Lígia Carvalho ao Jornal da Cidade. Confira os principais trechos.
Jornal da Cidade – Quais são os principais mitos
alimentares?
Lígia Maria Fioravante de Carvalho – Existe uma grande variedade de mitos,
desde àqueles antigos e regionais até dietas que utilizam um tipo específico de
alimento ou preparação como “dieta da sopa”, por exemplo. Os mitos alimentares
estão relacionados, muitas vezes, à cultura de uma população.
JC – Misturar manga com leite faz mal?
Lígia Carvalho – Não. Este é um mito popular muito antigo que foi passado de
geração em geração pela falta de conhecimento das pessoas. Mas não há nenhum
fundamento nisto.
JC – É verdade que comer cenoura crua faz bem para os olhos e
melhora a visão?
Lígia Carvalho – A cenoura é rica em caroteno (vitamina A), cuja função é a
manutenção da saúde ocular (visão), assim como manter a pele saudável. Isto se
deve ao fato da cenoura ser rica em vitamina A, mas outros alimentos de cor
amarelo ou alaranjado, como mamão e abóbora, têm vitamina A e consequentemente
são bons para a visão também.
JC – Consumir chocolate e coca-cola podem causar
vício?
Lígia Carvalho – Depende. Existem pessoas predispostas ao vício, o que pode
ocorrer com diversos alimentos, além de cigarros ou outras ações. A coca-cola
possui substâncias estimulantes, que causam sensação de bem-estar e, portanto,
podem até viciar pessoas predispostas ao vício. O chocolate possui substâncias
que proporcionam bem-estar também, mas, normalmente são as pessoas predispostas
que podem se viciar.
JC – Algumas pessoas acreditam que pães e farináceos engordam
muito e evitam comê-los para não engordar. Isto é mito?
Lígia Carvalho – Todo alimento pode engordar se consumido em excesso,
inclusive o pão e derivados.
JC – Comer muito à noite dá pesadelos?
Lígia Carvalho – Depende. Existem pessoas que têm uma sensibilidade gástrica
maior e, por isto, podem sentir mal-estar noturno.
JC – Quais são os malefícios causados por açúcares e
gorduras?
Lígia Carvalho – Os açúcares e gorduras podem causar prejuízos à saúde quando
consumidos em excesso. Nestes casos, podem provocar doenças cardiovasculares,
hipertensão arterial e outros. É importante moderar o consumo.
JC – Beber cerveja ou usar calça de cintura baixa estimula o
surgimento da indesejável “ barriguinha”?
Lígia Carvalho – A cerveja, quando consumida em excesso, será metabolizada em
triglicerídeos (gordura), com acúmulo principal na região abdominal. Para as
calças, não há associação quanto ao seu uso e o aumento da barriga.
JC – A gelatina reduz ou previne celulite?
Lígia Carvalho – Não tem nada comprovado. Fala-se muito da cartilagem, que é
bom para fortalecimento, ou de prevenção de celulite, mas tudo isso ainda é
mito. A gelatina é usada, muitas vezes, como uma opção para que as pessoas
consumam uma doce saborosa, que é menos calórica e dá uma consistência
interessante na preparação do alimento.
JC – O consumo de refrigerantes têm efeitos sobre os
ossos?
Lígia Carvalho – A cafeína que geralmente está presentes em alguns
refrigerantes, pode diminuir a produção do cálcio. É uma questão indireta,
porque em geral há um aproveitamento menor de cálcio com o consumo exagerado
deste tipo de alimento. As pessoas diminuíram muito o consumo de alimentos ricos
em cálcio, como leite e derivados, e isso sim, diminui a reserva de cálcio, o
que pode – associado com café e bebidas que têm uma grande quantidade de cafeína
– causar osteoporose.
JC – Em relação a dietas, qual é a melhor forma de se perder
quilos extras?
Lígia Carvalho – A dieta deve ser individualizada, dependendo da atividade
física realizada, dos hábitos gerais etc. A dieta precisa ser sempre moderada,
equilibrada e variada. Para isto, é importante consultar um profissional
especializado, como o nutricionista, para fazê-la da melhor maneira.
JC – Dietas da sopa, da lua, de carboidratos, dos pontos, entre
outras, são válidas ou não?
Lígia Carvalho – É importante conhecer o conceito de cada dieta e saber por
quem ela foi elaborada. A dieta dos pontos segue o princípio do equilíbrio,
moderação e variedade, e foi criada por pesquisadores sérios. Em primeiro lugar,
é importante avaliar estes princípios na dieta, e então definir se ela pode ser
seguida ou não. Por isto a ajuda profissional é tão importante.
JC – Qual é a base da dieta dos pontos?
