Mário Campos/MG – Com a expectativa de atrair a participação de 150 agricultores familiares, acontece nesta quinta-feira (25), no Centro Comunitário de Bom Jardim, o 1º Fórum das Águas de Mário Campos. A realização é da Prefeitura Municipal, em parceria com a Emater-MG.
O município, que fica na região Central do Estado e tem na horticultura sua principal atividade agrícola, enfrenta, como outras cidades mineiras, os efeitos da estiagem prolongada em áreas localizadas. Dois dos três córregos que abastecem a cidade estão quase secos, o que vem prejudicando produtores e meeiros que dependem dessas águas para irrigar as hortas, segundo o engenheiro agrônomo da Emater-MG local, Luiz Bruzzi Andrade.
Participam do evento, representantes do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e Ministério Público. A proposta é informar aos produtores, seus direitos e deveres, no contexto ambiental. Luiz Andrade vai falar sobre a importância dos cuidados com o meio ambiente.
Entre as ações de convivência com a seca, comum nesta época do ano, a Emater-MG tem dado especial atenção à educação ambiental, em vários municípios. Segundo o engenheiro agrícola da Unidade Regional de São Francisco, Geraldo Magela Freire Magalhães, a empresa tem lançado mão de seminários ambientais, com palestras ministradas pelo corpo técnico da Emater-MG e de parceiros, como Igam, Polícia Ambiental e Promotoria de Meio Ambiente. Também tem realizado Dias de Campo, para mostrar como os agricultores familiares podem adotar medidas de preservação do meio ambiente, com cuidados com os cursos d”água, o solo e os animais.
“Ensinamos como construir, por exemplo, bacias de captação de água de chuvas (barraginhas)”, diz Magela. Ele explica que as barraginhas são pequenos buracos feitos para coletar o excesso de água da chuva. “De tal modo que a água possa ir se infiltrando no solo e alimentando o lençol freático, que por sua vez vai alimentar rios e nascentes”, explica. Outro trabalho importante é o da Educação Ambiental Itinerante. O projeto, desenvolvido em parceria com o Ministério Público do Estado, está levando conhecimento, práticas e ações, com ênfase na gestão ambiental, por meio de uma van que percorre vários municípios da região do rio São Francisco, promovendo palestras e demonstrações práticas, ministradas por uma equipe da Emater-MG. Desde que iniciou suas atividades, em agosto, a van já percorreu cerca de 15 municípios.
Prejuízos da seca
Os 14 municípios de abrangência da Regional São Francisco têm sofrido com os efeitos da seca na região, com impacto principalmente na pecuária. No município de São Francisco, por exemplo, a produção de leite teve uma redução de 60% e a cultura de feijão, redução de 80%. Os 18 mil agricultores das 180 comunidades rurais padecem pela falta de água para abastecimento humano e animal. De acordo com Geraldo Magela, as rápidas pancadas de chuvas dos últimos dias não motivaram ainda o preparo do solo para o plantio das culturas da temporada.
“A falta de chuvas está atrasando o plantio, pois faz parte do costume dos agricultores locais, só iniciar o preparo quando chove o suficiente para deixar o solo úmido. Enquanto isso não acontece, eles vão guardando os restos da safra passada para uso próprio e para alimentar o gado”, esclarece o engenheiro agrícola. Apesar disso, os extensionistas vêm orientando os produtores a adotar práticas como manter uma reserva alimentar e de água para o período de seca, assim como cultivar culturas mais resistentes ao clima seco e quente, como mandioca, sorgo forrageiro e cana-de-açúcar.
Nos municípios da Regional de Governador Valadares, a falta de chuva e o intenso calor, provocados por uma estiagem de dois meses, também estão acarretando prejuízos na pecuária e agricultura da região do Vale do Rio Doce. Segundo apuração do técnico regional de Culturas e Horticultura, Wagner Santos Fani, estão ocorrendo mortes de animais nos municípios de Inhapim, Conselheiro Pena, Mantena, entre outros.
A quebra na produção de leite é da ordem de 20%, conforme relato de duas das maiores cooperativas da região, a Cooperiodoce e Cooperativa de Conselheiro Pena. As áreas de plantação estão aradas e gradeadas, prontas, portanto, para o plantio do milho, mas as chuvas ainda não chegaram, o que deve atrasar a atividade. No caso da cultura do café, a previsão é que a próxima safra poderá ter perdas de 20 a 40%, “se continuar forte a estiagem e as chuvas forem insuficientes na região”, conforme o técnico.
A cafeicultura também deverá sofrer com a seca em outras regiões do Estado. Informações da Unidade Regional de Muriaé dão conta de que, com a florada comprometida, haverá queda de 30% na produção de café. A estimativa de perda é a mesma na Regional Capelinha. “Até a presente data (22 de outubro), a perda estimada para a próxima safra é de 30%, já que cerca de 3% a 5% dos pés de café atingiram o ponto de murcha permanente”, ressalta o coordenador regional Ismael Mansur Furtado. Na Unidade Regional de Diamantina, a perda estimada é de 35% na produção da próxima safra de café não irrigado, segundo o gerente Geraldo Durães Pereira. Enquanto na Zona da Mata, a estimativa de perdas é de 20%, “desde que, o período chuvoso se normalize”, condiciona o relatório do gerente da Regional Viçosa, Bernardino Cangussu Guimarães.
Também nos municípios que integram a Unidade Regional de Unaí, no Noroeste mineiro, a estiagem de quase seis meses está surpreendendo os produtores rurais e deixando marcas sérias na agricultura e pecuária dos municípios de Arinos, Formoso, Paracatu e Riachinho, de acordo relato de coordenadores da Emater-MG. As mortes de animais em Unaí estão estimadas em cerca de 350 cabeças, mas as informações serão melhor caracterizadas pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), após a vacinação de novembro, na previsão de técnicos do órgão. Segundo o coordenador técnico regional de Culturas, Álvaro Moura Goulart, as chuvas “leves” do último sábado (20 de outubro) e da terça-feira (23 de outubro) estão atrasando o plantio de grãos, embora as terras estejam prontas para receber as sementes de milho e soja. “90% do plantio deve ser feito até 30 de novembro, pois quanto mais cedo, melhor para a produtividade”, alerta.