08/01/2013
A China é, desde 2008, o maior país importador do agronegócio brasileiro e em 2013 pode ultrapassar a União Europeia, maior bloco importador do setor. Em cinco anos, as vendas de itens agropecuários brasileiros saltaram de US$ 2,5 bilhões para US$ 14,6 bilhões, conforme dados do Ministério da Agricultura. Em 2011, a pauta de importação de produtos relativos ao agronegócio cresceu 99% ante 2008, atingindo US$ 220 bilhões, apontam números compilados pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Nesse período, o peso do agronegócio na pauta de importação da China passou de 10,3% para 13,3%.
Apesar do crescimento das exportações brasileiras, a fatia do país nas importações chinesas do agronegócio é relativamente pequena, segundo o CEBC, e representa apenas 12,7% do total importado. Para mudar esse quadro, especialistas ouvidos pela Agência Estado apontaram oportunidades de avanço do Brasil no mercado chinês neste ano em milho, açúcar, carnes, café e suco de laranja.
Milho – O cereal é um dos produtos mais citados quando o assunto é aumento das exportações para a China em 2013. Neste ano, o cereal brasileiro pode roubar espaço do norte-americano. “Com a seca nos Estados Unidos, tendemos a aumentar o market share na soja e no milho em 2013”, diz o sócio-diretor da Agrosecurity, Fernando Pimentel. “A sobreoferta de milho este ano nos permite participar mais do mercado internacional. O câmbio melhor também favoreceu o custo de transporte.”
Para o diretor geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), André Nassar, a indústria de carnes chinesa depende cada vez mais de ração importada, o que deve beneficiar o Brasil. “No caso do farelo, a China já é dependente de importações. Com relação ao milho, o país compra cada vez mais do exterior”, assinala. Entretanto, o cereal brasileiro compete com a soja na hora do embarque. “O Brasil não consegue exportar bem os dois ao mesmo tempo por causa do congestionamento dos portos”, destacou Nassar.
De acordo com dados compilados pela consultoria Céleres, desde 2010 a China tem ampliado suas compras de milho brasileiro. Se no acumulado de janeiro a novembro de 2010 a China havia importado quase 11 mil toneladas; em igual período de 2012 esse volume chegou a quase 80 mil toneladas. A Céleres destacou que, apesar de o volume ser baixo, há crescimento nas compras do país ao longo dos anos e a tendência é de aumento pela elevação da renda e da população chinesa.
Açúcar – No caso do açúcar, as oportunidades decorrem do aumento do consumo de produtos industrializados provocado pela migração da zona rural para os centros urbanos do país. O açúcar representou apenas 7,3% do total de produtos agropecuários importados pela China do Brasil no ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento compilados pelo CEBC. No entanto, a receita das exportações do produto para a China cresceu mais de 5.000%. Pesa a favor do Brasil o fato de que os concorrentes em fornecimento para a China, como a Austrália e a Tailândia, não têm condições de expandir muito a produção no curto prazo, argumentaram Pimentel e Nassar. Já a Índia, segundo maior produtor mundial, precisou importar açúcar este ano por conta do atraso das monções, que prejudicou a safra no início da temporada.
De acordo com Thiago Masson, coordenador de Assuntos Internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), outro fator que pode impulsionar as vendas sucroalcooleiras é o desejo do governo chinês de elevar o uso de combustíveis renováveis na China, o que pode abrir espaço para o etanol brasileiro. De janeiro a novembro deste ano, o Brasil vendeu 1,99 milhão de toneladas de açúcar para a China, 6,88% menos que nos 11 primeiros meses do ano passado.
Carnes – No segmento de carnes, Pimentel vê mais espaço para carnes de frango e suína brasileiras na China, também por conta do aumento do rendimento médio chinês. Nassar pondera, entretanto, que a importação de carne não cresce com o mesmo vigor que a de soja, por exemplo. “Os chineses preferem investir na indústria local”, afirma. A importação chinesa de carne tem aumentado, mas os hábitos alimentares são diferentes. “A China não compra tanto peito e perna cortada, e sim pé e carne mecanicamente separada”, sublinha Nassar. Mesmo com a diferença de hábitos, as exportações de carne brasileiras subiram de 29 mil toneladas em 2006 para 198,90 mil toneladas no ano passado.
Para ele, a Ásia representa nova fronteira das carnes para o Brasil. “Temos um modelo de exportação de carne orientado para a Europa. Depois, expandiu para o Oriente Médio e, agora, a Ásia”, apontou. Segundo Nassar, a grande questão é como ser competitivo com um corte de baixo valor do outro lado do mundo. “Qualquer barreira imposta pela China já atrapalha o mercado.” Segundo ele, se o Brasil quiser ampliar muito a participação nesse mercado, precisa investir em distribuição, buscando parcerias com empresas chinesas. Masson defende o mesmo. “A grande dificuldade é a consolidação e prospecção de parceiros locais. Distribuição é um ponto crítico.”
Café e suco – Com o processo de urbanização e abertura da China, produtos que não costumavam ser consumidos pelos chineses passaram a integrar o cardápio diário. “A urbanização faz com que os habitantes adquiram novos hábitos alimentares. Já o processo de abertura política e econômica chinesa leva a um processo de ocidentalização das tradições de consumo”, diz Masson. Conforme o executivo, isso deve beneficiar principalmente o café e o suco brasileiros, ainda pouco consumidos pelos chineses. Em 2011, a China importou do Brasil apenas 1,65 mil toneladas de café e 54 mil toneladas de sucos de frutas.
O café tem na China um concorrente com tradição milenar, o chá. No entanto, o consumo vem aumentando principalmente fora de casa, destacou o executivo. Uma das alternativas para comercialização do produto brasileiro é o café solúvel, que tem preparo semelhante ao do chá. Outra possibilidade é o próprio café embalado, uma vez que o consumo vem se disseminando com a abertura de cafeterias na China, principalmente em Xangai e Pequim. “Hoje, boa parte do café consumido na China vem do Vietnã. O Brasil tem trabalhado principalmente na qualidade do café para ter possibilidade de crescer no mercado chinês”, ressaltou. De acordo com a CNA, o suco de laranja brasileiro é outro item que pode ganhar espaço na China. Além da questão da ocidentalização dos hábitos, o consumo de suco está diretamente relacionado ao aumento do poder de compra.
Outros itens – De acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China, também há oportunidades significativas em mercados em que o Brasil representa menos de 1% das importações da China e o país asiático importa mais de US$ 1 bilhão por ano, como madeira e derivados, peixes, frutas, leite e derivados e vinhos.