BIANCA MELO
Os grãos de café produzidos em Minas Gerais estão cada vez mais selecionados. Entre os 24 melhores produtos vencedores do terceiro concurso de Cafés Naturais do Brasil, 20 estão em Minas.
A seleção, promovida pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), inclui ainda três grãos de São Paulo e um da Chapada Diamantina, na Bahia. Em maio, os produtores vão representar o país na avaliação internacional na Suíça.
Foram 95 lotes de café inscritos e só entraram no processo fazendas com certificação ambiental, social e de segurança alimentar. Conforme definição da entidade, podem ser considerados cafés naturais os grãos com secagem lenta ao sol.
O processo permite a migração de açúcares da polpa para o grão, resultando em uma bebida mais encorpada. Um dos escolhidos, o produtor Esmerino Joaquim Ribeiro de Vale, de Guaxupé, no Sul de Minas, revela que seu processo de produção mudou nos últimos anos.
“Temos que crescer, mas pensando no bem-estar dos empregados e no ambiente, o que resulta em mais credibilidade”, diz. Ribeiro de Vale, há 42 anos no ramo, herdou da família a prática da atividade cafeeira. Vale levou mesmo a sério a política de qualidade em suas propriedades.
Com sua produção atual de cerca de 50 mil sacas por safra, ele acumula atualmente as classificações de bicampeão em qualidade pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e ocupa o quinto lugar no ranking da mesma instituição de cafés especiais do Brasil.
Vinho de qualidade
“As pessoas estão aprendendo a beber café e descobrindo que um bom café é como um vinho de qualidade”, diz. Outro atrativo dos cafés especiais, explica o produtor, é o mercado. Enquanto a venda dos cafés comuns cresce entre 1% e 1,5%, a de cafés especiais tem aumento entre 10% e 12% ao ano.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria Cafeeira do Estado, Almir Filho, os produtores adquiriram técnicas de plantio muito apuradas e os cafés chegam ao mercado com preços de R$ 7 a R$ 100 o quilo.
Enquanto Minas é campeã em grãos selecionados, é o Estado de São Paulo o responsável pelos melhores cafés industrializados. Isto porque, segundo Almir Filho, do total produzido por Minas, apenas 12% são industrializados no Estado.
Tanto que do ranking dos 29 melhores cafés prontos vendidos no Brasil, divulgados pela Abic, apenas quatro são beneficiados em Minas.
As características da região produtora, os tratos culturais, nível de insolação, ponto certo da colheita e tratos no processo de secagem influenciam diretamente na qualidade do café, como explica Almir Filho.
“Existem muitos processos de medição da qualidade do café, mas para mim o melhor é o que atinge melhor preço”, afirma. Para analisar o valor, os compradores avaliam o sabor, o aroma e o corpo (espessura) da bebida.
Zona da Mata adapta plantio e deve superar expectativas
Depois de quatro anos, Minas deve conseguir retomar sua participação no mercado nacional de café, ultrapassando a fatia de 50%. A aposta é do presidente do sindicato da Indústria de Café de Minas, Almir Filho.
Na safra passada (2005/2006), a produção equivaleu a 46,2% do total e ele calcula que a próxima fique acima dos 51%. A última vez que o percentual ficou acima dos 50% foi em 2002, quando a safra produzida no Estado alcançou 52%. Para Almir, as maiores surpresas devem vir da Zona da Mata.
O antigo “patinho feio” da indústria cafeeira, de um tempo para cá, adaptou o plantio de café às características geográficas. “Eles vão produzir mais que o esperado porque os produtores estão plantando com atenção aos vários microclimas da região”, afirma.
Liderança
Levantamento da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas (Faemg) apurou que até 1969, o Paraná era o maior produtor com 45,3% da área plantada de café. Minas estava longe do topo com apenas 11% de participação.
Em 1981, São Paulo passa a ocupar o primeiro lugar com 34% do plantio, deixando para trás o Paraná, que, a essa altura, detinha 25%. Com o tempo, Minas foi crescendo em participação, enquanto São Paulo e Paraná perdiam posições. Há dez anos, Minas se mantém na liderança.
“Quer dizer que montamos uma boa estrutura de produção”, comemora o assessor da comissão de Café da Faemg, Rodrigo Pontes. Além de Minas, produzem café os Estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Roraima, Goiás e Pernambuco.