10/02/2014
Emiko Terazono e Seb Morton-Clark
Após três anos consecutivos de quedas, 2014 trouxe consigo o tão necessário alívio aos cafeicultores da América Latina e da África. Preocupações climáticas no Brasil, maior produtor mundial, puxaram para cima o preço do café arábica em 20%, mesmo assim para um patamar no qual muitos produtores mal conseguem contabilizar algum lucro. Mas há um nicho no qual a preocupação é bem menor – o de produtos premium, de qualidade superior.
Comparados aos vinhos finos, esses grãos estão conseguindo ágios expressivos e têm sido comercializados por valores cerca de três vezes superiores aos preços de mercado nos leilões. Embora constitua uma pequena parcela do mercado total de café, o segmento premium segue em crescimento acelerado, em um momento em que os consumidores buscam café de melhor sabor, além de uma “ligação” com as propriedades rurais responsáveis pelos grãos.
“Os baristas e as cafeterias independentes da moda estão influenciando o que as pessoas bebem”, diz Jonny Forsyth, da empresa de pesquisa de consumo Mintel. Os consumidores querem, cada vez mais, conhecer o “terroir” – as características especiais da geografia, da estrutura geológica e do clima do lugar de origem – e os grãos “Grand Cru”.
Em decorrência disso, esse “micromercado” – responsável por menos que 20% do mercado varejista de café, que movimenta US$ 80 bilhões por ano – foi descomoditizado”, diz Andrea Illy, diretor do grupo italiano que leva seu sobrenome. De acordo com ele, os supostos benefícios à saúde proporcionados pelo café e a maior ênfase em padrões de vida melhores e em sustentabilidade ambiental por meio da certificação criaram “uma imagem muito boa e um dinamismo” que contribuem para a expansão dos cafés premium.
Em dezembro a Café Imports, importadora americana de café premium que abastece torrefadoras sofisticadas da América do Norte e da Europa, pagou nada menos que US$ 2,50 a libra-peso (453,59 gramas) pelo café de alta qualidade produzido por cafeicultores da região montanhosa de Cauca, no sudoeste da Colômbia. A empresa ofereceu US$ 515) por lote de 125 quilos, mais que o dobro dos preços – mais deprimidos – que vinham sendo praticados na época na bolsa de Nova York.
“Perguntamos: como podemos conseguir a melhor xícara de café e qual é o preço que os produtores estão dispostos a aceitar para adotar todos os passos e recursos adicionais necessários para obter um café de primeira qualidade?”, lembra Noah Namowicz, diretor de vendas internacionais da Café Imports, sobre o raciocínio que fundamentou a iniciativa da companhia, atualmente em seu segundo ano de operação.
O café premium de algumas regiões do Quênia, também conhecido pela alta qualidade, muitas vezes recebe em leilões lances de valor três vezes maior que o de Nova York, enquanto traders dizem que os cafeicultores da América Central também estão recebendo ágios maciços no mercado futuro de arábica. O crescimento do segmento está sendo alavancado atualmente pelos consumidores americanos de café, principalmente os da Costa Oeste, onde teve origem esse mercado premium.
“Os consumidores querem saber como o café é cultivado, de onde vem, bem como o impacto social do café”, afirma Luis Fernando Samper, diretor de marketing da Federação Colombiana de Produtores de Café. O mercado de porções individuais também está impulsionando a “premiumização” do café. A divisão Nespresso da Nestlé, por exemplo, oferece 30% a 40% a mais que a cotação de Nova York pelos grãos que usa em suas cápsulas.
O que surpreende no mercado de cafés de alta qualidade é que, ao contrário dos produtos de marcas de luxo e dos vinhos finos, a demanda nos mercados emergentes ainda não alcançou o patamar verificado em países desenvolvidos. Isso porque os novos consumidores de café de países como Rússia, China e Indonésia ainda preferem o café solúvel misturado com leite em pó e açúcar.
O mercado do café robusta, de qualidade inferior e empregado para a produção de café solúvel, vem sendo sustentando por essa demanda, e os preços mantiveram-se firmes apesar das supersafras do Vietnã, um dos principais países produtores da espécie.
Isso fez com que o mercado de café, dividido pelos especialistas, a grosso modo, em três segmentos – o mercado de primeira, que responde por cerca de 20%, a faixa intermediária, responsável por 43%, e o segmento de café solúvel – registrasse crescimento nas faixas mais alta e mais baixa, enquanto a intermediária ficou estagnada.
Illy diz que a conversão de novos consumidores ao café de qualidade máxima não acontece da noite para o dia. Ele afirma que a China, por exemplo, “precisa ser cultivada como uma planta pequenininha”. Nos novos mercados “é preciso fazer mais um trabalho missionário em introduzir a cultura do café… conquistar os consumidores um por um e deixar que se apaixonem pelo café, pela experiência, a cultura, o sabor”. (Tradução de Rachel Warszawski)
10/02/2014
Após três anos consecutivos de quedas, 2014 trouxe consigo o tão necessário alívio aos cafeicultores da América Latina e da África. Preocupações climáticas no Brasil, maior produtor mundial, puxaram para cima o preço do café arábica em 20%, mesmo assim para um patamar no qual muitos produtores mal conseguem contabilizar algum lucro. Mas há um nicho no qual a preocupação é bem menor – o de produtos premium, de qualidade superior.
