DCI
10/02/15
Cenário. Enquanto o governo realizou só um terço do recursos previsto em 2014, grupos como CMA CGM e a Hamburg Süd fazem aportes em novos navios para avançar em competitividade
São Paulo / Santos – Driblando a morosidade do governo federal para destravar as licitações de portos, empresas como o grupo CMA CGM e a Hamburg Süd ampliaram investimentos no Brasil apostando na competividade no médio prazo. Na contramão do mercado, a Companhia Docas, responsável por repassar investimento do governo para infraestrutura nos terminais, aportou apenas 34,1% dos recursos previsto em 2014.
“Aparentemente, quem menos acredita no avanço da competividade brasileira dentro do setor portuário é o governo, que nos últimos 14 anos investiu, em média, 27,5% do liberado para infraestrutura nos terminais”, argumentou o engenheiro marítimo e consultor para o mercado portuário, Marcelo Ramos Abreu.
Segundo dados do Portal da Transparência, do governo federal, em 2014 foram liberados, exclusivamente para portos, R$ 1,43 bilhão, mas o repasse concluído foi de apenas R$ 487,67 milhões. “34,1% ainda é uma fatia maior do que a vista em outros anos. Em 2013, o aporte foi de apenas 28,3%, e no ano anterior somou 27,5% do previsto”, completou o consultor.
Na visão do diretor-presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários, Wilen Manteli, essa diferença entre o aprovado e o realizado nos investimentos no setor se dá também pela falta de autonomia da Companhia Docas, que vê os investimentos travados nas diferentes esferas do poder, como o Ministério dos Transportes e a Secretaria de Portos. “Além disso, os empresários não conseguem investir, porque não têm previsibilidade de regras e segurança jurídica para isso”, disse.
Pé no acelerador
Enquanto as mudanças estruturais nos terminais portuários não saem, as empresas seguem investindo no Brasil. Exemplo disso, o grupo CMA CGM, anunciou o início das operações do navio Tigris no Brasil. O navio, tem nove andares e capacidade de transporte de carga em contêiner de 10,6 mil Teus, maior embarcação do gênero a operar na costa brasileira.
De acordo como diretor de novos negócios da CMA CGM no Brasil, Laurent Calvino, a escala inaugural do navio pode ser considerada um passo em direção ao desenvolvimento do setor portuário no País e é com ele que a empresa espera crescer 8% este ano, otimizando a operação e diminuindo os gases poluentes. “Na Europa e nos EUA nós precisamos reduzir as emissões a cada dia. A solução para isso é ter navios maiores”.
A operadora portuária Libra Terminais, braço do Grupo Libra, será responsável pela chegada da megaembarcação ao Porto de Santos. Segundo o presidente Marcelo Araújo, o grupo investiu R$ 160 milhões no terminal da baixada santista nos últimos três anos, com perspectiva de investir mais. “Parte dos próximos passos do Libra no Porto de Santos são a realocação da linha férrea que corta parte dos terminais”.
Outro assunto que deve ser tratado em breve é a concessão para o Terminal 37, operado pela empresa, que vence em setembro. “Nem nós nem o governo sinalizamos que isso [a renovação] será um problema.”
Com relação a aquisições e ampliações dos contratos nos terminais portuários, o executivo sinaliza que ainda é cedo para falar de novos mercados, mas aguarda a posição do governo para tomar a decisão de entrar em certames. “O foco são as regiões Sul e Sudeste, mas também estamos de olhos no Nordeste”. Hoje a empresa opera em Santos e no Rio de Janeiro.
Questionado sobre a morosidade do governo para destravar as concessões, Araújo rebate: “É um plano ambicioso, são mais de 70 terminais. O governo precisa dar segurança aos investidores antes de conceder”.
A norte-americana Archer Daniels Midland (ADM) também quer investir em seus terminais nos portos de Santos (SP) e Barcarena (PA) este ano.
Segundo o presidente da ADM América do Sul, Valmor Schaffer, a partir da renovação da concessão portuária – firmada em janeiro – a perspectiva é seguir investindo no porto de santos. Além disso, o executivo apontou a projeção de investir no porto de Barcarena, no Pará.
Este ano, a ADM informou que vai quadruplicar a capacidade anual do terminal em Barcarena, de 1,5 milhão de toneladas para seis milhões de toneladas. O terminal privado será operado através de uma joint venture formada pela ADM e a gigante Glencore.
Cabotagem
Quem também trouxe aos portos brasileiros um plano ambicioso é a alemã Hamburg Süd, que anunciou investimentos de R$ 700 milhões para incrementar o transporte de cabotagem. O aporte se deu com aquisição de novos navios para a subsidiária brasileira, Aliança.
Ao todo são seis navios porta contêineres, com capacidade entre 3,8 mil Teus e 4,8 mil teus, somando 11 embarcações na costa brasileira. Segundo o presidente da Hamburg Süd, Julian Thomas, a cabotagem cresceu 35% no ano passado e representou 20% da movimentação da empresa, enquanto o transporte de cargas importadas avançou 2% e o de exportadas, 5%. Para este ano, a expectativa é que o transporte entre portos nacionais aumente mais 15%.
“Este ainda não é um mercado maduro, mas esse modal de transporte está ganhando o seu lugar na cadeia de logística dos clientes”, disse ele. Hoje, a cabotagem representa cerca de 10% da movimentação de cargas feitas no Brasil.
Na visão de Manteli, o aumento de aporte no setor de cabotagem podia ser mais rápido, visto que há interesse dos operadores logístico, mas segundo a ABTP, a maioria dos portos não tem espaço dedicado ao modal.