29/05/2012
Com café e gado, os donos da Emccamp Residencial, a incorporadora que mais constrói casas populares para o governo federal, também estão construindo uma história no campo
ALECIA PONTES, DE PRESIDENTE OLEGÁRIO (MG) | Dinheiro Rural
Da mesma maneira que um alicerce malfeito pode provocar rachaduras nas paredes de uma casa, a ponto de condená-la a transformar-se num monte de entulho, construir uma fazenda que produz com qualidade também depende de uma boa base de sustentação para que a “obra” não desmorone. Pelo menos é assim que a família Pinheiro Campos, dona da construtora mineira Emccamp Residencial, a empresa que mais constrói moradias populares para o programa do governo federal Minha Casa Minha Vida — com mais de 20 mil unidades por ano —, justifica os resultados que vem obtendo nas duas atividades: a construção de casas, de um lado, e do outro, a criação de gado nelore e a produção de café. “Toda base é fundamental para um negócio dar certo”, diz Eduardo Pinheiro Campos Filho, diretor financeiro da Emccamp e da Terra Brava Agropecuária, com três fazendas no sul de Minas Gerais. A previsão de (aturamento das duas empresas é de R$ 520 milhões em 2012, dos quais R$ 20 milhões devem vir da agropecuária. “Evidentemente que os negócios urbanos são muito maiores que os rurais, mas eles nunca foram desprezados”, diz Eduardo Filho. A Terra Brava detém 3,5 mil hectares nos municípios de Presidente Olegário e Patos de Minas, região de terras valorizadas onde um hectare pode chegar a valer, em média, R$ 3,5 mil.
Pelo menos duas vezes por mês, o jatinho da família leva Eduardo Filho e seu pai, Eduardo Pinheiro Campos, de Belo Horizonte, onde está localizado o QG da Emccamp, até as fazendas Boa Sorte, São João Grande e Dona Neném. Da pista de pouso à sede das fazendas, pai e filho percorrem as mesmas estradas de terra batida nas quais o avô, conhecido em Minas como coronel Chico Cambraia, passava pelo menos quatro décadas atrás. “Meu avô sempre deu aula de como trabalhar a terra”, diz Eduardo Filho. “A meta dele era a modernização das lavouras de café e o melhoramento genético do gado.” O coronel Chico Cambraia criava gado zebu havia mais de 50 anos, mas ainda não era o nelore de hoje. “Naquela época, a raça gir reinava absoluta”, diz Eduardo Filho. “A partir da década de 1960, ele passou para o nelore, como fizeram quase todos os criadores de zebu deste país.”
Nos últimos anos, por ter uma extensão de terras hoje considerada pequena para uma pecuária extensiva, a Terra Brava começou a intensificar a produção e agregar valor ao negócio. “Nos 2,9 mil hectares de pecuária, optamos por melhorar o rebanho e vender animais para os pecuaristas que não têm tantos recursos para melhorar seus rebanhos ou têm como foco somente a criação de gado comercial”, diz Eduardo Filho. Na Terra Brava, o rebanho é de mais de 1,5 mil animais registrados na ABCZ, dos quais 600 são fêmeas destinadas ao melhoramento genético. O trabalho intenso de seleção elevou o índice de prenhez dessas fêmeas para 90% ao ano, o que significa mais bezerros nascidos no rebanho. Em geral, para os pesquisadores, índices acima de 85% no rebanho são considerados muito bons.
Atualmente, a Terra Brava, que planeja faturar R$ 18,5 milhões em 2012, vende 150 tourinhos, filhos das melhores fêmeas do rebanho, e 30 mil sacas de café por ano. Ainda falta incluir nessa conta a venda de 60 mil doses de sêmen, produzidas por quatro touros mantidos na central de inseminação artificial Alta Genetics, em Uberaba (MG). Com o sêmen, o faturamento previsto para este ano é de R$ 1,5 milhão (leia quadro). Mas nem sempre foi assim, apesar do empenho do avô e do pai de Eduardo Filho. “Eles são de uma época em que as tecnologias mais avançadas de reprodução do rebanho e de cuidados com a lavoura estavam engatinhando”, diz.
Na pecuária, de acordo com o criador, o trabalho atual está focado na produção de touros próprios, com qualidades para fornecer sêmen para uma central de inseminação. Eduardo Filho já investiu R$ 4 milhões no melhoramento genético dos animais e na infraestrutura das fazendas nos últimos cinco anos e pretende investir mais R$ 6 milhões nos próximos cinco anos. “0 descarte das fêmeas que não emprenham tem sido radical”, diz Eduardo Filho. “A ordem é não dar nenhuma chance àquelas que falham e não possam gerar bons filhos.” A regra é inflexível e se aplica inclusive às fêmeas Puras de Origem (POs), registradas na Associação Brasileira de Criadores de Zebu. Para isso, o pecuarista, que até 2007 tinha um rebanho de 840 fêmeas registradas, mandou ao abate 40% delas.
Nos planos da Terra Brava está o aumento do rebanho de boas fêmeas para cinco mil animais, a partir do atual núcleo de seleção. “Essas fême as vão produzir touros melhoradores que poderão ser vendidos a uma média de R$ 8 mil”, diz Eduardo Filho. “São touros para os criadores que precisam melhorar seus rebanhos de fêmeas comerciais e com isso produzir bezerros mais pesados, para que sejam abatidos até os 24 meses.”
No cafezal, o trabalho tem sido mais fácil que na pecuária. Hoje, a lavoura de 600 hectares, totalmente mecanizada e irrigada com tecnologia israelense, produz 50 sacas de grãos por hectare, muito acima da média nacional, em 2011, de 22 sacas por hectare. “Mas ainda queremos melhorar a produção”, diz Eduardo Campos. Para ele, é possível chegar a grãos ainda mais puros e obter prêmios por qualidade.
Para medir sua evolução no campo, a Terra Brava tem participado de concursos internacionais com o café de marca própria Dona Neném, uma homenagem à sua mãe. No Japão, a marca conseguiu o primeiro lugar e na Itália ficou em terceiro, em disputas com cafeicultores de outros países. Em novembro passado, a fazenda sagrou-se vencedora na 49 Prova de Cafés Certificados Imafiora, da Rainforest Alliance, uma das principais certificadoras do mundo.
Na fazenda, para fazer marketing internacional, foi construída uma sala de degustação da bebida. Na época de colheita do café, de junho a agosto, a sala da casa principal fica repleta de visitantes. “São japoneses, tailandeses, americanos, franceses, que passam horas trocando ideias e experimentando os cafés cultivados na fazenda”, diz Eduardo Campos. “Com isso, eles levam a seus países uma impressão positiva do Brasil.”