Minas Gerais: diversificação tira produtores da crise


Em época de crise na agropecuária brasileira, a predominância de poucas atividades dentro da propriedade rural coloca em risco a vida financeira dos produtores. Especialistas e lideranças do setor defendem que agora mais que nunca a diversificação deve ser a principal estratégia dos ruralistas sejam eles grandes, médios ou pequenos donos de terra.



Em Uberlândia, o índice de diferenciação das atividades produtivas é considerado satisfatório pelo Sindicato Rural do Município. Embora ainda existam produtores que preferem investir apenas nas lavouras de soja e milho, a parcela de fazendeiros que possui diversas fontes de renda é bem maior. Ou seja, há anos, a monocultura deixou de ser a opção mais comum na região e a diversificação já não é mais característica apenas das propriedades voltadas para a subsistência.


Segundo o presidente do sindicato, Paulo Roberto Andrade Cunha, a pequena parcela de monocultores do Município continua nesta posição por causa dos investimentos. ‘Eles querem se profissionalizar em determinadas atividades. Mesmo assim todos já sabem que o caminho certo é partir para a diversificação. É essencial ter um planejamento de viabilidade econômica quando existe possibilidade de investimentos. Tudo isso influencia na hora de obter os rendimentos’, ressalta.


A escolha por diferentes atividades é a melhor alternativa para sobreviver às turbulências do setor e diminuir a dependência de culturas sazonais, que geram receita uma vez por ano. A pecuária leiteira, por exemplo, dá rendimentos mensais independentes do volume de produção e das variações do mercado. ‘Temos uma boa demanda na região. A Calu atende os pequenos produtores que encontram no leite uma atividade que dá dinheiro todos os meses’, explica Helvio Carlesso, engenheiro agrônomo da Emater de Uberlândia. No entanto, mesmo sendo a melhor opção, o especialista conta que nem sempre a diversificação é adotada da forma correta. ‘Às vezes, os produtores querem investir em muitas atividades e ficam sem um foco principal. Na verdade, eles precisam identificar qual é a melhor alternativa e trabalhar para aumentar a produtividade naquela atividade e complementar com outras. Assim os custos começam a cair e a receita cresce ao mesmo tempo’, ensina.


Na busca pela redução das despesas, o proprietário da Fazenda Água Limpa no Município de Uberlândia optou pela diversificação e já colheu bons resultados. Na mesma propriedade, ele mantém criação de peixes, aves, suínos, recria e engorda de bovinos, cafeicultura, lavouras de soja e milho e ainda cria e recria de cavalos para corrida. ‘O principal objetivo nesta estratégia é complementar uma atividade com outra. A cultura de suínos, por exemplo, gera adubos para o café assim como a cama do frango que também é utilizada. Cada atividade tem a sua participação. Assim os custos ficaram menores e o faturamento da fazenda aumenta’, conta o administrador, Fernando Fernandes de Sousa Silva.


Mapa rural


O mapeamento da zona rural de Uberlândia está em processo de formulação pela Secretaria de Agropecuária e Abastecimento. O levantamento dos dados começou há 10 dias e deve ser finalizado em setembro. Enquanto as características sobre as propriedades da região não são conhecidas, mesmo porque as informações atuais estão desatualizadas, é possível afirmar que a maioria dos pequenos produtores do Município sobrevive da venda de hortaliças, ovos, suínos, leite, entre outros itens primários. ‘São produtos que possuem maior fluidez. São fáceis e rápidos para vender. Estes produtores já são diversificados por natureza em função da agricultura familiar’, complementa o engenheiro agrônomo da Emater.


Diversificação é a saída para alcançar mais rendimentos


Na região de Uberlândia, a maioria dos grandes produtores deixou a monocultura de lado e agora se dedica à diferenciação de produtos. Muitos já descobriram que a integração entre lavoura e pecuária é a opção para garantir melhores rendimentos neste momento de crise. Além disso, a cana-de-açúcar deve ser uma nova alternativa para os próximos anos. ‘Aqueles produtores que tiveram condições de investir nesta nova cultura vão conseguir bons resultados’, disse Helvio Carlesso, engenheiro agrônomo da Emater.


O empresário Júlio César Pereira está no ramo agropecuário há 13 anos e já presenciou grandes mudanças dentro da própria propriedade. Para ele, diversificar significa ‘não colocar todos os ovos dentro de uma única cesta’, ou seja, investir sempre em várias opções e obter alternativas de renda. Atualmente, ele trabalha com gado de corte e leiteiro e possui 2,7 mil hectares divididos entre soja e milho na rotação de cultura.


Mesmo com todos os obstáculos enfrentados nestes últimos dois anos, quando os custos de produção ficaram mais caros com a valorização do real diante do dólar, Júlio César já decidiu que vai continuar persistindo no mesmo ramo e nas mesmas atividades. ‘Não é hora de fazer novos investimentos. Eu vou diminuir de 10% a 15% a minha área plantada de lavoura para o próximo ano, mas vou me manter no mercado. Ainda acredito que agricultura vai voltar a dar lucro. Mesmo com todos os problemas, neste contexto atual, o faturamento da lavoura ainda é maior que das outras opções’, conta.


O médico veterinário e produtor uberlandense Cristiano Pereira Barbosa também é um exemplo de fazendeiro que possui investimento em mais de uma atividade. Junto com o pai e o irmão, ele comanda duas propriedades rurais de 900 ha e 480 hectares. Ambas são arrendadas para a soja e milho que geram rendimentos de 15% da colheita anual. Além disso, os produtores ainda possuem vacas leiteiras, cria de bezerros e recria de fêmeas. ‘O leite é a nossa única fonte de renda fixa mensal. São cerca de 700 litros diários, em média 7 litros de cada vaca. É uma baixa produção, mas que nos dá rentabilidade todos os meses. O gado a pasto sem ração custa muito menos e gera receita para a fazenda se manter e para os novos investimentos’, disse. Segundo ele, a diversificação das atividades é essencial, pois uma alternativa complementa a outra. ‘A palhada da soja, por exemplo, serve para alimentar o gado durante três meses. Isso ajuda a fechar as contas e não ficar no prejuízo’, avalia.



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