Lígia Carvalho – Ela foi criada por um endocrinologista da Universidade de
São Paulo (USP) e tem como objetivo ajudar as pessoas a se alimentarem melhor.
Atribui-se um ponto para cada tipo de alimento, dependendo da quantidade de
calorias que a pessoa precisa em um dia. Tudo isso segue os princípios da
nutrição que proporcionam mais saúde. As pessoas devem ter cuidado com dietas da
moda cujo cardápio possuem apenas um tipo de alimento, como somente sopa, ou
proteínas. É preciso consumir todos os grupos alimentares de forma equilibrada,
moderada e variada.
JC – As pessoas devem ou não utilizar suplementos
alimentares?
Lígia Carvalho – Depende do caso. Pessoas com doenças específicas ou atletas,
em alguns casos, necessitam de suplementação. Já esportistas que realizam
atividade física esporádica ou periódica não precisam, na maioria das vezes, de
suplementação. Ressalto a importância do profissional nestas situações.
JC – É possível substituir uma refeição por shakes (para
emagrecer)? Por quê?
Lígia Carvalho – Desde que não atrapalhe o hábito alimentar, de forma geral.
Uma refeição até pode ser substituída, dependendo da importância da mesma, mas
todas as refeições, não. Às vezes elas compram o shake e gastam um dinheiro
grande com o produto para substituir praticamente todas as refeições e se ele
for usado desta maneira é péssimo, porque a pessoa não está mudando o hábito.
Está simplesmente usando-o para emagrecer. E tem determinados shakes que não se
sabe exatamente como é a sua composição. Pode usar desde que haja orientação de
um profissional e usar o shake para substituir uma ou outra refeição não tão
importante. Ele deve ser usado para melhorar o hábito alimentar e fazer com que
seu intestino funcione melhor e, consequentemente, perca peso.
JC – Como incentivar os filhos a comer corretamente?
Lígia Carvalho – O principal estímulo é o comportamento dos pais. Eles devem,
desde cedo, oferecer uma alimentação variada, atraente para as crianças, e
consumir uma alimentação balanceada para dar o exemplo aos filhos. A alimentação
colorida, com figuras e formato de “carinhas”, que atraem muito as crianças.
JC – Qual é a principal causa dos distúrbios alimentares, como
anorexia e bulimia?
Lígia Carvalho – Existe uma predisposição genética para a doença. As causas
do seu aparecimento podem ser diversas e, de acordo com estudos, ainda são
confusas. Podem ser o desejo por um corpo “perfeito”, na opinião delas, um
trauma específico que desencadeou o processo da doença, medo de atingir a idade
adulta e enfrentar as mudanças, entre outras.
JC – Como evitá-los?
Lígia Carvalho – É importante o estímulo por parte dos pais para uma
alimentação saudável, além da observação constante de alterações comportamentais
dos filhos, que podem favorecer o distúrbio.
JC – Qual é a diferença entre apetite e fome?
Lígia Carvalho – A fome é uma necessidade do organismo. O apetite pode surgir
ou não e está mais relacionado à vontade, ou seja, a pessoa não precisa estar
necessariamente com fome, mas com apetite para ingerir determinado alimento. Por
exemplo, ela está com vontade comer chocolate, mas não está com fome. Os
indivíduos confundem muito isto, acreditam que estão com fome, mas na verdade
estão com vontade de ingerir algum alimento.
JC – E esta motivação é fruto de comerciais e da
mídia?
Lígia Carvalho – A mídia influencia, por exemplo, quando a pessoa vê uma
propaganda de cerveja. Ela tem vontade de consumir a bebida devido ao efeito
sensorial, visual e olfativo. Às vezes a pessoa não tem uma necessidade
fisiológica, mas se sente motivada a consumir determinado alimento. E é isso que
faz com que as pessoas se percam na alimentação.
JC – Qual é o segredo de uma alimentação balanceada?
Lígia Carvalho – Manter sempre o equilíbrio, consumindo alimentos de cada
grupo, com nutrientes variados, moderação e variedade. Para isto, a pessoa deve
ingerir alimentos e preparações diferenciadas sem monotonia. A dica é para que
os indivíduos observem o hábito alimentar para corrigir erros de
comportamento.
JC – Qual é a proporção ideal de nutrientes (carboidratos,
proteínas, gordura, entre outros) recomendados pelos programas
alimentares?
Lígia Carvalho – Aproximadamente, para um indivíduo saudável, é recomendável
de 50% a 60% de carboidratos, 10% a 15% de proteínas e 20% a 25% de lipídios
(gordura ou alimentos gordurosos). O ideal é comer de quatro a seus refeições
diárias porque desta forma, a pessoa fraciona a alimentação e controle mais a
ansiedade e motivação para comer.
Fonte: http://www.jcnet.com.br/cadernos/detalhe_ser.php?codigo=94657