Ministério da Agricultura anuncia inovação no seguro rural para a soja durante abertura do 14º Congresso do Agronegócio da Abag

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento deve anunciar nesta semana um Programa Piloto para Seguro Rural voltado especificamente para os produtores de soja. A informação foi dada pelo secretário Nacional de Política Agrícola do ministério, André Nassar, durante a solenidade de abertura do 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, nesta segunda-feira (3/8), em São Paulo.

Segundo Nassar, o programa piloto visa reduzir o custo e aumentar o nível de cobertura. “O dinheiro público será usado de forma mais eficiente, ampliando o programa de seguro rural. Teremos uma grande mudança, que irá dar ainda mais credibilidade e previsibilidade para o Brasil”, afirmou. Para isso, os produtores serão chamados a apresentar suas propostas. Além disso, o secretário ainda ressaltou que, apesar do novo corte no orçamento anunciado pelo Governo Federal para a área agrícola, que gira em torno de 15% do orçamento total do Ministério da Agricultura, a intenção é não reduzir os valores destinados à defesa agropecuária.

O evento, que reuniu cerca de 800 participantes entre lideranças e empresários do agronegócio, foi aberto com a presença do governador Geraldo Alckmin e do ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo. Comentando sobre a crise atual enfrentada pelo país, Alckmin afirmou que temos de ter um esforço muito grande para cortar custos. “Nesse sentido, uma grande oportunidade de agregar valor e dar um salto através do sistema iLPF, com a integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que pode fazer toda a diferença”.

De acordo com o governador, além da agricultura, que tem auxiliado a atenuar a crise, dois outros setores são importantes e devem merecer atenção do governo: investimento num esforço exportador e na infraestrutura de logística. “Investir em obras de infraestrutura tem dois efeitos positivos imediatos: tira os gargalos da distribuição, ao baratear os custos de transportes e gera emprego. Para se ter uma ideia, a obra de uma única linha do metrô gera 5.100 empregos diretos”, disse.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, salientou que, em suas recentes viagens ao exterior só tem ouvido boas referências em relação ao agronegócio brasileiro. “Tanto na Rússia, na China e nos Estados Unidos, o produtor rural brasileiro não é visto apenas como um parceiro, mas também como uma referência mundial em eficiência e produtividade”, afirmou.

Segundo o ministro, os dois setores de maior interesse são a energia e a produção de alimentos. “O mundo vai precisar cada vez mais de alimentos, seja pelo aumento da população, ou pelo aumento da renda e isso exige, além da produção material, confiança jurídica, credibilidade e produtividade”. Em termos de produção de energia, Rebelo destacou o pioneirismo brasileiro no uso de álcool como fonte de energia ainda nos anos 30.

Seguindo o contexto analisado pelo ministro, o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, salientou que “nossos recursos naturais excepcionais convidam a mais investimentos baseados em tecnologia tropical, reforçando a competitividade do país. Nesse sentido, é fundamento um forte apoio de uma diplomacia brasileira aliada, abrindo portas relevantes nos países importantes, pois afinal de contas, dólar valorizado não é suficiente”, diz.

O presidente da Abag enfatizou ainda que o setor tem conseguido superar as crises. “Vivemos uma fase de mudanças de paradigmas em agricultura e energia. Estaremos vendo, ao mesmo tempo, uma revolução do agro como base em uma nova economia verde. Descarbonizar os combustíveis já é meta global. Intensificar a produção de grãos, no Brasil será fato e os ganhos de eficiência nas carnes será surpreendente. Estar dando suporte à participação do Brasil na próxima COP 21 será estratégico para o setor”.

Integração entre instituições públicas, privadas e academia

A palestra inaugural do 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio, intitulada “Sustentar é integrar”, foi ministrada por Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa, que destacou o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, e que, atualmente, vem sendo reconhecido internacionalmente por possuir uma produção de alto desempenho, baseada na crescente incorporação de práticas sustentáveis e pelo uso de ciência, tecnologia e inovação.

Em termos de práticas sustentáveis, o presidente da Embrapa citou o pioneirismo brasileiro em possuir uma agricultura com baixa emissão de carbono, por meio do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, a intensificação do sistema iLPF, e a competência da cadeia de produção de energia a partir da biomassa.

Lopes ainda ressaltou a importância de ter novos acordos e alianças necessárias para que o Brasil mantenha o protagonismo e liderança em novas áreas do agronegócio. No entanto, para isso, será importante que o país aumente o grau de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no segmento. Segundo dados da FAO, o Brasil investe apenas 5%, enquanto que China chega a 19% e os Estados Unidos, 13%. “Precisamos mudar o rumo de como estão as coisas. O acréscimo de recursos vai passar pelo ordenamento das instituições. Assim, vamos precisar de novos modelos para fomentar a inovação”. 

Nesse sentido, Lopes ressaltou os novos modelos de PPPs, como a rede de fomento ao iLPF, os processos de inovação aberta desenvolvidos pela Embrapa em parceria com empresas privadas, as unidades mistas de P&D com compartilhamento de infraestrutura e agenda, feita com a Unicamp, que permitirá possuir um pipeline nacional em biologia avançada, e a criação futura de uma subsidiária para fortalecer as interfaces da Embrapa com o mercado de inovação.

Em sua apresentação na palestra “Agronegócio Brasileiro, Produção 365 dias”, o economista Alexandre Mendonça de Barros, sócio consultor da MB Agro fez uma análise sobre a demanda mundial por alimentos, observando que a Ásia deve continuar com a procura aquecida. Dessa forma, o agronegócio brasileiro tende a ser pressionado a ampliar sua produção. “O Brasil precisa estar preparado para esse desafio e, nessas circunstâncias, ganha importância, por exemplo, o sistema iLPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta que tem uma série de vantagens econômicas e ambientais”, afirmou. O consultor salientou, no entanto, que a aplicação desse sistema tem sido bem sucedida em propriedades de pequeno e médio porte, mas o desafio é aplica-lo em larga escala em grandes propriedades.

Considerado um dos maiores especialistas no sistema iLPF, Paulo Herrmann destacou que a meta é chegar em 2020 com um total de 10 milhões de hectares cultivada com esse sistema. “Além das vantagens econômicas e de manejo do solo, o sistema também tem um enorme apelo ambiental, uma vez que nos projetos hoje já implantados e que chegam a 3 milhões de hectares, o volume de carbono sequestrado por hectare chegou a 1,5 tonelada”, afirmou Herrmann.

Para que o sistema iLPF se desenvolva ainda mais, Herrmann entende ser necessário uma série de ajustes em termos de legislação creditícia e do trabalho. “No caso do sistema, temos de capacitar o trabalhador do campo nos mesmos moldes do que é feito na indústria. Necessitamos hoje de um funcionário multidisciplinar, que atue nas três áreas: lavoura, pecuária e na atividade florestal”, diz Herrmann. Outra mudança preconizada por ele é em relação à revitalização da extensão rural, mas com um viés privado e não público.

Homenagens

Os organizadores do Congresso da Abag prestaram homenagem especial a Moacyr Corsi, professor titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq – USP), que recebeu o Prêmio Norman Borlaug. Também foi homenageado durante o Congresso da Abag, com o Prêmio Ney Bittencourt de Araújo, Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras.

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