Belo Horizonte/MG – Uma das alternativas que podem ser utilizadas para reduzir o impacto das mudanças climáticas sobre os cafezais é o plantio de árvores na mesma área reservada aos pés de café. As possibilidades e limitações do sistema foram debatidas na última terça-feira (8), no auditório da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), por especialistas do Governo do Estado, governo federal, universidades e entidades dos produtores.
Para o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Gilman Viana, o debate de questões como esta é necessário porque o efeito estufa é uma realidade e as hipóteses mais otimistas são de aumento da temperatura média de 1,6 a 2 graus centígrados até o final do século, se todos colaborarem para evitar o agravamento da situação. “Se não fizermos nada para evitar o pior, a temperatura poderá aumentar até 6 graus em média. Por isso, temos de nos preparar para conviver com os efeitos da alta temperatura na pecuária, na agricultura e na oferta de água,” disse o secretário.
O professor Ricardo Henrique Santos, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), apresentou projeções de aquecimento até 8 graus centígrados em Minas Gerais por volta do ano 2100 e observou que a arborização poderá reduzir esse impacto em cerca de 3 graus, no máximo. “A situação vai impor mudanças profundas, entre elas a incorporação de áreas de cultivo em locais mais altos e frios tradicionalmente dedicadas ao plantio de frutas e flores, por exemplo.”
Conforme as previsões, o café pode ser prejudicado de diversas formas, como o surgimento de flores inférteis nas plantas, o aumento da incidência de pragas como a ferrugem, o bicho mineiro e outras – ocasionado pela escassez de água –, a redução do tamanho dos frutos, a perda excessiva de folhas e a queda de produção. O professor Ricardo Santos considera que o problema do déficit hídrico, por exemplo, será um dos mais graves porque o custo vai inviabilizar a irrigação das lavouras.
De acordo com Ricardo Santos, a cafeicultura arborizada contribui para controlar os prejuízos do efeito estufa ao reduzir a temperatura e a radiação nas áreas plantadas. Além disso, acelera a germinação e assegura a safra do ano seguinte, e o solo fica sob proteção, beneficiando a existência de microorganismos.
O conferencista ressalvou que, a exemplo dos cafezais arborizados do México, que dão apenas 10 a 15 sacas por hectare, os cultivos de Minas Gerais também poderão ter sua produtividade muito reduzida. Uma das contrapartidas, segundo o professor da UFV, é a de que os cafés produzidos nesse sistema contam com certificação especial e preços melhores, porque agregam a manutenção da biodiversidade. “É uma boa oportunidade para incorporar os serviços da agricultura familiar no cultivo de florestas”, enfatizou.
A organização dos pequenos produtores, inclusive para terem acesso às certificadoras que vão possibilitar sua inserção no mercado internacional, será uma das exigências na nova situação. Outro desafio será a definição dos cultivos que poderão compor as florestas nas áreas de café, e o governo terá de definir políticas públicas para a plena adoção do sistema, inclusive com a criação de linhas de crédito para os custos iniciais da certificação do café.
O pesquisador Rodrigo Luiz da Cunha, da Epamig, informou que estão sendo testadas cultivares novas, principalmente para atender às condições de temperatura em lavouras do Norte, Nordeste de Minas, Triângulo e Alto Paranaíba, entre outras.
“A Epamig faz estudos com a cafeicultura arborizada prestando muita atenção em efeitos como a ferrugem e outros, porque a competição das culturas por água e nutrientes favorece o aumento das pragas”, assinalou o pesquisador. Segundo Rodrigo da Cunha, são indicadas atualmente para a arborização dos cafezais algumas leguminosas, oleaginosas, frutas, as macadâmias e o pinhão manso, que se encontra atualmente com alta cotação para a produção do biodiesel.