Comparados aos vinhos finos, esses grãos estão conseguindo ágios expressivos e têm sido comercializados por valores cerca de três vezes superiores aos preços de mercado nos leilões. Embora constitua uma pequena parcela do mercado total de café, o segmento premium segue em crescimento acelerado, em um momento em que os consumidores buscam café de melhor sabor, além de uma “ligação” com as propriedades rurais responsáveis pelos grãos.
“Os baristas e as cafeterias independentes da moda estão influenciando o que as pessoas bebem”, diz Jonny Forsyth, da empresa de pesquisa de consumo Mintel. Os consumidores querem, cada vez mais, conhecer o “terroir” – as características especiais da geografia, da estrutura geológica e do clima do lugar de origem – e os grãos “Grand Cru”.
Em decorrência disso, esse “micromercado” – responsável por menos que 20% do mercado varejista de café, que movimenta US$ 80 bilhões por ano – foi descomoditizado”, diz Andrea Illy, diretor do grupo italiano que leva seu sobrenome. De acordo com ele, os supostos benefícios à saúde proporcionados pelo café e a maior ênfase em padrões de vida melhores e em sustentabilidade ambiental por meio da certificação criaram “uma imagem muito boa e um dinamismo” que contribuem para a expansão dos cafés premium.
Em dezembro a Café Imports, importadora americana de café premium que abastece torrefadoras sofisticadas da América do Norte e da Europa, pagou nada menos que US$ 2,50 a libra-peso (453,59 gramas) pelo café de alta qualidade produzido por cafeicultores da região montanhosa de Cauca, no sudoeste da Colômbia. A empresa ofereceu US$ 515) por lote de 125 quilos, mais que o dobro dos preços – mais deprimidos – que vinham sendo praticados na época na bolsa de Nova York.
“Perguntamos: como podemos conseguir a melhor xícara de café e qual é o preço que os produtores estão dispostos a aceitar para adotar todos os passos e recursos adicionais necessários para obter um café de primeira qualidade?”, lembra Noah Namowicz, diretor de vendas internacionais da Café Imports, sobre o raciocínio que fundamentou a iniciativa da companhia, atualmente em seu segundo ano de operação.
O café premium de algumas regiões do Quênia, também conhecido pela alta qualidade, muitas vezes recebe em leilões lances de valor três vezes maior que o de Nova York, enquanto traders dizem que os cafeicultores da América Central também estão recebendo ágios maciços no mercado futuro de arábica. O crescimento do segmento está sendo alavancado atualmente pelos consumidores americanos de café, principalmente os da Costa Oeste, onde teve origem esse mercado premium.
“Os consumidores querem saber como o café é cultivado, de onde vem, bem como o impacto social do café”, afirma Luis Fernando Samper, diretor de marketing da Federação Colombiana de Produtores de Café. O mercado de porções individuais também está impulsionando a “premiumização” do café. A divisão Nespresso da Nestlé, por exemplo, oferece 30% a 40% a mais que a cotação de Nova York pelos grãos que usa em suas cápsulas.
O que surpreende no mercado de cafés de alta qualidade é que, ao contrário dos produtos de marcas de luxo e dos vinhos finos, a demanda nos mercados emergentes ainda não alcançou o patamar verificado em países desenvolvidos. Isso porque os novos consumidores de café de países como Rússia, China e Indonésia ainda preferem o café solúvel misturado com leite em pó e açúcar.
O mercado do café robusta, de qualidade inferior e empregado para a produção de café solúvel, vem sendo sustentando por essa demanda, e os preços mantiveram-se firmes apesar das supersafras do Vietnã, um dos principais países produtores da espécie.
Isso fez com que o mercado de café, dividido pelos especialistas, a grosso modo, em três segmentos – o mercado de primeira, que responde por cerca de 20%, a faixa intermediária, responsável por 43%, e o segmento de café solúvel – registrasse crescimento nas faixas mais alta e mais baixa, enquanto a intermediária ficou estagnada.
Illy diz que a conversão de novos consumidores ao café de qualidade máxima não acontece da noite para o dia. Ele afirma que a China, por exemplo, “precisa ser cultivada como uma planta pequenininha”. Nos novos mercados “é preciso fazer mais um trabalho missionário em introduzir a cultura do café… conquistar os consumidores um por um e deixar que se apaixonem pelo café, pela experiência, a cultura, o sabor”. (Tradução de Rachel Warszawski)
Fonte: Emiko Terazono e Seb Morton-Clark, Valor Online