SXC Produtos orgânicos: mercado brasileiro é estimado em US$ 250 milhões
Em apenas sete meses – de julho de 2006 a janeiro de 2007 -, as exportações de produtos orgânicos brasileiros superaram US$ 5,5 milhões, ou 9,5 mil toneladas, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Trata-se da primeira referência oficial para o comércio internacional desses produtos, baseada na criação de um registro para orgânicos no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), em 2006.
Segundo o MDIC, de 500 empresas brasileiras produtoras de orgânicos, metade teria certificação para colocar seus produtos no exterior. Ao contrário da expectativa de que países da União Européia dominariam as importações, o registro revelou os EUA como primeiro importador (41,2%), seguido da Holanda (29,5%); Canadá (9,9%); Japão (9%); Reino Unido (4%); França (2,4%); Itália (1,1%); Suécia (0,9%); Dinamarca (0,5%); e países da Ásia e Oceania, em menor proporção.
Os dados também mostram que açúcar orgânico é produto campeão, com 66,68% das exportações (US$ 3,7 milhões), seguido da manteiga, gordura e óleos, com 7,91% (US$ 438,9 mil); café, com 6,78% (US$ 376,7 mil); cacau com 3,44% (US$ 190,9 mil) e outros produtos.
Entre as fontes consultadas pelo Valor é unânime a opinião de que os números são subdimensionados. Por enquanto, o registro para exportação é voluntário. “Ao inscrever como orgânicos seus produtos no Siscomex, uma empresa participante do Organics-Brasil viu que a polícia do porto ainda desconhecia a regra. Demorou até que tudo se esclarecesse”, recorda Ming Liu, gestor deste projeto idealizado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Instituto Paraná de Desenvolvimento (IPD) e Agência de Promoção de Exportações e Investimento (Apex-Brasil), para fomentar negócios com orgânicos no mercado externo.
Segundo Liu, as 30 associadas ao Organics-Brasil exportaram US$ 33,5 milhões em 2006. Mesmo que predominem produtos primários, a tendência é processar, para agregar valor. “Em 2006, três novas indústrias – Florestas, Suya e Reserva Folio – colocaram cosméticos orgânicos no mercado internacional. Lá fora, pet food orgânica faz sucesso. Com selo orgânico, roupas, brinquedos e mesmo jóias com sementes nativas teriam potencial”.
A Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam) estima que o mercado mundial do setor alcançou US$ 30 bilhões em 2006. Com 842 mil hectares para cultura orgânica, o Brasil é o oitavo em área no ranking da Ifoam. Chegaria ao segundo, se fossem incluídas áreas de extrativismo, ou 5,7 milhões de hectares, segundo o governo brasileiro.
Sem números oficiais, o mercado orgânico brasileiro é estimado em US$ 250 milhões, segundo algumas projeções, informa Luiz Carlos Rabelatto dos Santos, consultor em comercialização da GTZ (agêcia de fomento alemã), que acompanha programas de agricultura familiar no Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA). Cerca de 70% seriam exportados. Mas as estatísticas oficiais só incluem produtos com certificação de terceira parte, em que uma certificadora contratada faz a auditagem.
Baseado em dados do próprio MDA, Santos conta que mais de 2 milhões de pequenas propriedades da agricultura familiar não usam insumos químicos. As vendas são diretas ao consumidor. No Brasil, também vigora o sistema da certificação participativa, que prioriza o mercado local e regional. É o caso da Rede Ecovida, na região Sul, em que 200 grupos de agricultores, 20 ongs, 15 organizações de consumidores e 10 comercializadoras, organizados em 23 núcleos regionais, têm um processo próprio de validação do cultivo. Só esta rede teria comercializado R$ 33,3 milhões em produtos orgânicos em 2003. “Fizemos um estudo que localizou 140 feiras de orgânicos na região. Mas os grupos também exportaram R$ 7 milhões. E cresce o mercado institucional: uma das opções as merendas escolares orgânicas, no nível municipal”, diz.
Os três sistemas de produção entrarão nas estatísticas se for aprovada a regulamentação da Lei 10.831/03, que dita as regras do setor. Debatido há quase quatro anos, o texto está na Casa Civil da Presidência da República. “A aprovação é urgente, para dar credibilidade aos nossos orgânicos”, avisa Maria Beatriz Costa, coordenadora da BioFach América Latina, versão local da maior feira internacional de negócios do setor.
No mercado interno, diz ela, a parceria com a gastronomia favorece a expansão do setor de orgânicos. Entre os entraves para o crescimento, ela destaca o desconhecimento do consumidor e dificuldades logísticas dos pequenos para colocarem seus produtos no mercado. Mas os ventos são favoráveis. Em fevereiro, durante feira mundial na Alemanha, ela notou a tendência de valorizar a produção local. “Responderemos a isso, com rodadas de negócio regionais”, promete.