O momento é delicado no mercado internacional de café, diante dos baixos estoques no Brasil e no mundo. Segundo o diretor sócio da Porto de Santos Comércio e Exportação, Nélson Carvalhaes, a situação de ajuste na oferta em relação à demanda no mundo é muito delicada e qualquer problema com a safra 2010 do Brasil – que se espera seja uma safra boa depois da produção pequena que será colhida em 2009 – vai gerar uma grande complicação.
Segundo Carvalhaes, que falou à Agência Safras durante a Fenicafé 2009, realizada em Araguari/MG, os fundamentos no mercado de café são fortemente positivos, altistas. Os estoques no Brasil estão muito baixos, devendo encerrar a temporada 2008/09 (julho/junho) em cerca de 8 milhões de sacas.
Se o Brasil produzir em 2009 em torno de 38 milhões de sacas, com as oito milhões de sacas de estoque terá uma disponibilidade na temporada 2009/10 de 46 milhões de sacas. Isso mal dá para a necessidade do Brasil diante de um consumo interno de 18 milhões de sacas e uma exportação em torno de 28 milhões. “Vamos acabar com os estoques”, afirma Carvalhaes. Por isso, ele acredita numa recuperação nos preços internacionais, apesar da crise americana e mundial.
Não fosse ela, as cotações já estariam subindo pelos fundamentos positivos. Além da safra pequena este ano no Brasil, Colômbia e países da América Central estão diante de produções prejudicadas. A crise financeira no mundo tem causado turbulência nas bolsas e prejudicado o café, entre outras commodities agrícolas. No entanto, começa o café através da Bolsa de Nova York a dar sinais de se desatrelar um pouco dessas instabilidades no mercado financeiro, buscando suporte nos fundamentos, avalia Carvalhaes.
Ainda em relação aos fundamentos do mercado, Carvalhaes diz que os estoques mundiais devem estar em torno de apenas 30 milhões de sacas, o que dá apenas para 3 meses de consumo no mundo. “Nunca houve estoques tão baixos”, comenta. Se houver o alongamento da dívida americana, segundo Carvalhaes, o dólar deve cair no mercado financeiro e isso pode puxar para cima as cotações internacionais do produto, pondera o diretor da Porto de Santos Comércio e Exportação.
Nas condições atuais de altos custos para os produtores e preços do café relativamente baixos, opina Carvalhaes, “não há estímulo para tratos culturais ou para aumento do parque cafeeiro”. “Isso é muito preocupante, já que o Brasil representa de 30% a 40% da produção mundial”, enquanto o consumo segue crescendo. “Ou os preços melhoram, e criam condições do produtor investir, ou o custo para o mercado de café será muito alto adiante”, alerta.
A Porto de Santos Comércio e Exportação é associada da torrefadora italiana illycaffè, sendo responsável no Brasil pela compra dos cafés de alta qualidade do país utilizados pela torrefação. Segundo Carvalhaes, a illycaffè pagou em 2008, no período de junho a outubro, um ágio médio na compra de cafés especiais no Brasil de R$ 90,00 por saca acima do preço de mercado.